Título: Apagão digital mobiliza sites contra projetos
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2012, Economia, p. 12

Lideradas pelo Wikipedia, cerca de 10 mil empresas tiraram seus serviços do ar. Alvos são propostas sobre direitos autorais nos EUA

Mais de 10 mil sites no mundo, inclusive no Brasil, se juntaram ao "apagão digital", protesto liderado ontem pelo Wikipedia, maior enciclopédia on-line, e pelo site de notícias sociais Reddit. As empresas da internet tiraram páginas do ar por 24 horas em reação a dois projetos de lei que punem a pirataria de conteúdo, em tramitação na Câmara e no Senado dos Estados Unidos. Apesar da grande expectativa, outros gigantes da internet, como Google, Facebook, Twitter e Amazon, apoiaram o movimento, mas não aderiram.

As empresas de tecnologia se mostram preocupadas com os projetos conhecidos pelas siglas em inglês Sopa (Lei para parar a pirataria on-line) e Pipa (Lei de proteção à propriedade intelectual), que têm o apoio de grandes estúdios de cinema, gravadoras de música, editoras e outras companhias, que alegam perder bilhões de dólares em razão da pirataria. A votação no Congresso norte-americano está prevista para fevereiro.

Desde a madrugada de ontem, os portais do Wikipedia (na versão em inglês) e do Reddit escureceram suas páginas para que os visitantes só pudessem encontrar informações sobre os dois projetos. Até mesmo o governo dos EUA manifestou, no sábado, receio com os prováveis efeitos negativos de uma nova legislação, como censura à rede e inibição à criatividade. Além de restringir o acesso e os pagamentos a sites de fora dos EUA que oferecem conteúdo apropriado de outros ou falsificado, os projetos preveem até prisão dos responsáveis.

A esperança dos sites é que, caso os projetos sejam aprovados, a Casa Branca tome uma posição favorável a eles. O presidente Barack Obama indicou que poderá vetar total ou parcialmente. "Ao mesmo tempo em que acreditamos que a pirataria on-line por sites internacionais é um problema sério que requer uma resposta legislativa séria, não apoiaremos leis que reduzam a liberdade de expressão, aumentem o risco cibernético e limitem a dinâmica e inovadora internet global", assinalou o comunicado do governo.

Apesar dessas declarações, a baixa adesão de outras marcas de peso revelou que elas não estão dispostas a sacrificar um dia do faturamento e correr o risco de uma reação negativa do público para pressionar os congressistas. Nos EUA, o Google chegou a exibir uma tarja negra na frente de seu logotipo, mas nada que impedisse o usuário de fazer buscas.

"Nós nos opomos a esses projetos porque há formas inteligentes e dirigidas de fechar sites estrangeiros insubordinados sem pedir que companhias norte-americanas censurem a internet", informou o Google por um porta-voz. Ontem, o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, rompeu um silêncio de três anos sem tuitar: "Diga ao seu congressista que você quer que ele seja pró-internet". Várias outras empresas conhecidas, como eBay e Mozilla, também criticaram os projetos, mas sem tirar os serviços do ar.

Reações O presidente da Comissão de Justiça da Câmara dos EUA, Lamar Smith, um dos autores do projeto Sopa, disse que o "apagão digital" foi só "um golpe publicitário", além de "um desserviço aos seus usuários" movido pelo medo. Na véspera do protesto, o fundador do Wikipedia, James Wales, postou um aviso, pedindo apoio dos usuários ao movimento. "Aviso aos estudantes! Faça seu dever de casa mais cedo. A Wikipedia irá protestar contra uma lei ruim na quarta-feira", tuitou. Em outro post, Wales encorajou os leitores a entrarem em contato com parlamentares para pedir o voto contra as propostas.

Pelo menos um senador norte-americano, o republicano Marco Rubio, parece ter recuado em razão do protesto. Ontem, ele retirou sua assinatura do projeto Pipa, que prevê o bloqueio de sites que publicarem conteúdos que firam leis de direitos autorais.

O parlamentar da Califórnia fez seu anúncio em um post no Facebook, intitulado "Uma maneira melhor de lutar contra o roubo de ideias e empregos norte-americanos".

Turma da Mônica Uma das adesões brasileiras ao "apagão digital" foi do site da Turma da Mônica. A página ficou um dia fora do ar "por não concordar com as limitações" que os projetos de lei antipiratia dos Estados Unidos "imporão à internet", avisou o comunicado postado pelo desenhista Mauricio de Souza. A página explica que os projetos têm o objetivo de coibir a pirataria, mas afetarão sites que utilizam diariamente graças à possibilidade de serem bloqueados sem qualquer aviso prévio. "Há outras formas de coibir a pirataria sem que se crie um ambiente de censura na rede", afirmou. "Por aqui, a única Sopa que apreciamos é a que a Magali toma. E Pipa, só a amiga da Tina ou aquela que voa livre pelos céus."

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 19/01/2012 02:25