Valor econômico, v. 17, n. 4187, 02/02/2017. Brasil, p. A4

Commodities puxam exportações em janeiro

Embarques de veículos também contribuíram para aumento de 20,6% nas vendas do mês

Por: Cristiane Bonfanti e Marta Watanabe

 

A balança comercial registrou superávit de US$ 2,725 bilhões em janeiro, resultado de exportações que alcançaram US$ 14,911 bilhões e importações de US$ 12,187 bilhões.

O desempenho de janeiro é o melhor para o mês desde 2006, quando a balança registrou superávit de US$ 2,835 bilhões, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Em janeiro do ano passado o saldo comercial ficou em US$ 915 milhões.

Em janeiro, segundo o Mdic, as exportações cresceram 20,6% sobre igual mês de 2016, pela média diária. Em relação a dezembro, houve uma retração de 6,5%. No caso das importações, houve aumento de 7,3% sobre janeiro de 2016 e de 5,7% sobre dezembro, também pela média diária.

Segundo o diretor de Estatística e Apoio à Exportação do Mdic, Herlon Brandão, a taxa de crescimento das exportações em janeiro é a maior desde 2011. Em janeiro de 2011, as exportações subiram 28,2%. Segundo ele, o governo mantém previsão de fechar 2017 com saldo próximo ao do ano passado, de US$ 47,7 bilhões.

Para analistas, contribuíram para a alta das exportações em janeiro a antecipação do embarque de soja, a elevação na venda de carros e material de transporte, principalmente para a Argentina, e a alta de preços de commodities.

O valor embarcado de minério de ferro cresceu 124,5% em janeiro, puxado principalmente pelos preços, que subiram 113,8%. A exportação de petróleo também quase dobrou, com elevação de 97,7%, como resultado de 53,3% de alta nos preços e de 29% de volume de embarque. Os dois produtos, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), são emblemáticos da recuperação de preços de commodities, que beneficiou as exportações como um todo.

Ainda nos básicos, o embarque da soja em grão, um dos principais itens da pauta de exportação brasileira, aumentou 124,7%. A alta, diz Castro, foi provocada pela antecipação de embarques. Com a supersafra do grão no Brasil e na Argentina, a expectativa é de queda de preços, o que tende a acelerar os embarques, explica ele.

Nos manufaturados, destaca-se a venda de automóveis de passageiros, com alta de 34,5% contra janeiro de 2016, sempre no critério da média diária. Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), destaca que não só os automóveis de passageiros como outros itens de transporte, como veículos de carga e tratores, têm contribuído positivamente para a elevação de exportações. Em janeiro, esses itens ajudaram no crescimento de 7,4% na exportação de manufaturados.

A elevação da exportação é resultado, ressalta Cagnin, do esforço do setor para ocupar a capacidade ociosa, assim como a elevação da produção industrial de bens de consumo duráveis. "Embora esse aumento nem de perto seja suficiente para recompor as perdas do mercado doméstico." Ele lembra que os embarques do setor são principalmente intracompanhia, o que torna essas operações menos suscetíveis aos efeitos da oscilação do dólar.

A exportação de bens da indústria automobilística e dos industrializados que são beneficiados pela recuperação de preços de commodities, diz Cagnin, têm um efeito "que não é desprezível" para a contribuição positiva do setor externo na economia. "Mas essa contribuição poderia ser maior sem a valorização mais recente da taxa de câmbio e as questões estruturais de competitividade."

Em boletim, a Rosenberg Associados destaca a "surpresa" com a alta das exportações totais em janeiro disseminada por todas as classes de produtos, mas pondera que há também influência da baixa base de comparação. As importações, destaca o boletim, tiveram em janeiro a segunda alta mensal seguida, na comparação com mesmo mês do ano anterior, após 26 meses consecutivos de queda, no mesmo critério de comparação.

"Essa incipiente recuperação das importações é um bom sinal que a atividade doméstica pode estar em um melhor patamar que em janeiro de 2016. A apreciação cambial verificada nos últimos meses também atua no sentido de aumentar as importações", avalia a consultoria.

A queda dos desembarques, lembra Cagnin, do Iedi, vinha se desacelerando e apontava para a saída das variações negativas desde o segundo semestre de 2016, o que é confirmado pelo dado de janeiro, com alta de 7,3% nas compras totais do exterior. "As importações chegam à soleira da porta trazendo o impacto concorrencial", avalia. Para Cagnin, parte da elevação de importação de bens de consumo e de intermediários acontece pela reversão do processo de substituição de importação que foi permitido em alguns segmentos pelo câmbio mais desvalorizado do início do ano passado.

Castro, da AEB, tem análise semelhante. Para ele, a importação de bens intermediários e de consumo é resultado mais do câmbio do que de melhora de demanda. Ao mesmo tempo, diz ele, a importação de bens de capital continua caindo, com recuo de 40,1% em janeiro, refletindo ainda baixa intenção de investimento e de confiança para expandir produção.

Brandão, do Mdic, pondera que a queda na importação de bens de capital deve levar em conta que em janeiro de 2016 foi importada uma plataforma de petróleo de US$ 518 milhões, o que não ocorreu este ano. Além disso, diz, as compras de bens de capital são as últimas a reagir num cenário de recuperação econômica, já que há capacidade ociosa da indústria.

"Vai aumentar a produção e esse aumento de produção demanda insumo. Então, primeiro, crescem as compras de bens intermediários. Depois de uma sinalização de que o consumo continua crescendo, cresce a compra de bens de capital", avalia Brandão.