O Estado de São Paulo, n. 44952, 13/11/2016. Política, p. A10

O Cerco à roubalheira

 

José Fucs


O bordão “rouba, mas faz”, adotado pelos apoiadores do ex-governador de São Paulo Ademar de Barros (1901-1969) para defendê-lo de acusações de corrupção, tornou-se um símbolo de uma forma de governar que fez escola no País. Recentemente, nos governos do PT, a ideia dos seguidores de Ademar de que, independentemente da corrupção, o mais importante é ser um bom tocador de obras, sofreu uma ligeira adaptação. Com a descoberta do mensalão, em meados da década passada, e de maneira mais enfática agora, com o petrolão, um contingente expressivo de militantes e simpatizantes do PT fechou os olhos para as acusações de corrupção sofridas pelo partido e continuou a apoiá-lo, com o argumento de que o principal é o que ele faz pelos mais pobres. Numa adaptação livre do velho bordão de Ademar, é como se dissessem que o PT “rouba, mas distribui”. Ou, então, que “rouba, mas faz obra social”. À primeira vista, pode parecer que a adaptação é diferente da expressão original, criada há 70 anos, mas não é. Na essência, são duas maneiras semelhantes de tentar justificar o mesmo fenômeno, que contamina o País e afeta a vida dos cidadãos e das empresas – a pilhagem de dinheiro público. Hoje, porém, diante dos escândalos bilionários que pipocam a cada dia por aí, os desfalques atribuídos a Ademar provavelmente seriam considerados uma gorjeta para o cafezinho.

Segundo cálculos da Polícia Federal, só o propinoduto montado na Petrobrás, envolvendo PMDB e PP, além do PT, deixou um prejuízo de R$ 42,8 bilhões, 40% a mais do que o custo total do Bolsa Família em 2016. Mais conservador, o Ministério Público calcula que o buraco tenha ficado em torno de R$ 20 bilhões, ainda assim bem acima das estimativas oficiais da empresa, divulgadas ainda no governo Dilma Rousseff, de “apenas” R$ 6 bilhões. No total, de acordo com um estudo realizado em 2010 pela Fiesp, a entidade que reúne os industriais paulistas, as perdas geradas por corrupção no País alcançam entre 1,38% (R$ 80 bilhões) e 2,3% (R$ 140 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB). Para efeito de comparação, a previsão do governo para 2017 é de um gasto de R$ 62,5 bilhões em educação e de R$ 110,2 bilhões em saúde.

“Os valores são estratosféricos. Às vezes (durante os depoimentos), eu repetia a pergunta para saber se estava entendendo bem, para saber se eram bilhões ou milhões”, afirmou recentemente o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Benjamim é o relator do processo que pode levar à cassação do presidente Michel Temer, como vice na chapa de Dilma, por causa do uso de recursos do petrolão na campanha de 2014, entre outras irregularidades sob investigação. “Nós, seres humanos normais, não temos condição de avaliar o que se pode comprar com aquilo.” A praga da corrupção se espalhou por praticamente todo o aparelho de Estado, patrocinada por políticos de quase todos os partidos. Envolve autoridades de todas as patentes, de norte a sul do País – ex-presidentes, ministros, parlamentares, governadores, prefeitos, além dos próprios partidos políticos. Atinge também, empresários, executivos, empresas estatais e grandes conglomerados privados. Até o presidente da República, Michel Temer, teria sido citado em investigações de corrupção feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. No Supremo Tribunal Federal (STF), correm hoje 84 processos criminais contra parlamentares, boa parte dos quais relacionados a atos de corrupção. Dos 81 senadores, 24 são acusados de práticas criminosas, dos quais 13 são alvo da Lava Jato. “Em comparação com outros países, a corrupção no Brasil é bem diferente, por ser altamente concentrada na esfera política”, diz o professor Matthew M. Taylor, da Universidade Americana, em Washington, nos Estados Unidos, coeditor do livro Corrupção e Democracia no Brasil (2011).

