Valor econômico, v. 17, n. 4196, 15/02/2017. Brasil, p. A4

'Lei de falência' de Estados será enviada até 6ª feira

Governo quer medida "estruturadora" para resolver insolvência, diz secretária do Tesouro

Por: Fabio Graner e Cristiane Bonfanti

 

A secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, disse que o novo projeto de lei de recuperação fiscal dos Estados será enviado até sexta-feira. "Essa é a data-limite", disse. Segundo ela, o governo quer cobrir o "espaço legal" que existe e fazer uma medida que seja "estruturadora" para resolver a insolvência de alguns Estados. "Entendemos a emergência do Rio de Janeiro, mas precisamos de amparo legal", disse.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, confirmou o envio do projeto nesta semana. E destacou que a dificuldade de o Estado pagar salários é um ponto importante para ser analisado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e pelo Congresso Nacional para dar celeridade na aprovação dos projetos de ajuste do Estado, como a venda da Cedae, e da nova lei de recuperação fiscal.

O Tesouro Nacional informou ontem que continuou tendo que cobrir calotes do Rio no pagamento de dívidas garantidas pela União. Em janeiro, foram pagos R$ 108,2 milhões por atrasos de pagamento em financiamentos.

O órgão informou que foram recuperados R$ 91,55 milhões (82,9%) por meio da execução das contragarantias previstas nos contratos - receitas dos fundos de participação, ICMS, IPI Exportação, dentre outras -, restando cerca de R$ 19 milhões a recuperar. Outros R$ 388,9 milhões pagos em nome do Rio ainda estão pendentes de recuperação, relativos a calotes dados em 2016. Devido a decisão do Supremo Tribunal Federal, a União foi impedida de bloquear receitas do Estado.

No ano passado, a União honrou total de R$ 2,37 bilhões em dívidas de governos regionais, sendo R$ 2,36 bilhões de Estados (somente o Rio de Janeiro) e R$ 15,82 milhões de municípios.

Diante da situação de grave crise financeira do Estado, que vive uma combinação de queda forte de receitas com uma carga elevada de despesas, a administração de Luiz Fernando Pezão (PMDB) tem negociado um socorro com o governo federal. Na segunda-feira, o Rio e o Ministério da Fazenda se reuniram com o ministro do STF Luiz Fux para discutir a possibilidade de um acordo no sentido de antecipar uma ajuda do governo federal, via empréstimos de bancos públicos com garantia do Tesouro.

O acordo, contudo, não foi possível por falta de "juridicidade", o que, na prática, significa que não foi encontrado qualquer respaldo legal para um socorro antecipado, que depende de mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Essas mudanças seriam no sentido de permitir ao Tesouro não considerar alguns limites da LRF para poder conceder aval a empréstimos a um Estado inadimplente, mediante a implantação de contrapartidas de ajuste fiscal. O problema é que já faz mais de um mês e meio que o governo prometeu um novo projeto e até agora não o enviou.

De acordo com Ana Paula, "não há nada emperrando o processo de envio do novo projeto". "É um processo natural de discussão de um texto que é denso", afirmou. Para ela, a aprovação em 30 dias depende "da parceria do Congresso". "Estamos na expectativa de nos unir neste momento para atender processos emergenciais", disse.

A secretária disse que as linhas gerais do projeto serão as mesmas do texto enviado em dezembro, cujas contrapartidas acabaram sendo rejeitadas pela Câmara, forçando o veto do presidente Michel Temer. "Haverá aperfeiçoamentos", disse. "A ideia é que as instituições financeiras que queiram reprogramar débitos possam fazê-lo na medida que haja suspensão temporária de alguns artigos da LRF", afirmou.

Ana Paula também defendeu o programa de ajuste fiscal realizado pelo Estado do Espírito Santo, que recentemente se deparou com uma greve de policiais. Segundo ela, o ajuste do Estado foi necessário devido à crise econômica do país e a fatores que afetaram a economia localmente, como o rompimento da barragem da Samarco.

"O Espírito Santo fez o ajuste necessário para cumprir suas obrigações", disse a secretária, ressaltando que o Estado está pagando servidores em dia.

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Forças Armadas colocam 9 mil soldados nas ruas do Rio

Por: Juliana Schincariol

 

O Rio de Janeiro recebeu um reforço de segurança de 9 mil agentes das Forças Armadas, em uma operação considerada preventiva e prevista para permanecer nas ruas até dia 22. Uma extensão do prazo será avaliada, conforme o "clima de normalidade" e disponibilidade dos efetivos, disse ontem o ministro da Defesa, Raul Jungmann.

"Diferentemente do que se passou, ou vem se passando, em alguma medida no Espírito Santo, não há descontrole, não há desordem no Rio de Janeiro", disse. Segundo ele, em que pesem os protestos, entre 95% a 97% do policiamento está em operação.

Jungmann refutou a possibilidade de repetição no Rio de Janeiro da situação verificada no Espírito Santo. "Não temos até aqui nenhum indicativo de inteligência que nos diga a respeito desse contágio. De fato temos protestos, mas isso não tem impedido que as forças policiais atuem normalmente", afirmou ele durante entrevista.

Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, soldados da Força Nacional de Segurança estão atuando em conjunto com a Polícia Militar para preservar o patrimônio e a segurança dos parlamentares, afirmou o ministro. As Forças Armadas estarão em uma terceira linha, caso necessário.

A Assembleia Legislativa tem sido palco de constantes manifestações nas últimas semanas. Ontem, servidores públicos protestaram mais uma vez na porta da Assembleia contra a privatização Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), sob gritos de "Fora Pezão", referindo-se ao governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Além da crise fiscal, o Rio enfrenta protestos de parentes de policiais militares que ainda estão acampados nas portas de batalhões. Eles cobram o pagamento de horas extras do segundo semestre de 2016, incluindo as referentes ao trabalho durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O governo também deve aos policiais o décimo-terceiro salário e prêmios pelo cumprimento de metas.

No domingo, um torcedor morreu e sete ficaram feridos no entorno do estádio Nilton Santos, o Engenhão, antes do início do jogo entre Botafogo e Flamengo. Por causa dos bloqueios nos batalhões, a segurança do evento contou com número reduzido de policiais.

Na chamada "Operação Carioca", efetivos do Exército assumirão o patrulhamento da Transolímpica, e vão atuar no entorno de Deodoro, na zona oeste da cidade, além de pontos solicitados pela Polícia Militar na avenida Brasil, e nas cidades de Niterói e São Gonçalo, na Grande Rio. Não há previsão de patrulhamento das Forças Armadas na Baixada Fluminense.

A Marinha empregará mil fuzileiros navais no policiamento do bairro do Caju, na zona norte, até o Leblon, na zona sul. O reforço das Forças Armadas chega 21 dias após pedido de Pezão ao presidente Michel Temer.