‘Cabral roubou em todas as áreas’

Miguel Caballero 

12/04/2017

 

 

Investigadores dizem que terão provas dos desvios em todo o governo até o final do ano

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral “roubou em todas as áreas” do governo. Assim, sem rodeios, o procurador da República Eduardo El Hage se referiu ao peemedebista, que está preso em Bangu 8 desde novembro. Segundo El Hage, até o final do ano os investigadores vão provar esses desvios.

O procurador disse que o esquema desmontado ontem na Operação Fatura Exposta é “apenas uma perna” do “crime que se alastrou” pelo estado. Só nestas fraudes, segundo a Polícia Federal, o político recebeu ao menos R$ 16,4 milhões.

A operação de ontem focou a área da saúde pública e prendeu o ex-secretário Sérgio Côrtes. A ação, que revelou um dos mais profundos e duradouros golpes no setor, também levou à prisão os empresários Miguel Iskin, presidente da Oscar Iskin, e seu sócio Gustavo Estellita Cavalcanti Pessoa. A investigação se valeu da delação premiada do advogado Cesar Romero Vianna e de registros da contabilidade de propinas do operador financeiro Luiz Carlos Bezerra. A investigação, ainda em curso, mira fraudes de licitações de próteses e aparelhos médicos.

Em entrevista coletiva, os investigadores ressaltaram que a organização criminosa atua desde 2002, de forma mais incisiva a partir de 2007, quando Sérgio Cabral assumiu o comando do governo do estado. No poder, Cabral “adotou procedimentos de direcionar licitações para o grupo de Iskin e Estellita” em troca de propina.

No esquema, Sérgio Cabral recebia 5%; Sérgio Côrtes, 2%; e Cesar Romero Vianna, 1%. Havia ainda 1% destinado a alimentar o esquema, que segundo os procuradores era revertido a funcionários subornados na secretaria, e 1% direcionado uma pessoa do Tribunal de Contas do Estado — cujos nome e função o delator não soube identificar.

OUTRAS INVESTIGAÇÕES

A derrocada do ex-governador Sérgio Cabral teve início com a deflagração da Operação Calicute, em 17 de novembro do ano passado, quando ele foi preso preventivamente, acusado de comandar um amplo esquema de corrupção que drenava propinas de obras do estado contratadas junto às empreiteiras Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia e Delta. Segundo as investigações, um engenhoso esquema de lavagem de recursos oriundos dos subornos foi montado. Cabral também cobrava 5% de propina de cada contrato fechado.

Os investigadores também apontam que Cabral e sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, desviavam recursos por meio de contratos fictícios firmados entre empresas que recebiam incentivos fiscais do estado e o escritório da ex-primeira-dama. Ela estava presa em Bangu 8 e foi para prisão domiciliar há duas semanas.

Em janeiro, uma nova investigação decorrente da Operação Eficiência revelou que Cabral ocultou cerca de US$ 100 milhões no exterior, usando para isso os serviços dos irmãos Renato Hasson Chebar e Marcelo Hasson Chebar, operadores de mercado financeiro, que delataram todo o esquema de lavagem para a Polícia Federal. Essa operação também prendeu o empresário Eike Batista, acusado de pagar propina a Cabral.

Em outra operação da PF, as investigações revelaram que o agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho (Ary Fichinha) e Carlos Miranda adquiriam bens para lavar recursos provenientes de esquema de corrupção comandado por Cabral. No início de fevereiro, a Operação Mascate, da PF, desvendou um novo elo do esquema do ex-governador. Cerca de R$ 10 milhões teriam sido lavados por esse caminho.

 

O globo, n. 30564, 12/04/2017. País, p. 14