Com um Estado obeso, com cerca de 20 mil cargos reservados para livre nomeação dos políticos e tentáculos que se espalham por quase todos os campos da vida dos indivíduos e dos negócios, é até previsível que a bandalheira corra solta na República. O Estado onipresente, marcado pelo patrimonialismo e por um cipoal indecifrável de normas, favorece o tráfico de influência, os favores oficiais, as comissões por baixo do pano aqui e ali. Um caso emblemático do quanto o gigantismo estatal abre espaço para falcatruas é o que aconteceu na Petrobrás, com o petrolão. Algo parecido ocorreu com a Eletrobras, a usina de Angra 3 e os grandes fundos de pensão das estatais, que se viram obrigados a aumentar as contribuições dos associados para cobrir rombos bilionários em suas contas. “A corrupção se propaga onde há burocracia. E não existe um ambiente em que mais se propague a corrupção do que o trabalho que envolve funcionários públicos”, afirma o economista Luigi Zingales, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Embora seja na esfera política que a bandalheira impere, pelos valores envolvidos, a corrupção atinge de forma devastadora o cotidiano dos brasileiros, por meio dos achaques sofridos na hora de tirar a carteira de habilitação, conseguir um alvará da Prefeitura, receber uma multa da Receita Federal. “A população brasileira é vítima da corrupção diariamente”, afirma o advogado Modesto Carvalhosa, autor de O Livro Negro da Corrupção (1995). “O sujeito quer fazer uma garagem ou uma reforma na casa dele e vai lá um canalha de um fiscal de prefeitura para achacá-lo.” Segundo Carvalhosa, boa parte das mazelas sociais do País se deve à corrupção. Ele menciona um levantamento realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) segundo o qual a quantia desviada pela corrupção nos países em desenvolvimento é dez vezes maior que a destinada à assistência social. “Por que o Brasil só anda de lado?”, pergunta. “Porque a corrupção impede que haja bons serviços públicos de saúde, educação, transporte.” A corrupção tem também um impacto significativo nas decisões do setor privado. De acordo com Matthew M. Taylor, muitos investidores no exterior estão questionando se os riscos de compliance que correm no País valem a pena. Recentemente, o presidente da Ryanair, companhia área irlandesa de baixo custo, afirmou que iria ampliar as operações na América do Sul, mas não viria para o Brasil por causa da corrupção. “Iniciamos negociações em vários países, mas não no Brasil, porque há muita corrupção”, declarou, na Argentina. Fora isso, os malfeitos com o dinheiro público colocam em xeque a própria legitimidade do regime democrático e sua capacidade de atender às necessidades dos cidadãos. Taylor afirma que, segundo estudos recentes, o Brasil tem um dos menores índices de apoio à democracia na América Latina.

Neste cenário, é até natural que a corrupção tenha se tornado a principal preocupação dos brasileiros nos últimos anos, à frente da saúde, da educação e da segurança. De acordo com um levantamento realizado pela Transparência Internacional, uma organização que luta contra a corrupção no mundo, os partidos políticos e o Congresso são percebidos pela população como as instituições mais corruptas do País. Nada menos que 81% dos entrevistados no Brasil afirmam acreditar que os partidos estão envolvidos em corrupção e 72% dizem que o Congresso também está. Outro estudo, feito pelo Fórum Econômico Mundial, mostra que o Brasil só fica à frente da Venezuela e do Chad, empatado com a Bolívia, na lista dos países menos corruptos do mundo (veja os gráficos).

