Em acordo com a Polícia Federal, Duda mira em caixa dois de Skaf

Jailton de Carvalho

07/04/2017

 

 

Publicitário afirmou que empresário o orientou a buscar Odebreacht

A delação do marqueteiro Duda Mendonça se transformou em um novo elemento contra o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, suspeito de recorrer à Odebrecht para pagar, com dinheiro de caixa dois, uma dívida de R$ 10 milhões da campanha ao governo de São Paulo em 2014. Em depoimento à Polícia Federal, Duda confirmou acusações anteriores de executivos da empreiteira sobre o uso do caixa dois e responsabilizou diretamente Skaf pelas transações, segundo disse ao GLOBO uma fonte ligada ao caso.

Duda teria dito que foi Skaf quem, no final da campanha, o orientou a procurar a Odebrecht para receber parte dos pagamentos com recursos não declarados. Disse ainda que, para driblar a fiscalização, foram tentados três diferentes métodos de pagamentos clandestinos. Nenhum deles teve sucesso por causa da pressão das investigações da Lava-Jato. No período dos pagamentos, a Odebrecht já estava sendo levada para o centro das apurações sobre fraudes na Petrobras.

O conteúdo da delação foi encaminhado ao ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro repassou os documentos a Procuradoria-Geral da República, que deverá se manifestar sobre o caso. Com base no parecer do Ministério Público Federal, Fachin decidirá se acolhe ou não a colaboração do marqueteiro.

Duda foi ouvido no inquérito aberto pela Polícia Federal a pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar supostas irregularidades em pagamentos a gráficas e outras empresas pela chapa Dilma-Temer durante a campanha eleitoral de 2014. Num dos depoimentos, Duda disse que, dos R$ 10 milhões do caixa dois da Odebrecht, R$ 6 milhões seriam para ele e o restante, R$ 4 milhões, para a Ilha Produção, produtora que está em nome de Paulo Luciano, irmão do deputado Baleia Rossi (PMDB-SP).

O marqueteiro disse que, na fase final da campanha, Skaf o orientou a recorrer a Odebrecht. A empreiteira ficaria encarregada de fazer os pagamentos. Ele seguiu a recomendação e procurou a empreiteira. Num primeiro momento, foi acertado que os repasses seriam feitos mediante o sistema de senhas e contrassenhas do Setor de Operações Estruturadas.

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FAZENDA PARA PAGAR DÍVIDA

Pelo sistema, emissários dos envolvidos usam senhas para se aproximar e combinar locais e formas de entrega clandestina do dinheiro. Mas, com o avanço da Lava-Jato em Curitiba, as duas partes entenderam que deveriam mudar o método. Teria sido acertado, então, que Duda receberia parcelas do pagamento a partir de um falso contrato de prestação de serviços de gerenciamento de crise.

A ideia também não deu certo. Representantes da Odebrecht partiram para um meio ainda mais complicado. Ficou acertado que a DAG, uma empresa ligada à empreiteira, compraria uma fazenda de Duda no sul da Bahia. A fazenda, à beira da praia, estaria avaliada em R$ 20 milhões. A DAG pagaria R$ 25 milhões. Os R$ 5 milhões excedentes seriam o pagamento camuflado da campanha de Skaf.

Mas, aquela altura, a Odebrecht já estava amarrada pelas teias da Lava-Jato e não cumpriu a promessa. Não está claro se a empresa deu calote parcial ou total na dívida. No segundo semestre do ano passado, com medo de ser preso, Duda procurou o Ministério Público Federal para relatar o suposto caixa dois da campanha de Skaf e de outros políticos. Mas a Procuradoria-Geral teria considerado as acusações insuficientes para oferecer benefícios de uma eventual delação premiada.

No início deste ano, quando soube que o nome dele poderia aparecer na delação da Odebrecht, Duda se viu sem saída e se dispôs a colaborar com a Polícia Federal. O GLOBO tentou, sem sucesso, falar com Skaf sobre o assunto. Segundo a assessoria de imprensa da Fiesp, o empresário já negou, em nota, qualquer irregularidade na campanha. “Todas as doações recebidas pela campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo estão devidamente registradas na Justiça Eleitoral”, diz o texto. A assessoria do deputado Baleia Rossi afirmou que ele não tem vínculo com a Ilha Produção. “As demais perguntas têm de ser encaminhadas à empresa citada ou à campanha de Paulo Skaf ”, diz a assessoria.

O globo, n.30559 , 07/04/2017. País, p. 4