Valor econômico, v. 17, n. 4133, 17/11/2016. Política, p. A9

Interrogada, mulher de Cunha nega ter sabido de propinas

Por:  André Guilherme Vieira

 

Interrogada ontem na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, em ação penal a que responde por lavagem de dinheiro e evasão de divisas relacionadas ao esquema de corrupção da Petrobras, a jornalista Cláudia Cruz, mulher do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou que soubesse do fato de ser titular de uma conta no banco suíço Julius Baer, que recebeu recursos originados por pagamentos de propinas. Ela é acusada de ser destinatária de cerca de US$ 1 milhão envolvendo a aquisição pela Petrobras de um campo petrolífero em Benin, na África, em 2011.

"Eu assinei vários papéis. Se eram de um cartão ou de uma conta eu não sei", afirmou, ao responder às perguntas feitas por seu advogado, Pierpaolo Cruz Bottini. Cláudia informou ao juiz Sergio Moro que não responderia a questionamentos do juízo ou do Ministério Público Federal (MPF).

Segundo Cláudia, quando surgiam notícias de que Eduardo Cunha era o beneficiário de dinheiro roubado da Petrobras, o hoje ex-presidente da Câmara dos Deputados "ficava muito bravo".

"Quando essas matérias vinham à tona, quando essas notícias saíam, o Eduardo ficava muito bravo. Muito, com muita raiva. Socava a mesa e eu idem", respondeu, quando indagada se conversou com o marido sobre a origem dos recursos.

Cláudia também justificou o uso de cartão de crédito no exterior entre 2008 e 2009 para "custear gastos dos estudos e gastos de consumo" dos filhos que ela tem com Eduardo Cunha.

Segundo a versão de Cláudia, o cartão de crédito internacional estava no nome dela porque "os [filhos] meninos poderiam precisar, como foi necessário, que eu viajasse com eles, sem a presença do Eduardo. E isso aconteceu várias vezes", justificou.

Ela negou a intenção de ocultar ou dissimular gastos no exterior e disse que os cartões de crédito dela eram pagos por Cunha.

Questionado pelo advogado se Eduardo Cunha já tinha patrimônio quando a conheceu, Cláudia Cruz respondeu que sim.

"Eu já conheci meu marido (...) sabendo que ele atuava em comércio exterior, que ele atuava em bolsa de valores, que ele tinha patrimônio do mercado imobiliário".

Ela também afirmou que o padrão de vida do casal não se alterou ao longo dos anos.

"O padrão se manteve exatamente o mesmo. A gente sempre teve uma vida muito próspera", afirmou.