É sintomático que a população esteja procurando demonstrar a sua indignação com grandes protestos nas ruas. A corrupção foi uma das principais bandeiras levantadas pelos manifestantes durante os atos pelo impeachment de Dilma, em 2015 e 2016. Em 2013, a corrupção também esteve no centro dos protestos que se seguiram ao aumento do transporte público. Nas redes sociais, há uma cruzada anticorrupção em andamento, impulsionada principalmente pela determinação do juiz Sergio Moro e pela força-tarefa da Lava Jato. Alguns analistas ainda insistem em afirmar que a insatisfação popular se deve quase exclusivamente à crise econômica, mas ao que tudo indica a relativa tolerância contra a corrupção, observada em outros tempos, parece ter ficado para trás. Até na Câmara Federal, onde predomina, muitas vezes, o fisiologismo, foi organizada uma frente contra a corrupção, para apresentar medidas, monitorar as iniciativas do legislativo e evitar retrocessos na área. “Os brasileiros estão bravos e desapontados. Os que forem considerados culpados têm de pagar pelos crimes que cometeram”, diz José Ugaz, presidente da Transparência Internacional, que prestou apoio à Operação Lava Jato ao visitar o juiz Sergio Moro em junho, em Curitiba. “A sociedade brasileira não aceita mais a corrupção”, diz José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República(ANPR). “A corrupção vem sendo tolerada no Brasil desde as capitanias hereditárias, mas é incompatível com a construção de um Brasil moderno.” Em março, aproveitando o momento, o Ministério Público Federal apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de lei de iniciativa popular, com uma série de propostas para aperfeiçoar o combate à corrupção no País. Batizado com o nome de 10 medidas contra a corrupção, o projeto recebeu o apoio de mais de dois milhões de pessoas, 500 mil a mais que o necessário, em  apenas nove meses. Jamais um projeto de iniciativa popular havia obtido tantas assinaturas em tão pouco tempo. A Lei da Ficha Limpa, também apresentada por iniciativa popular e aprovada em 2010, levou mais de um ano para coletar as assinaturas necessárias. Na semana passada, depois de um amplo debate na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) apresentou seu relatório para a matéria. O relatório transformou as 10 medidas do Ministério Público em 18, eliminou as propostas mais polêmicas, como as restrições ao habeas corpus e a prisão preventiva, e acrescentou outras, como o programa de proteção a informantes. Lorenzoni não resistiu ao lobby corporativista do funcionalismo público e acabou aliviando de forma significativa o chamado teste de idoneidade a ser aplicado sem o conhecimento dos servidores, mas no geral manteve o espírito do projeto original (leia o quadro). Segundo o deputado, o relatório deverá ser votado na próxima quinta- feira na CCJ e, se for aprovado, poderá ser apreciado pelo plenário na outra semana, antes de seguir para o Senado. “Essa é uma das maiores ações integradas entre a sociedade brasileira e o Parlamento”, afirma Lorenzoni. “Se as 10 medidas forem aprovadas pelo Congresso como estão propostas, nessa nova formatação, o Brasil em meia década vai se tornar uma referência no combate à corrupção.” Ainda há muitos obstáculos para chegar lá.

A ofensiva contra a mudança é agressiva. A principal trincheira está no próprio Legislativo.

É difícil imaginar que um projeto que endurece a legislação consiga passar incólume pela Câmara e pelo Senado, que estão recheados de parlamentares envolvidos em casos de corrupção e caixa 2. Nas sombras, articula-se a aprovação de uma anistia aos parlamentares que praticaram caixa 2 na campanha eleitoral.

Até dispositivos incluídos no próprio projeto das 10 medidas, como o que criminaliza o caixa 2, estão sendo vistos como uma oportunidade para conceder um perdão geral aos parlamentares envolvidos em irregularidades. Um projeto articulado pelo deputado André Moura (PSC-SE), líder do governo na Câmara, pretende, na prática, “melar” a Lava Jato. o projeto propõe a extinção de penas e processos contra empreiteiras, empresários e executivos envolvidos em casos de corrupção, por meio da celebração de acordos de leniência com o Executivo, sem a participação do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União. “É o maior escândalo legislativo que eu já vi em matéria de corrupção”, diz Modesto Carvalhosa. “Os corruptos do Congresso estão montando um esquema para anular tudo o que foi e o que poderá ser feito pela Lava Jato.” No Senado, o próprio presidente da Casa, Renan Calheiros, apresentou um projeto para endurecer as punições por abuso de autoridade, que parece feito sob medida para dificultar a vida do Ministério Público e prejudicar a continuidade da Lava Jato. A forma como ele reagiu à prisão de integrantes da chamada Polícia Legislativa, ao chamar o juiz que autorizou a iniciativa, Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, de “juizeco de primeira instância”, dá uma medida do estado de ânimos no Congresso em relação às acusações e investigações de que são alvo. “As operações legislativas de combate à corrupção são algo com o qual se precisa tomar cuidado”, afirma José Robalinho Cavalcanti. “Desde antes do impeachment, havia resistências e projetos de lei problemáticos, que foram apresentados pela base do governo anterior, como o que propõe alterar a Lei das Organizações Criminosas na questão da delação premiada.” Com vários políticos acusados de corrupção e outras irregularidades, o Judiciário ganhou um protagonismo inédito, mesmo quando se leva em conta o papel desempenhado no mensalão.

