O Estado de São Paulo, n. 45266, 23/09/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

Barroso libera para análise ação sobre candidatura avulsa

Ministro do Supremo conclui relatório que discute a possibilidade de pessoas sem filiação a partidos políticos concorrerem em eleições

Por: Breno Pires Rafael Moraes Moura

 

Breno Pires

Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Crítico do sistema partidário nacional, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, liberou para julgamento uma ação que discute a possibilidade de pessoas sem filiação a partidos políticos concorrerem em eleições. Ele concluiu o relatório de uma ação que chegou ao Supremo em junho sobre o tema. Cabe à presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, decidir quando deverá entrar na pauta de julgamento.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, apesar de ainda não haver uma data prevista, a presidência do STF marcará o julgamento a tempo de valer já para as eleições de 2018. O prazo que o Congresso tem para modificar o sistema eleitoral termina em 7 de outubro, um ano antes da disputa do ano que vem. Mas diversas decisões já foram proferidas pelo Supremo e cumpridas após o prazo de modificações no Legislativo.

A ação é de autoria do advogado Rodrigo Mezzomo, que lançou uma candidatura independente à prefeitura do Rio em 2016, mas teve o registro negado em todas as instâncias, incluindo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tem prevalecido até agora o entendimento de que a Constituição exige a filiação partidária para alguém ser elegível.

No TSE, os ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux e Rosa Weber votaram contra o recurso de Mezzomo, rejeitado por unanimidade. O recurso extraordinário com agravo (nome do tipo da ação) chegou ao Supremo em junho, em meio à discussão no Legislativo sobre reforma política. Inicialmente, Fux foi sorteado o relator no STF, mas apontou necessidade de redistribuição por já ter julgado o caso no TSE. As discussões no Congresso sobre a reforma política não incluem este tema.

Pacto. O autor da ação alega que é preciso considerar o Pacto de São José, firmado na Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 e ratificado pelo Brasil em 1992. O pacto prevê que “todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportunidades: (...) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país”.

Barroso, que tem se manifestado frequentemente sobre a necessidade de uma reforma política ampla no Brasil, não adian- tou que posicionamento deverá adotar no julgamento. Mas, em ação anterior sobre outro tema relacionado ao sistema eleitoral, afirmou que a Constituição não institui uma “democracia de partidos”. “Não se pretende negar o relevantíssimo papel reservado aos partidos políticos nas democracias representativas modernas. Porém, não parece certo afirmar que o constituinte de 1988 haja instituído uma ‘democracia de partidos’”, disse, em julgamento em 2015, no qual o STF decidiu que a perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica a candidatos eleitos pelo sistema majoritário (prefeito, governador, presidente e vices).

Após a ação chegar ao STF, a União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf), o Movimento Brasil Livre (MBL), o Clube dos Advogados do Estado do Rio e o jurista Modesto Carvalhosa pe- diram para ingressar na ação, cada um, na condição de amicus curiae (parte interessada), para trazer elementos que reforçam o pedido da ação. Barroso ainda não decidiu se autoriza ou não.

A Unajuf já teve negado no STF o seguimento de ação em que busca a garantia do direito dos magistrados ao exercício de atividade político-partidária.

Carvalhosa já mostrou interesse em lançar candidatura avulsa à Presidência. “A ausência de filiação não pode impedir o exercício de um direito político ou justificar qualquer espécie de restrição a direitos e garantias fundamentais”, disse.

 

- Direito político

“A ausência de filiação não pode impedir o exercício de um direito político ou justificar qualquer espécie de restrição a direitos.”

Modesto Carvalhosa

 

 

 

 

 

Juiz permite que advogado sem filiação concorra

O juiz Hamilton Gomes Carneiro, da 132ª Zonal Eleitoral de Goiás, em Aparecida de Goiânia, concedeu ao advogado Mauro Junqueira o direito de se candidatar a qualquer cargo eletivo no pleito de 2018 sem estar filiado a um partido político.

Na sentença divulgada ontem, o juiz afirma que dois tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário têm peso de emenda à Constituição e garantem a legalidade das candidaturas indepen- dentes – ou avulsas – nas quais o candidato não tem filiação partidária. “O cidadão não pode ficar à mercê dos dirigentes partidários e partidos políticos em suas regras que excluem àquelas pessoas ditas independentes”, diz Carneiro na decisão.

Uma das autoras da ação é a União Nacional dos Juízes Federais (Unajuf), que deflagrou uma campanha em defesa das candidaturas avulsas. “A decisão abre espaço para a mudança de nível da política brasileira”, disse Eduardo Cubas, presidente da Unajuf. Segundo Cubas, esse é o primeiro caso no Brasil de uma candidatura avulsa com aval da Justiça. / R.G.

