Correio braziliense, n. 19871, 18/10/2017. Política, p. 04.

 

Ataques diretos a Janot na CPMI

Alessandra Azevedo

18/10/2017

 

 

PODER EM CRISE »Procurador Ângelo Goulart, preso sob suspeita de receber mesada para vazar detalhes da Operação Greenfield, classifica o ex-chefe do MPF como “arqueiro inconsequente”

 

 

O procurador da República Ângelo Goulart Villela, suspeito de ter recebido uma mesada de R$ 50 mil para vazar informações sigilosas da Operação Greenfield aos irmãos Batista, chamou o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de “arqueiro inconsequente”. Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as delações da JBS, o procurador, que foi preso em maio e colocado em liberdade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em agosto, acusou Janot de “falsear a verdade” ao fundamentar seu pedido de prisão.

Goulart atacou Janot em diversas oportunidades durante as mais de seis horas de depoimento na CPMI. Em uma delas, afirmou que o ex-PGR atuou de forma política para impedir que o presidente Michel Temer indicasse Raquel Dodge para substituí-lo no comando do Ministério Público Federal (MPF). “Não há a menor chance de Rodrigo Janot não ter atuado de forma política para derrubar o presidente da República, independentemente da procedência ou não da acusação, com vista a impedir que a doutora Raquel Dodge fosse naquele momento nomeada”, disse. Dodge, que é rival de Janot, era conhecidamente a preferida de Temer para assumir a PGR, o que significa que, para barrá-la, seria preciso “derrubar o presidente” — preocupação “clara, límpida e cristalina” do então PGR, afirmou o procurador.

“Ele sempre disse que tinha um crime em andamento, por isso tinha que dar a imunidade. Isso é mentira. A pressa tinha outro motivo”, afirmou Goulart. A razão, segundo ele, teria sido a negociação feita com os irmãos Batista, que delatariam o esquema de propinas, com menção ao presidente Temer. O procurador estimou em 90% a probabilidade de que Janot soubesse das delações antes de elas terem sido oficializadas. “Diria que é de 90% a probabilidade que doutor Janot tivesse conhecimento da iniciativa, ainda que não de forma pormenorizada, mas das tratativas com a JBS. Chega a ser infantil, ingênuo, imaginar que com um candidato a colaborador que se predispõe a entregar informações, ou provas, sobre personalidades tão importantes do país, o assessor não levasse o caso ao PGR”, ponderou o procurador.

 

Infiltrado

Goulart negou a acusação de ter agido em favor da JBS para atrapalhar as colaborações premiadas de executivos da empresa, o que levou à sua prisão na Operação Patmos da Polícia Federal, em maio. “Como eu estaria impedindo a colaboração se a própria colaboração, no momento da minha prisão, já estava feita e homologada, já era um ato jurídico perfeito?”, questionou. Segundo ele, Janot o entregou à prisão com o objetivo de deixar claro que estava disposto até a “cortar na própria carne” em nome do combate à corrupção. O objetivo seria manter o papel de “queridinho da mídia” e “de super-herói”, criticou.