Delatores deixam elite da política do País na defensiva

14/04/2017

 

 

A DELAÇÃO DA ODEBRECHT / Citados como beneficiários de vantagens ilícitas por ex-executivos de empreiteira, presidente Michel Temer e ex-presidentes petistas Lula e Dilma rebatem acusações

 

 

Os relatos dos delatores da Odebrecht deixaram boa parte da elite política brasileira na defensiva. Ontem, dois dias após o Estado revelar a lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o presidente Michel Temer e dois ex-mandatários do País – os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – precisaram rebater acusações contidas nas delações. Temer, que, segundo um ex-diretor do grupo, comandou em 2010 uma reunião na qual foi acertado o pagamento de US$ 40 milhões em propina sobre um contrato da empreiteira com a Petrobrás, gravou um vídeo para rechaçar a suspeita.

“Jamais colocaria minha biografia em risco.” Lula, apontado como beneficiário, após deixar o Planalto, de uma conta de R$ 40 milhões – um “saldo Amigo”, nas palavras de Marcelo Odebrecht –, voltou a afirmar que vai concorrer à Presidência. “Não sei o que vai acontecer comigo, mas estou na disputa”, disse. Dilma, em nota, afirmou que as citações a seu nome pelo herdeiro do grupo são mentirosas.

A influência da Odebrecht no mundo político extrapolava as questões financeiras. O patriarca Emílio Odebrecht disse à Procuradoria- Geral da República que chegou a influenciar a formulação da Carta ao Povo Brasileiro – texto divulgado na campanha de 2002 de Lula para tentar acalmar o mercado financeiro diante do favoritismo do petista naquela eleição presidencial.

Entre as vantagens ilícitas citadas pela empreiteira estão o pagamento de propina de R$ 7 milhões a um grupo de parlamentares – entre eles o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE); o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); além dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL) – para a aprovação de medidas provisórias entre os anos de 2009 e 2013. Os congressistas negam irregularidades.

Entre os 76 inquéritos abertos no STF, 31 tratam de cobrança de propinas pela contratação de obras. Pelos depoimentos dos executivos, as propinas somam pelo menos R$ 190 milhões.

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Temer diz que não fez 'negócios escusos'

Carla Araújo

14/04/2017

 

O Palácio do Planalto divulgou ontem nas redes sociais do governo federal um vídeo gravado pelo presidente Michel Temer, que voltou a se defender das afirmações do ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial Márcio Faria. Acusado de comandar, em 2010 – quando candidato a vice-presidente da República –, uma reunião na qual se acertou pagamento de propina de US$ 40 milhões ao PMDB, Temer disse que jamais tratou de “negócios escusos” com a empreiteira.

Temer disse que “jamais colocaria sua biografia em risco”.

No vídeo, com duração de pouco mais de um minuto, ele afirmou: “Meus amigos, eu não tenho medo dos fatos. Nunca tive. O que me causa repulsa é a mentira. É fato que participei de uma reunião, em 2010, com o representante de uma das maiores empresas do País”.

“A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos”, completou o peemedebista no vídeo.

Segundo o presidente, essa conduta “jamais aconteceu”.

“Nem nessa reunião nem em outra reunião que eu tenha feito em minha vida pública com qualquer pessoa física ou jurídica. Jamais colocaria a minha biografia em risco”, afirmou.

O ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial afirmou que o encontro se deu no escritório político de Temer, no bairro de Alto dos Pinheiros, em São Paulo, no dia 15 de julho daquele ano. Faria afirmou que se surpreendeu com a forma com que se tratou do pagamento de propina.

Temer, que já havia divulgado nota anteontem à noite para se defender das acusações do ex-executivo, disse ainda que o verdadeiro homem público “tem de estar à altura dos seus desafios, que envolvem bons momentos e momentos de profundo desconforto”.

No vídeo, Temer também exaltou o papel do Poder Judiciário e se disse confiante na Justiça.

“A minha maior aliada é a verdade, matéria-prima do Poder Judiciário, que revelará toda a verdade dos fatos”, finalizou o presidente.

 

Imunidade. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao analisar o caso, não pediu a abertura de inquérito sobre Temer sob o argumento de que a Constituição diz que o presidente da República, no exercício de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos às suas funções. Tem, portanto, uma imunidade temporária. Os demais envolvidos, no entanto, serão alvo de investigação.

A nota emitida pelo Planalto anteontem afirmava que Faria foi levado ao atual presidente da República pelo então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – condenado e preso em Curitiba.

“A conversa, rápida e superficial, não versou sobre valores ou contratos na Petrobrás. E isso já foi esclarecido anteriormente, quando da divulgação da suposta reunião”, informou o comunicado. 

Redes sociais. Em vídeo, o presidente Michel Temer se defende de afirmações de delator

 

 

O Estado de São Paulo, n. 45104, 14/04/2017. Política, p. A4.