Crivella nomeia mais líderes religiosos para sua equipe 
Luiz Ernesto Magalhães e Rafael Galdo 
13/01/2017
 
 
Pelo menos dois superintendentes regionais escolhidos ontem têm vínculos com igrejas

Com 16 novos cargos de superintendentes de Supervisão Regional para distribuir, o prefeito Marcelo Crivella os utilizou para acomodar na prefeitura de líderes evangélicos a candidatos derrotados nas urnas, velhos aliados e políticos que integraram a gestão de Eduardo Paes, mas trocaram de lado nas últimas eleições. Ontem, ele nomeou os titulares de 12 dessas superintendências — criadas no início do mês para substituir as oito subprefeituras do Rio. Dos escolhidos, ao menos dois têm suas vidas públicas intimamente ligadas a igrejas, embora outros também adotem discursos religiosos.

Na quarta-feira, Crivella já havia nomeado o bispo da Igreja Universal Jorge Braz — ex-vereador que desistiu de tentar a reeleição — para o Instituto de Defesa do Consumidor (Procon Carioca). Com a decisão, acabou contrariando a promessa de campanha de que a Universal não participaria de seu governo.

Agora, para a Superintendência da Pavuna, por exemplo, o eleito de Crivella foi o presbítero da Assembleia de Deus Itagibe Amaral, que, até agosto de 2015, foi presidente da União de Adolescentes das Assembleias de Deus do Estado do Rio. Do mesmo partido que o prefeito, o PRB, ano passado ele chegou a concorrer a uma vaga de vereador. E, em 2014, se candidatou a deputado estadual pelo PDT. Em ambos os casos, sem sucesso.

Já o líder evangélico Romildo Almeida Jucá foi o designado para a Superintendência da região de Inhaúma. Em 2012, ele tentou (e não conseguiu) se tornar vereador em Niterói. Mas, em fotos e vídeos na internet, ele aparece ao lado de pastores como Silas Malafaia e R.R. Soares. Nas redes sociais, afirma ter participado também de campanhas de políticos evangélicos como o próprio Crivella e o vereador do Rio Jorge Manaia.

Em seu perfil no Facebook, Romildo se apresenta como “servo do Senhor, administrador, Pós-Graduado em Gestão Pública na Uerj e com 38 anos no serviço público”. Ele já passou por várias igrejas, como a Internacional da Graça de Deus e a Universal, onde foi obreiro por dez anos.

A assessoria de Crivella, no entanto, defende que o processo de escolha dos superintendentes seguiu critérios de natureza técnica e política, e que a maioria não tem vínculo direto com igrejas.

MUDARAM DE LADO

Alguns escolhidos também são colaboradores de longa data do novo prefeito. É o caso de Suely Amaral, que assumiu a região da Tijuca e, antes, foi superintendente do Ministério da Pesca no Rio, quando Crivella era ministro da pasta. Para a Superintendência de Campo Grande, foi nomeado um dos coordenadores de campanha do atual prefeito na região, Jorge Luís Amaral Pinto, o Jorginho Amaral, candidato a vereador pelo PP em 2012. No passado, ele foi aliado da deputada Lucinha (PSDB). Hoje, estão rompidos.

A escolha de muitos superintendentes com perfil político, aliás, causou irritação ontem na Assembleia Legislativa e na Câmara. Até então, em reuniões com deputados e vereadores, segundo fontes do GLOBO, Crivella havia prometido que os cargos seriam ocupados por quadros técnicos. O que acabou não se concretizando, salvo raras exceções.

— Nós não esperávamos que isso acontecesse. Crivella poupou apenas alguns redutos eleitorais de políticos tradicionais. Vamos começar a trabalhar em fevereiro extremamente irritados com o governo. O prefeito não tem maioria na Câmara e, com uma atitude dessas, as negociações serão mais difíceis — disse um vereador que só soube das nomeações ao ler o Diário Oficial ontem.

Entre os indicados, por exemplo, estão pelo menos três superintendentes que já estiveram muito mais próximos do grupo político do exprefeito Eduardo Paes do que de Crivella. Um dos exemplos é Flávio Caland — outro nomeado com forte discurso religioso —, designado para a região de Jacarepaguá, depois de ter sido subsecretário de Esportes e administrador regional de bairros da Zona Norte na gestão do peemedebista. Mas, candidato a vereador pelo PRTB em 2016, fechou aliança com Crivella.

O mesmo caminho seguido por Thiago Barcellos. O ex-subprefeito do Centro chegou a coordenar por alguns dias a campanha na Barra do ex-candidato a prefeito Pedro Paulo (PMDB), aliado de Paes, antes de migrar para o campo de Crivella. Ele se tornou agora o novo superintendente da Barra.

Em 2012, Thiago foi um dos que romperam um acordo feito entre Paes e os vereadores para que os subprefeitos não se lançassem candidatos, disputando espaço político. Na avaliação de deputados e vereadores das atuais legislaturas, o mesmo conflito tende a se repetir nas próximas duas eleições, com os indicados de Crivella.

Nesse sentido, uma nomeação polêmica foi a de Marcelo Maywald para a Superintendência da Zona Sul. A indicação teria como objetivo atrair o eleitorado da região para o PRB ou partidos aliados. Maywald é filho da ex-vereadora Leila do Flamengo, que perdeu a eleição para a Câmara pelo PMDB. Durante a administração de Paes, ele foi administrador regional e assumiu cargos como o de subsecretário de Integração e Controle Urbano. No primeiro turno do ano passado, Leila e o filho fizeram campanha para Pedro Paulo. Mas, no primeiro dia do segundo turno, assumiram o apoio a Crivella. Agora, cogita-se que os dois possam ir para o PRB e disputar as eleições.

FALTAM QUATRO NOMEAÇÕES

Janir Moreira de Souza, novo superintendente de Bangu, é outro que já teve cargo em prefeituras anteriores. Candidato a vereador pelo DEM derrotado em 2012, ele é ex-subprefeito da Vila Militar na gestão de Cesar Maia.

Na Ilha do Governador, o nomeado foi Daniel Balbi Waichel, diretor do jornal Ilha Notícias e filho do ex-deputado José Richard. No Centro, o superintendente será Marcelo Rotemberg; em Madureira, Cristiane Silva Alves; e, em Irajá, Roberto Rodrigues de Oliveira. Faltam ainda ser nomeados os titulares de Santa Cruz, Guaratiba, Méier e Ramos.

Os já designados foram nomeados com data retroativa a 1º de janeiro. Mas, somente ontem à tarde, reuniram-se pela primeira vez com com Crivella para traçar um plano de trabalho.

O globo, n. 30475, 13/01/2017. Rio, p. 9