O globo, n.30724 , 19/09/2017. ECONOMIA, p.21

BNDES VAI RECORRER À CVM E À ARBITRAGEM CONTRA OS BATISTA 

JOÃO SORIMA NETO

19/09/2017

 

 

Após troca no comando, JBS perde R$ 955 milhões em valor de mercado

Um dia depois da nomeação do patriarca da JBS, José Batista Sobrinho, de 84 anos, para a presidência da empresa, o BNDES, principal acionista minoritário da empresa, informou que vai recorrer à Câmara Arbitral e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por entender que a família Batista deve ser afastada do comando da companhia. O banco indicou ontem seus novos representantes no Conselho de Administração da JBS. A escolha de José Batista teve impacto negativo nas ações da JBS, que recuaram 3,95% a R$ 8,50, com perda de R$ 955 milhões no valor de mercado da empresa, avaliada agora em R$ 23,19 bilhões. Desde janeiro, as perdas dos papeis chegam a 25,4%.

Em nota, o BNDES reiterou a posição de que a família Batista deve deixar a direção da JBS, e que a companhia precisa de gestão profissional. O texto mantém as críticas feitas por Paulo Rabello de Castro, presidente do banco, às circunstâncias da reunião do Conselho de Administração, realizada no sábado à noite, para a escolha do patriarca dos Batista, conhecido como Zé Mineiro.

“A crítica do presidente se restringe às circunstâncias da reunião do conselho, convocada às pressas mesmo diante da vacância do cargo ter ocorrido ainda na manhã do último dia 13. Essa reunião foi feita fora de um dia útil, revestida de todos os detalhes de excepcionalidade”, diz o texto distribuído pelo BNDES.

Na nota, o presidente do banco não questiona o mérito do voto da sua representante no Conselho de Administração, a advogada Claudia Santos, que, na reunião de sábado, aprovou a escolha do novo presidente. A advogada renunciou ao conselho no início do mês, mas concordou em permanecer no posto até a indicação de um substituto. O outro assento do banco no colegiado já estava vago desde a renúncia de Mauricio Luchetti, em 30 de agosto.

“Ela atua com o devido grau de independência prescrito pelas melhores práticas de governança”, diz o banco sobre a conduta de sua conselheira.

 

BANCO INDICA DOIS NOVOS CONSELHEIROS

Para Paulo Rabello, as ações dos controladores da JBS revelam evidências do conflito de interesses já apontado pelo banco junto à CVM e ao Judiciário. O BNDES insiste na profissionalização da gestão da JBS, com uma ampla reformulação da diretoria executiva e do conselho de administração, diz o texto.

“O que queremos na JBS é a boa governança, assim como exigimos de todas as empresas em que o BNDES tem participação acionária. Essa é a condição básica para receber apoio financeiro do banco. A JBS está descumprindo uma obrigação nessa relação, que é ter governança impecável”, diz a nota.

O banco informou que Paulo Rabello solicitou à área jurídica da instituição que mantenha as providências para que a Câmara Arbitral ou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se pronuncie sobre as divergências com a companhia. “A CVM é quem pode arbitrar”, diz o texto.

A professora da Fundação Getulio Vargas Viviane Muller Prado, especialista em direito societário e de mercado de capitais, entende que o BNDES pode recorrer à CVM sobre o conflito de acionistas, mas que dificilmente vai conseguir anular a deliberação do conselho.

— Já vi na CVM questionamentos de ilegalidades aprovadas em assembleias de acionistas que prejudiquem o investidor. Mas não decisões do Conselho de Administração. Nesse caso, acredito que o BNDES vai ter de achar outro ponto para questionar — disse Viviane.

O BNDES definiu ontem seus dois novos representantes no Conselho de Administração da JBS: Cledorvino Belini, expresidente da Fiat Chrysler na América Latina, e do empresário Roberto Penteado de Camargo Ticoulat, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo.

Em fato relevante divulgado ontem, a JBS informa que José Batista Sobrinho criou uma nova estrutura de gestão. Gilberto Tomazoni, que era presidente global de operações, ocupará o cargo de diretor global de Operações.

Já Wesley Batista Filho, filho de Wesley Batista, preso na semana passada suspeito de manipulação do mercado, foi indicado para a função de presidente das operações da JBS na América do Sul. O executivo André Nogueira foi mantido como presidente da JBS USA, e responsável pelas operações na América do Norte e na Austrália. Eles vão se reportar a Tomazoni.

Em nota, a JBS rebateu as acusações de Paulo Rabello, de que a reunião do conselho da empresa foi convocada “às pressas” e ocorreu na “calada da noite”. Segundo a empresa, a reunião ocorreu com a “presença da totalidade dos conselheiros de administração que, no exercício de sua competência, entre outras providências, elegeram o novo diretor-presidente”. O texto destaca que a presença de todos os conselheiros tornaria dispensável até mesmo a convocação prévia.