AÉCIO ESCAPA DE PROCESSO NO CONSELHO DE ÉTICA

CATARINA ALENCASTRO

07/07/2017

 

 

Alvo de 9 inquéritos no STF, senador tucano foi denunciado pela PGR por corrupção e obstrução de Justiça

Por 12 votos a4, o Conselho de Ética do Senado arquivou o processo contra Aécio Neves (PSDB-MG) para investigar os R$ 2 milhões que o tucano teria recebido da JBS. O presidente do colegiado, senador João Alberto (PMDB-MA), já havia arquivado monocraticamente a representação no mês passado. No entanto, ela foi a voto ontem, após recurso, e a maioria seguiu o presidente, determinando o encerramento do caso. Se o processo fosse adiante, Aécio poderia ter seu mandato cassado.

Após o arquivamento do processo no mês passado, cinco senadores do conselho recorreram para que o caso fosse submetido ao colegiado: João Capiberibe (PSB-AP), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), Pedro Chaves (PSC-MS), José Pimentel (PT-CE) e Lasier Martins (PSDRS). No entanto, no momento da votação, Chaves mudou de ideia e votou pelo arquivamento.

A sessão estava lotada, mas Aécio não compareceu. Em sua fala, Valadares insinuou que senadores foram ameaçados de que, se aceitassem a continuidade do processo contra Aécio, uma “enxurrada” de representações seria apresentada, envolvendo vários senadores.

— Eu só quero lamentar ter ouvido ameaças veladas e desabafo de que caso essa representação fosse levada à frente, uma enxurrada de representações ocorreria, atingindo dezenas de senadores. Não é preciso relatar minha indignação — discursou Valadares.

Na hora de votar, muitos dos que optaram pelo arquivamento citaram que era preciso aguardar o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal (STF), onde Aécio é alvo de nove inquéritos. Após a divulgação do resultado, o presidente do Conselho de Ética disse que o colega não pode ficar “sangrando” e o elogiou.

— O que eu li, o que eu vi e o que eu ouvi me conscientizam de que não existe absolutamente nada para condenar o senador Aécio Neves. Ele não pode ficar sangrando, temos que respeitar a figura de um bom senador, que é o senador Aécio — afirmou João Alberto.

Autor da representação junto ao Conselho de Ética, subscrita pela Rede e pelo PSOL, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lamentou o resultado e afirmou que há um acordão entre os grandes partidos para salvar os seus. Ele comparou o caso de Aécio, que mantém-se relevante no cenário político, com o caso de Delcídio Amaral, que era do PT, foi preso e cassado por unanimidade por seus pares no Conselho de Ética no ano passado.

— Saio daqui muito pessimista. Me parece que há dois tipos de julgamento: um contra aqueles que não têm poder político no Senado. Outro contra os que têm maior poder político no Senado. Houve aqui uma troca concreta de favores entre grandes partidos — disse Randolfe.

Após a decisão, Aécio soltou nota, através de sua assessoria, na qual afirma que “a decisão, tomada pela ampla maioria de senadores de diversos partidos, demonstra a absoluta inexistência de qualquer ato que possa ser interpretado como quebra de decoro parlamentar”. Segundo o tucano, “a decisão demonstra ainda o caráter estritamente politico da iniciativa e impede que o Conselho de Ética do Senado se transforme em cenário de disputas políticas menores”.

Após as delações da JBS, Aécio foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e obstrução de Justiça. O senador tucano aparece em gravação pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, dono da JBS, para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato. A quantia foi entregue posteriormente ao primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, conhecido como Fred, e filmada pela Polícia Federal.

O globo, n.30650 , 07/07/2017. PAÍS, p. 6