Adversários de Maia tentam forçar 2º turno na Câmara

Raphael Di Cunto

31/01/2017

 

 

Em aposta para tentar forçar um segundo turno, adversários do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lançaram ontem várias candidaturas para fragmentar o apoio dentro dos partidos aliados do atual presidente. Querem mostrar que Maia fechou acordo com a cúpula das legendas, mas que não terá o voto individual - e secreto - dos parlamentares.

O movimento ganhou força com a disputa por espaços na Câmara e no governo. Grupos interessados em ocupar a vaga de seus partidos na Mesa Diretora ou o cargo de líder negociam com outros candidatos a espera de votos em plenário caso se lancem como candidatos avulsos ou na tentativa de pressionar suas siglas por melhores posições.

Apesar de o PP declarar oficialmente que votará em Maia, o grupo do primeiro-vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que conduzirá a eleição, é um dos que negocia com outros candidatos.

Impulsionado pelo governo, Maia continua como candidato favorito e deve lançar um bloco de partidos que somam 362 deputados amanhã. Terá aliança formal com as maiores legendas: PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, além de siglas menores com PHS e PV. Esse bloco servirá para ocupara os cargos de direção - o PT, apesar de ser o segundo maior partido na Câmara, ficará com um espaço menor ou até de fora.

Mas o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), trabalha nas dissidências e mesmo aliados do atual presidente reconhecem que a candidatura ganhou terreno com um discurso corporativista, voltado para os deputados do baixo clero, de independência da Câmara e propostas de mais espaço para os parlamentares relegados ao "fundão" do plenário, como um dia dedicado para votar projetos de autoria do Legislativo.

Jovair assinou ontem, junto com outros três candidatos, mandado de segurança ao Supremo Tribunal Federal (STF) com pedido de impugnação da candidatura de Maia, argumentando que a Constituição Federal e o regimento impedem a reeleição para os cargos da Mesa.

Maia defende que seu caso é uma exceção e diz que não há regra para quem ocupa um mandato tampão. O atual presidente foi eleito na vaga do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou ao cargo e foi cassado.

Também assinaram o mandado o deputado André Figueiredo (PDT-CE), que concorre sustentado por parte da oposição - e terá mais sucesso caso o PT decida não lançar candidato próprio -, Rogério Rosso (PSD-DF) e Júlio Delgado (PSB-MG), mentor do movimento e que, a despeito de não ter o apoio do PSB, pretende concorrer pela terceira vez seguida - nas outras duas obteve mais de 100 votos.

Para aumentar a fragmentação também são esperadas as candidaturas do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que teria votos na bancada da bala, e do Psol.

O mandado de segurança, contudo, se soma a outras ações dos adversários de Maia que já estão no STF e que nem o relator, Celso de Mello, nem a presidente do tribunal, Cármen Lúcia, optaram por conceder liminar. Ambos deram prazo de defesa para Maia, que só acabará depois da eleição, marcada para as 9h de quinta-feira. O assunto também ficou de fora da sessão do STF marcada para amanhã. (Colaborou Fabio Murakawa)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4185, 27/01/2017. Política, p. A10.