Bacia do rio São Francisco pode enfrentar racionamento de água

Rodrigo Polito

04/04/2017

 

 

O governo avalia a possibilidade de decretar racionamento hídrico na bacia do rio São Francisco. A Casa Civil está trabalhando na elaboração de um decreto que prevê as condições e os requisitos para a determinação de um racionamento de água na região, que abrange terras de mais de 500 municípios, em cinco Estados (Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas).

"O governo, capitaneado pela Casa Civil, já trabalha com a hipótese de edição de um decreto estabelecendo as condições para a decretação de um racionamento hídrico na bacia do rio São Francisco", afirmou o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, em evento do setor energético, no Rio. "Isso obviamente não é causado pelo setor de energia. As condições climáticas são bastante adversas na região há vários anos, tendo se agravado tanto no ano passado quanto neste ano."

Segundo Barata, a publicação do decreto não determina de fato a realização do racionamento. O documento, explicou. só lançará as bases para a Agência Nacional de Águas (ANA) determinar um racionamento, quando achar necessário.

Ainda não se sabe ao certo qual seria o impacto do racionamento de água para todas as atividades. No caso do setor elétrico, segundo Barata, o efeito prático seria a redução da vazão do rio utilizada para geração de energia na hidrelétrica de Sobradinho (BA), dos atuais 700 m³/s para 650 m³/s ou 600 m³/s - na prática, as hidrelétricas da região gerariam menos energia que atualmente, para poupar água. Abaixo de Sobradinho, estão as hidrelétricas de Luiz Gonzaga, Apolônio Sales, o complexo de Paulo Afonso e Xingó, todas da Chesf, subsidiária da Eletrobras.

"Nossa grande atenção está voltada para a região Nordeste, em especial, para a bacia do rio São Francisco. Estamos operando hoje com uma vazão defluente de Sobradinho de 700 m3 /s e já identificamos que, com essas vazões, podemos ter problemas sérios à jusante (abaixo) do reservatório de Sobradinho, indo até a foz do São Francisco", disse. Apesar do cenário crítico, Barata disse não haver risco de desabastecimento.

O reflexo da menor produção de energia hidrelétrica é a tendência de aumento do custo de operação do sistema, a partir do acionamento de mais termelétricas. Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmou o primeiro patamar da bandeira tarifária vermelha para abril, com custo extra de R$ 3 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, para custear térmicas.

Sobre o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o principal do país, Barata contou que o ONS trabalha com a expectativa de que os reservatórios hidrelétricos cheguem a novembro, ao fim do período seco, com 20% de armazenamento. Os lagos das usinas das duas regiões estão hoje com 41,62% da capacidade de estoque.

Segundo ele, se houver um volume de chuvas no Sudeste/Centro-Oeste no período seco (entre o fim de abril e novembro) ligeiramente superior à média histórica, é possível que os reservatórios cheguem em novembro com 30% de armazenamento. Por outro lado, se houver um volume de chuvas 84% da média histórica, por exemplo, os reservatórios devem chegar a novembro com apenas 10% de armazenamento.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4228, 04/04/2017. Brasil, p. A5.