Valor econômico, v. 17, n. 4124, 03/11/2016. Agronegócios, p. B12

'Blairo Maggi tem boa vontade, mas o tempo é curto'

O ex-ministro Roberto Rodrigues, que aprova a estratégia internacional do governo

Por: Cristiano Zaia

 

Defensor de uma política agrícola que integre crédito e seguro como instrumentos de garantia real de renda aos produtores rurais, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, avalia que o governo do presidente Michel Temer deu atenção ao setor ao escolher o senador Blairo Maggi para comandar o ministério. Mas ele não acredita que até 2018, quando termina o mandato de Temer, haverá tempo hábil para a implantação das políticas modernas necessárias voltadas ao campo.

"O governo não vai conseguir construir muita coisa na área do agronegócio. Só vai dar para colocar os trilhos, nem pôr os trens para andar vai dar tempo", afirmou Rodrigues ao Valor. "O ministro Maggi tem boa vontade e está decidido a criar um seguro de renda nesse país, mas ele terá pouco tempo para isso".

Rodrigues, que participou na terça-feira do seminário "Agro em Questão - Alimentos Saudáveis", promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse que tentou contribuir nas discussões com um projeto encomendado pelo Ministério da Fazenda e gestado na Fundação Getúlio Vargas (FGV) que propõe que as políticas de preço mínimo, de seguro e de crédito sejam associadas. "Mas o governo mudou e a discussão ficou parada na Fazenda", afirmou.

O plano, que contou com o apoio da ex-ministra Kátia Abreu, era encaminhar ao Congresso um projeto de Lei Agrícola Plurianual que previsse um orçamento de longo prazo para agricultura e contemplasse recursos para área por períodos de cinco anos, para evitar contingenciamentos. Roberto Rodrigues afirmou que sugeriu ao ministro Blairo Maggi que aproveite o projeto.

De olho na crônica falta de recursos do governo, Blairo criou um grupo de trabalho para estruturar uma solução para o seguro rural que também envolvesse o setor privado, tirando do governo parte do peso de financiar a área. A ideia original era montar um fundo privado, mas o grupo tem se debruçado agora em convencer empresas como revendas de insumos a bancar parte do prêmio ao seguro, depois que os fabricantes de fertilizantes e agroquímicos não aceitaram pagar parte dos custos das apólices dos produtores.

Apesar das dificuldades, Rodrigues se mostrou "confiante" na estratégia do atual governo para a abertura de novos mercados para os produtos do agronegócio do país. E lembrou que a expectativa internacional é que o Brasil represente 40% do aumento da produção global de alimentos até 2020. "E isso se faz ganhando mercados, preservando o ambiente e com segurança alimentar. Não há outro caminho."