Advogado deixa a defesa de Loures, que avalia delação

Fausto Macedo e Luiz Vassallo

30/05/2017

 
 
GOVERNO SOB INVESTIGAÇÃO / Criminalista alega razões de ‘foro íntimo’; novo defensor do ex-assessor de Temer não descarta ‘radicalmente’ a possibilidade de colaboração

O advogado José Luís de Oliveira Lima deixou ontem a defesa do deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). O criminalista alegou questões de “foro íntimo” ao renunciar à defesa do peemedebista. Loures é ex-assessor e homem de confiança do presidente Michel Temer.

Ele foi flagrado em ação controlada da Polícia Federal recebendo uma mala de dinheiro com R$ 500 mil do diretor de Relações Institucionais da J&F (holding que incluiu a JBS), Ricardo Saud. O parlamentar foi afastado do cargo após decisão do Supremo Tribunal Federal, no dia 18 de maio.

Oliveira Lima não revelou os motivos que o levaram a renunciar. O advogado alegou apenas razões de “foro íntimo”. Sua saída não significa que o peemedebista tenha descartado uma eventual delação premiada na Operação Patmos, baseada na colaboração da JBS.

Pessoas próximas ao parlamentar indicam que Loures, para se livrar de um eventual risco de prisão, está disposto a fechar acordo. O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF, rejeitou pedido inicial do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para decretação de sua prisão preventiva. Fachin se limitou a ordenar o afastamento de Loures de seu mandato parlamentar.

Janot recorreu e insiste na prisão do deputado. O caso, agora, irá a plenário. A estratégia do deputado afastado é aguardar esse julgamento no colegiado.

Novo defensor. Na semana passada, investigadores teriam recebido sinais de que Loures estaria disposto a conversar com o Ministério Público. O novo advogado do peemedebista, Cezar Roberto Bitencourt, disse ao Estado ser contrário à delação, mas não descarta “radicalmente” a possibilidade, caso seja importante para o cliente.

“Sou contra a delação, especialmente contra a metodologia empregada na Lava Jato. Mas não afasto radicalmente a possibilidade se for importante para o cliente. Mas, como regra, sou contra”, afirmou o advogado, destacando que vai trabalhar na “defesa técnica” do deputado afastado.

Em áudio gravado por Joesley Batista, dono da JBS, durante encontro com Temer no Palácio do Jaburu, em 7 de março, o presidente indica Loures para ser seu interlocutor com a empresa.

Conforme a gravação, Temer afirma que o empresário poderia tratar de qualquer assunto com o deputado do PMDB.

Loures é acusado de receber propinas de R$ 500 mil semanais em troca de influência sobre o preço do gás fornecido pela Petrobrás à termoelétrica EPE – o valor da propina, supostamente “em benefício” de Temer, como relataram executivos da JBS, é correspondente a 5% do lucro que o grupo teria com a manobra.

Ao lado de Temer e do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado afastado é investigado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e constituição e participação em organização criminosa. Os citados negam irregularidades. / COLABOROU BEATRIZ BULLA

Posição

“Sou contra a delação, especialmente contra a metodologia empregada na Lava Jato. Mas não afasto radicalmente a possibilidade.”

Cezar Roberto Bitencourt

NOVO ADVOGADO DE ROCHA LOURES

 

O Estado de São Paulo, n. 45150, 30/05/2017. Política, p. A8