Tantos são os casos que chegam, hoje, ao Supremo Tribunal Federal (STF), encarregado de julgar os congressistas, que ele se transformou praticamente em Corte criminal, sem ter estrutura para isso. Resultado: o STF leva, em média, oito anos para julgar os processos que envolvem foro privilegiado, o que reforça a percepção de impunidade dos caciques de Brasília.

“Uma das ironias da atual situação do Brasil é que a investigação de corrupção levou o pêndulo muito fortemente na direção dos procuradores, promotores e juízes, dando-lhes mais poder.

Mas o sistema Judiciário no Brasil não tem funcionado de forma tão efetiva quanto deveria.

É um dos mais caros, mais ineficientes e mais retrógrados do mundo”, diz Taylor, da Universidade Americana. “O STF é muito tímido, tem medo de ofender as elites, especialmente as elites políticas.” Diante das iniciativas que colocam em risco o combate à corrupção, as organizações sociais estão atentas. Hoje, de acordo com Kim Kataguiri, coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos organizadores dos atos em defesa do impeachment de Dilma, não há “clima” para a realização de manifestações de apoio à Lava Jato e de apupo às ameaças de anistias e quetais no Congresso. Mas Kataguiri diz que o MBL está atento às manobras, pressionando os congressistas e mobilizando a sociedade por meio das redes sociais. Tal estratégia, segundo ele, tem produzido bons resultados, já que o MBL alcança de 50 a 55 milhões de pessoas por semana pelas redes. “Parte dos congressistas parece pensar que, com a queda da Dilma e do PT, a população esqueceu que a corrupção brasileira existe”, afirma.

“Mas a sociedade continua ativa, alerta. É uma cegueira imaginar que a opinião pública não está vendo o que está acontecendo.” O combate à corrupção, como se vê, é um desafio gigantesco e exige uma mobilização permanente, para o processo não dar marcha à ré.

Agora, a luta contra a corrupção traz também alguns riscos, que não podem ser desprezados.

Como é uma bandeira de alta aceitação popular, dada a bandalheira que corre solta no País, costuma atrair oportunistas e demagogos de todas as colorações ideológicas. Ao longo da história, a luta contra a corrupção e os privilégios do setor público já atraiu salvadores da Pátria, como o caçador de marajás, Fernando Collor, e Jânio Quadros, cujo símbolo de campanha sempre foi a vassoura. Deu no que deu.

Collor sofreu o impeachment como presidente, em 1992. Jânio renunciou à Presidência e jogou o País numa crise que acabou levando à intervenção militar de 1964.

 

Os temas de ‘A Reconstrução do Brasil’

 

11/9 Reforma Constitucional

25/9 Reforma Política

2/10 Contas Públicas

9/10 Funcionalismo

15/10 Previdência Social

30/10 Reforma Trabalhista

6/11 Reforma do Estado

Próximo capítulo  - Impostos

 

O PANORAMA DA BANDALHEIRA

A corrupção mancha a imagem do País no exterior e, segundo as pesquisas, envolve principalmente os políticos e os partidos

 

Desvio de recursos

Em uma amostra de 138 países, o Brasil só ficou à frente da Venezuela e do Chad, empatado com a Bolívia, no ranking dos países em que há menos desvio de recursos públicos para empresas, grupos e indivíduos

 

1º - NOVA ZELÂNDIA - 6,4

14º - REINO UNIDO – 5,8

20º - JAPÃO – 5,4

24º - FRANÇA / ALEMANHA – 5,0 / 5,0

26º - ESTADOS UNIDOS - 4,9

32º - URUGUAI - 4,6

34º - ÍNDIA - 4,5

43º - CHILE -4,2

44º - CHINA -4,1

50º - PORTUGAL - 3,9

87º - ITÁLIA - 3,2

91º - ESPANHA/ RÚSSIA- 3,1/3,1

125º - MÉXICO - 2,3

128º - ARGENTINA -2,2

135º - BRASIL / BOLÍVIA - 1,8/ 1,8

137º - CHAD - 1,6

138º - VENEZUELA -0 1,2

 