 

 

 

 

 

PT suspende Palocci após ex-ministro incriminar Lula

Ex-titular da Fazenda, que falou em ‘pacto de sangue’ do ex-presidente com a Odebrecht, foi afastado por 60 dias
Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

 

    O diretório nacional do PT decidiu ontem suspender por 60 dias o ex-ministro Antonio Palocci das atividades partidárias. O motivo é o depoimento do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil ao juiz Sérgio Moro.

     

     

    No início do mês, ao ser interrogado em ação penal na qual é acusado de receber propinas da Odebrecht por contratos com a Petrobrás, Palocci disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha um “pacto de sangue” com a empreiteira.

    Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na mesma ação. “Ao mentir, sem apresentar provas e seguindo um roteiro preestabelecido em seu depoimento na 13.ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba, no último dia 6 de setembro, Palocci colocou-se deliberadamente a serviço da perseguição político-eleitoral que é movida contra a liderança popular de Lula e o PT. Desta forma, rompeu seu vínculo com o partido e descomprometeu-se com a sua militância”, diz a resolução do PT aprovada ontem.

    Embora tenham ratificado a suspensão, integrantes da direção petista dizem, de forma reservada, que a punição é inócua pois Palocci está preso desde setembro do ano passado e afastado há anos das funções partidárias.

    Além disso, na segunda-feira o diretório municipal do PT de Ribeirão Preto, onde o ex-ministro é filiado, instaurou uma comissão de ética para apurar o caso de Palocci. Na prática, o PT de Ribeirão deu início ao processo de expulsão do ex-ministro.

    “Como abriram uma comissão de ética para ele em Ribeirão Preto, usamos o estatuto e suspendemos por 60 dias”, disse a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

    Segundo a senadora, ao contrário do PT de Ribeirão Preto, que no primeiro momento chegou a dizer que Palocci havia acusado Lula “sob tortura”, o ex-ministro mentiu para, em troca, obter a redução da pena de 12 anos a qual foi condenado. “Não acho que agiu sob tortura”, afirmou Gleisi.

    Questionada porque o PT não pune os filiados do partido acusados de corrupção, a presidente do partido disse que estes petistas ainda não foram julgados em última instância.

     

    - Estatuto

    “Como abriram uma comissão de ética para ele em Ribeirão Preto, usamos o estatuto e suspendemos por 60 dias.”

    Gleisi Hoffmann

    PRESIDENTE NACIONAL DO PT

     
     
     
     
     
     

    Em resolução, sigla diz que candidatura é ‘irrevogável’

     

     

    Frente às especulações externas e internas em torno da necessidade de um plano B para o caso de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser impedido de disputar as eleições de 2018, o Diretório Nacional da sigla aprovou ontem resolução política dizendo que a candidatura de Lula é “irrevogável” e “irreversível”.

     

    “Já decretaram a morte política de Lula nas eleições que ele perdeu, na farsa política do mensalão, no golpe do impeachment, nas delações mentirosas de Del- cídio Amaral e de empresários presos. E sempre erraram”, diz o texto. O objetivo da resolução é abafar os comentários sobre as alternativas do partido caso o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) confirme a condenação imposta pelo juiz Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem e Lula seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

    Antes da reunião, a corrente minoritária Articulação de Esquerda chegou a propor que o PT realize um plebiscito interno para decidir qual posição adotará em 2018 caso Lula seja barrado. A proposta foi rejeitada.

    Além disso, o PT aprovou a intensificação da campanha “Lula é inocente”.

     

     

     

     

     

    STF autoriza investigar Lindbergh

     

    O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, autorizou ontem a abertura de inquérito contra o senador Lindbergh Farias (PTRJ) e outras três pessoas para investigar indícios de corrupção passiva. O caso é um desdobramento da Operação Lava Jato e tramita sob segredo de Justiça no STF desde novembro de 2016.

    Em nota, Lindbergh disse que foi informado pela imprensa sobre a abertura do inquérito. “Tenho, no entanto, absoluta certeza que este inquérito terá como destino o seu arquivamento”.

     

     

     

     

     

    Tribunal nega recurso de Okamotto

     

     

    O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) indeferiu liminar em habeas corpus impetrado pela defesa do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que requeria a anulação da sentença no processo que apurou a propriedade do apartamento triplex no Guarujá, no litoral paulista. Okamotto foi absolvido pelo juiz Sérgio Moro do crime de lavagem de dinheiro. Mesmo assim, sua defesa recorreu da sentença.

     

    A defesa de Okamotto afirma “rechaçar” manifestações “incontidas” do magistrado e acusa Moro de agir com “parcialidade manifesta”.