Valor econômico, v. 17, n. 4233, 11/04/2017. Política, p. A8

Aliado de Cunha sonda PF sobre delação premiada de ex-deputado

 

Maíra Magro

 

Um aliado político do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) procurou integrantes da Polícia Federal (PF) para sondar o interesse em uma eventual delação premiada do ex-parlamentar, apurou o Valor com duas fontes que acompanharam as tratativas. Segundo essas fontes, a resposta foi positiva - ou seja, a PF estaria disposta a ouvir se Cunha estiver aberto a negociar um acordo.

A sondagem teria sido feita por conta própria pelo amigo de Cunha, sem sua autorização prévia. Uma vez informado sobre a resposta da PF, o ex-deputado teria mais uma vez rejeitado a hipótese de um acordo de colaboração, afirmou uma fonte.

A defesa de Cunha refuta veementemente ter participado de iniciativas para negociar uma delação com a PF. Procurado pelo Valor, o advogado Pedro Ivo Velloso, um dos responsáveis pela defesa do ex-deputado, negou qualquer movimentação nesse sentido e disse que não houve mudança de estratégia jurídica.

Como antecipou o Valor, um outro contato foi feito no ano passado junto à Procuradoria-Geral da República (PGR), mas por parte da defesa. Por volta de julho, uma advogada de Cunha esteve com procuradores-chave da Operação Lava-Jato em Brasília para indagar sobre o interesse em uma eventual delação. A resposta na época também foi positiva. Mas as conversas não avançaram porque Cunha se recusou a movimentar-se nessa direção. O ex-deputado sempre negou inclusive ter autorizado qualquer contato com a PGR.

Desde a sondagem com procuradores Cunha foi cassado, preso por ordem do juiz Sergio Moro e condenado este ano a mais de 15 anos de prisão em apenas um dos vários procedimentos a que responde. Sua mulher, Cláudia Cruz, também se tornou ré e sua filha é mencionada nas investigações. Segundo pessoas que o visitaram na prisão recentemente, apesar da situação desfavorável, o ex-presidente da Câmara não estaria "envergado" e seguiria firme na decisão de não delatar - o que é visto com certo espanto pelos mais próximos.

A iniciativa de um aliado político de procurar a PF teria ocorrido porque, na percepção dos amigos de Cunha, ele preferiria mil vezes sentar-se diante do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello, que do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com quem protagonizou diversos embates e ofensas públicas desde a deflagração da Lava-Jato.

Para completar, o cenário apontaria para uma disposição da PF nesse sentido. Recentemente, a instituição fechou delações importantes sem a participação da PGR, como a do publicitário Duda Mendonça e a da dona da agência de comunicação Pepper, Danielle Fonteles.

Paralelamente, alguns atos de Cunha foram interpretados no meio político como sinal de que ele estaria disposto a fazer delação. Como exemplo estão as perguntas feitas ao presidente Michel Temer, nos processos judiciais a que responde. Cunha questionou, entre outros pontos, qual a relação de Temer com o advogado José Yunes, se este recebeu contribuição de campanha para o PMDB e se as doações foram feitas de forma oficial ou não declarada. Parte das respostas vieram à tona com o vazamento da delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Marcelo Bretas recebe reforço em escolta e apoio do TRF da 2ª região

 
Cristian Klein | Do Rio
 

O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelas ações criminais derivadas da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro, recebeu ontem o apoio institucional do presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), André Fontes. O desembargador tomou posse na quinta-feira e determinou, no dia seguinte, o reforço da segurança de Bretas como primeiro ato de sua gestão.

Os dois reuniram-se ontem na sede do TRF-2 num gesto de defesa do trabalho do magistrado da primeira instância, que estaria sendo alvo de ameaças. "Vim aqui num ato simbólico de deixar claro a minha solidariedade e preocupação diante de desafios e ameaças na figura do juiz", disse Fontes.

O presidente do TRF-2 disse que "esse talvez seja um dos maiores desafios que o tribunal enfrenta hoje". "Vim aqui simbolicamente para dizer a todos que essa preocupação que paira sobre o juiz é a preocupação também do tribunal", afirmou.

O encontro também pode ser interpretado como apoio a Bretas num outro risco que paira sobre o juiz. Ações e inquéritos derivados da Operação Calicute, um desdobramento da Lava-Jato, podem ser retirados das mãos de Bretas, caso o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decida, nos próximos dias, que não há conexão entre a Calicute, que prendeu e investiga esquema comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), e a Operação Saqueador, que prendeu o empresário Fernando Cavendish e o contraventor Carlinhos Cachoeira.

"Espero a colaboração de todos, que acima de tudo preservem a boa imagem da Justiça porque ao fazermos isso preservamos a sociedade brasileira, que neste momento está a aguardar uma decisão da Justiça sobre os acontecimentos que os senhores têm relatado", disse Fontes, que não quis se estender no anúncio feito à imprensa, para a qual pediu ajuda de divulgar o fatos, pois o "momento é desafiador".

Em seguida, Bretas deu uma rápida declaração: "Estou agora ainda mais com o apoio explícito do tribunal, me sinto muito à vontade para tocar o processo que temos sob a nossa responsabilidade. Não há nenhuma preocupação que não seja totalmente contornável com esse apoio que temos recebido ", disse o juiz, que está com escolta desde fevereiro, agora já reforçada.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Lula é o amigo, diz Odebrecht a Sergio Moro

 
André Guilherme Vieira
 

O empresário Marcelo Odebrecht afirmou ontem, em interrogatório ao juiz Sergio Moro, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o "amigo" que aparece nas planilhas de pagamentos de propinas da Odebrecht, conforme apurou o Valor.

Em depoimento prestado na Justiça Federal de Curitiba, Odebrecht também confirmou que "italiano" é o codinome usado para identificar o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, e que "pós-itália" é a alcunha que foi destinada a Guido Mantega - que sucedeu Palocci na Fazenda.

Marcelo falou sobre R$ 4 milhões que teriam sido repassados ao Instituto Lula, citou os R$ 50 milhões supostamente destinados a Mantega para abastecer a campanha de Dilma Rousseff, em 2014, além de R$ 13 milhões que o ex-assessor de Palocci, Branislav Kontic, teria recebido e repassado a Lula.

Foi a primeira vez em que Marcelo Odebrecht foi ouvido como testemunha em uma ação penal da Lava-Jato desde que firmou acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), juntamente com outros 77 executivos do grupo. Já homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), as delações contabilizam 950 supostos fatos criminosos e ensejaram 320 pedidos de providências pela PGR, entre os quais a abertura de 83 inquéritos para investigar parlamentares.

Na condição de delator, Marcelo Odebrecht abriu mão do direito de ficar em silêncio e respondeu a todas as perguntas feitas durante a audiência, que foi colocada em sigilo pelo juiz; parte das informações prestadas pelo empresário constam de sua delação premiada, que continua em segredo no STF.

O empresário detalhou o pagamento de supostas propinas a Palocci, a quem descreveu como o principal interlocutor da empresa no governo Lula. Ele falou por mais de duas horas e meia.

O interrogatório ocorreu na ação penal em que Palocci é acusado de atuar no governo em favor de interesses da Odebrecht.