Fontes de corrupção

Os partidos políticos e o Congresso Nacional são consideradas as instituições mais corruptas do País

 

PARTIDOS POLÍTICOS - 81

CONGRESSO NACIONAL - 72

POLÍCIA - 70

SISTEMA DE SAÚDE - 55

JUSTIÇA - 50

FUNCIONALISMO PÚBLICO - 46

IMPRENSA - 38

EMPRESAS - 35

ONGs - 35

SISTEMA EDUCACIONAL - 33

IGREJAS - 31

FORÇAS ARMADAS – 30

 

FONTE: TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL/BARÔMETRO DE CORRUPÇÃO GLOBAL 2013

 

NA MIRA DA LEI

Como ficou o projeto que fortalece o combate à corrupção no País – elaborado com base nas propostas feitas pelo Ministério Público Federal – e quais são as manobras em andamento no Congresso Nacional para beneficiar parlamentares, empresas e empresários envolvidos em casos de corrupção

 

O tema

Caixa dois e outras irregularidades

As principais medidas do projeto

Incorpora a sugestão do Ministério Público (MP), de criminalização da prática de caixa dois eleitoral, com penas de dois a cinco anos de prisão. Propõe o enquadramento da prática de lavagem de dinheiro em atividades eleitorais ou partidárias na Lei 9.613/98, com penas de três a dez anos de reclusão. Os dirigentes partidários deverão responder criminalmente por irregularidades envolvendo as siglas. Os doadores também poderão ser criminalizados. As multas aplicadas aos partidos vão variar de 5% a 30% dos repasses do fundo partidário, em vez dos 10% a 40% propostos pelo MP. Foi retirada do projeto a possibilidade de o MP solicitar a perda de registro do partido pela prática de caixa dois

 

O tema

Enriquecimento ilícito

As principais medidas do projeto

Propõe a criminalização do enriquecimento ilícito de funcionários públicos, conforme sugestão do MP, mantendo o ônus da prova com a acusação. As penas poderão variar de três a oito anos de prisão, com agravamento da pena de metade a 2/3, se a propriedade de bens e valores for atribuída de forma fraudulenta a terceiros. O projeto incluiu a pena de multa entre as sanções

 

O tema

Habeas corpus, provas ilícitas e prisão preventiva

As principais medidas do projeto

Retira do projeto a restrição ao habeas corpus, a prisão preventiva e a admissão de provas ilícitas nos processos, desde que obtidas de boa fé, sugeridas pelo MP. As três questões deverão ser discutidas pela Comissão Especial da Câmara que analisa mudanças no Código Penal

 

O tema

Teste de integridade

As principais medidas do projeto

Institui o teste de integridade para qualquer funcionário público, em linha com a proposta do MP, para avaliar, sem o conhecimento dos servidores, a conduta moral e a predisposição para cometer atos ilícitos. Mas suaviza a aplicação do teste ao estabelecer que seus resultados só possam ser usados para fins administrativos e ao determinar que ele só possa ser aplicado depois que os funcionários do respectivo órgão passaram por um curso de esclarecimento

 

O tema

Informantes (whistleblower

As principais medidas do projeto

Criação do programa de proteção a informantes que relatarem episódios de corrupção, com proteção de sua identidade. Para incentivar as denúncias, o informante poderá receber até 20% do valor recuperado pelo Estado com a informação ou do valor cujo desvio se tenha evitado

 

O tema

Aumento das penas

As principais medidas do projeto

Ampliação das penas e escalonamento de acordo com os valores envolvidos nas irregularidades, conforme a proposta do MP. Nos casos que envolverem mais de 100 salários mínimos, a pena será de 7 a 15 anos; nos de mais de 1.000 mínimos, de 10 a 18 anos; e nos de mais de 10 mil mínimos; de 12 a 25 anos de reclusão

 

O tema

Prescrição penal

As principais medidas do projeto

Impõe restrições aos prazos de prescrição penal, conforme sugestão do MP.

