Valor econômico, v. 17, n. 4135, 21/11/2016. Política, p. A6

Assessores tentam convencer Temer a demitir Geddel do ministério

Por: Andrea Jubé

 

O presidente Michel Temer abre hoje a primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão", em meio a uma nova crise no primeiro escalão com potencial para ofuscar a agenda positiva. Um dos homens fortes de sua gestão, responsável pela articulação política com o Congresso, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, terá os próximos dias para comprovar se tem condições de permanecer no cargo, após as declarações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que se demitiu na sexta-feira e o acusou de abuso de poder e tráfico de influência.

De acordo com Calero, Geddel o teria pressionado para interferir no licenciamento de um empreendimento imobiliário em Salvador pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A autarquia embargou a construção de um edifício de 35 andares no centro histórico de Salvador, limitando a altura máxima do empreendimento a 13 andares. Geddel adquiriu um apartamento no 23° andar.

Temer já começou a sofrer pressão de um grupo de auxiliares que recomendaram o afastamento de Geddel, antes que a crise contamine o governo. Mas o presidente adotará a mesma estratégia a que recorreu na crise envolvendo o então ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), um de seus aliados mais próximos.

Quando foram publicados os diálogos gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em que Jucá sugere que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria [da Lava-Jato]", Temer orientou o então ministro a conceder entrevistas para se explicar. A avaliação da cúpula do Planalto, contudo, foi de que Jucá não se saiu bem, e sua permanência na equipe econômica desestabilizaria o governo. Jucá caiu no mesmo dia: não resistiu a 12 horas da repercussão da denúncia.

No caso de Geddel, Temer pediu ao auxiliar que desse várias entrevistas, expondo, "com tranquilidade", sua versão dos fatos. Desde sábado, o ministrou falou com uma dezena de veículos. Sustentou que era mentira que teria ameaçado de pedir a demissão da presidente do Iphan, Kátia Bogéa, a Temer. Admitiu que comprou o apartamento no Edifício La Vue, na Ladeira da Barra, em Salvador, mas negou que tivesse pressionado o colega de Esplanada.

Em conversa com o Valor, o novo ministro da Cultura, deputado Roberto Freire (PPS-SP), adiantou que se reúne hoje com Temer para tratar da posse e das ações futuras da pasta. Freire chega em tom apaziguador. Ele minimiza a turbulência que envolve sua futura pasta e o Planalto: "não é assunto delicado, é apenas um problema, e será facilmente superado", diz, colocando panos quentes sobre o atrito entre seu antecessor e Geddel.

Questionado sobre a resolução do impasse, Freire adiantou que o ato da autarquia será mantido. "Minha gestão será de continuidade, a decisão será mantida", afirmou. "Se quiserem judicializar, já não será mais da alçada do ministério", concluiu.

Hoje, enquanto Temer discursa no Conselhão, a Comissão de Ética Pública da Presidência, que fiscaliza a aplicação do Código de Conduta da Alta Administração Federal, abrirá um processo para investigar a conduta de Geddel. O colegiado não tem poder de sanção, mas pode recomendar ao presidente punições a integrantes do governo. Em outra frente, na Câmara dos Deputados, o deputado Jorge Solla, do PT da Bahia, vai apresentar requerimento para que Marcelo Calero preste esclarecimentos à Comissão de Fiscalização e Controle sobre suas denúncias.

Ao Valor, Geddel afirmou que está confortável no cargo e cumprirá sua rotina normal. Ele passou o fim de semana em Salvador, onde mora, e manteve contato com Temer pelo telefone. Negou que tenha agenda específica com Temer para tratar do assunto. "Falo com ele [Temer] por telefone dez vezes por dia, não preciso tratar pessoalmente, vou cuidar da agenda de trabalho", disse.