COMISSÃO DE ÉTICA INVESTIGA TRÊS MINISTROS

Eduardo Barreto

28/04/2017

 

 

Padilha, Moreira e Kassab foram citados por delatores da Odebrecht

 

A Comissão de Ética da Presidência abriu ontem processos contra três ministros: Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria Geral) e Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia). Eles foram citados na lista de Fachin por supostos crimes enquanto eram ministros em governos anteriores. Eles terão de se explicar à comissão em dez dias. A punição mais severa é a recomendação de demissão.

A decisão de abrir processo contra os três ministros foi unânime. A reunião de ontem da comissão foi a primeira após a retirada do sigilo da delação de 78 ex-executivos da Odebrecht. Oito ministros do governo Michel Temer foram citados na lista. A comissão, contudo, só vai abrir processo contra Padilha, Moreira e Kassab, que são investigados por condutas enquanto ocupavam cargos de primeiro escalão no governo Dilma Rousseff.

Os ministros palacianos Padilha e Moreira, que foram titulares da Secretaria de Aviação Civil na gestão da ex-presidente, são citados em um inquérito que também menciona Temer, mas o presidente não pode ser investigado por atos anteriores ao mandato.

Os auxiliares de Temer teriam ajudado a Odebrecht no processo de licitação de aeroportos, enquanto chefiavam a Aviação Civil. Segundo colaboração premiada do ex-executivo Cláudio Melo Filho, eles teriam sido solicitados R$ 4 milhões para o PMDB.

“Algumas vezes fui cobrado por Eliseu Padilha a respeito do pagamento que havia sido solicitado por Moreira Franco. Novamente transmiti a Benedicto Júnior (ex-empresário da Odebrecht) o pedido. Ficou clara a existência de correlação entre a quantia em dinheiro almejada e o cargo de Ministro de Estado ocupado pelas duas pessoas que, em momentos distintos, fizeram o mesmo pedido”, disse o executivo.

Padilha também é investigado por cobrança de propina de R$ 1,5 milhão na execução de obras do metrô de Porto Alegre entre 2008 e 2009. A cobrança teria sido feita a empresários da Odebrecht, a quem teria favorecido em 2001, quando era ministro dos Transportes do ex-presidente Fernando Henrique.

Já Kassab é implicado em dois inquéritos. Ele é acusado de ter recebido propina da construtora enquanto estava à frente do Ministério das Cidades no governo Dilma e, antes disso, na prefeitura de São Paulo. O montante seria de R$ 20 milhões.

A comissão da Presidência não avalia o âmbito criminal, mas somente as condutas éticas de integrantes ou ex-integrantes da alta administração federal. Por exemplo, avalia se houve conflito de interesses, tráfico de influência ou uso privilegiado de informação.

Padilha afirmou que só vai se manifestar quando for comunicado oficialmente. Moreira também disse que não recebeu notificação. Já Kassab enviou nota em que diz que “sempre pautou sua atuação pela ética e cumprimento da legislação”.

 

O globo, n.30580 , 28/04/2017. País, p. 4