Aumenta o prazo de prescrição em 1/3 quando houver sentença condenatória, mas ainda couber recurso. Abre novas possibilidades de interrupção da contagem de prazo, como no caso de fuga do condenado. O prazo de prescrição deixa de “correr” enquanto não houver ressarcimento integral dos danos ou em caso de nova denúncia

 

O tema

Crime hediondo

As principais medidas do projeto

Transforma em crimes hediondos, de acordo com proposta do MP, os crimes de peculato (desvio de dinheiro público em benefício próprio ou de terceiros), concussão (exigência indevida de cobrança), inserção de dados falsos em sistema de informações e atos de corrupção passiva e ativa, nos casos que envolverem valores superiores a mil salários mínimos, com o objetivo de evitar benefícios penais aos condenados

 

O tema

Prisões de condenados

As principais medidas do projeto

Prevê a prisão de condenados em segunda instância, antes do julgamento de recursos em tribunais superiores, conforme entendimento já manifestado pelo STF.

Também prevê o confisco de bens e valores resultantes de crimes como corrupção, roubo, estelionato, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro nesta etapa

 

O tema

Acordo de leniência

As principais medidas do projeto

Regulamenta a realização de acordos de leniência pelo Ministério Público com pessoas físicas e empresas envolvidas em atos de corrupção e a participação do MP, “como fiscal da ordem jurídica”, quando o acordo for firmado com órgãos ligados ao Poder Executivo

 

O tema

Crimes de responsabilidade

As principais medidas do projeto

Estende a juízes e integrantes do ministério Público os crimes de responsabilidade, hoje restritos ao presidente da República, aos ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal, ao Procurador-geral da República e aos governadores e secretários de Estado. São considerados crimes de responsabilidade exercer atividade político partidária, ser preguiçoso no trabalho, julgar uma ação em caso de impedimento ou suspeição, agir de modo incompatível com a dignidade e o decoro e manifestar, por qualquer meio, opinião sobre processo pendente de julgamento

 

O tema

Ação popular

As principais medidas do projeto

Permite a qualquer cidadão propor, conforme sugestão do Conselho Federal da OAB e da Associação de Juízes Federais (Ajufe), ação popular para anular ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, com isenção de custas judiciais

 

As manobras de parlamentares

Caixa 2

A aprovação do projeto que criminaliza o caixa dois eleitoral poderá promover, por tabela, uma anistia para os parlamentares e os partidos envolvidos em irregularidades contábeis. Um grupo de deputados entende que, como a nova lei não pode ter efeito retroativo, as irregularidades praticadas antes de sua aprovação serão automaticamente perdoadas. Os parlamentares também podem apresentar emendas ao projeto, com o objetivo explícito de promover uma anistia geral para a prática de caixa dois, para serem votadas pelo plenário da Câmara

 

Acordos de leniência

O deputado André Moura (PSC-SE), líder do governo na Câmara, articula a votação de um substitutivo ao projeto 3636/2015, do qual ele foi relator, que permitirá a realização de acordos de leniência pelo Executivo com empresas envolvidas em casos de corrupção, sem a participação do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União. O projeto poderá levar à extinção dos processos e condenações criminais envolvendo empreiteiras e seus controladores e executivos e ao fim da operação Lava Jato. O objetivo é aliviar também as sanções administrativas, como as multas e a proibição de as empresas prestarem serviços ao poder público

 

Abuso de autoridade

A votação do projeto de lei apresentado pelo senador Renan Calheiros, presidente do Senado, que estabelece punições para o abuso de autoridade, inclui artigos que podem intimidar a ação de policiais, procuradores e juízes e ameaçar a continuidade

da Lava Jato e de outras operações do gênero em andamento no País

 

Foro privilegiado

O adiamento da votação de projetos que limitam o foro privilegiado – o dispositivo que garante o julgamento de autoridades pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – na Câmara e do Senado poderá favorecer a impunidade, já que a Corte leva, em média, oito anos para julgar cada caso