Valor econômico, v. 17, n. 4138, 24/11/2016. Política, p. A5

Chegada de Freire 'salva o Brasil', diz Temer em posse

Roberto Freire toma posse na Cultura: cerimônia que teve a participação do presidente Michel Temer aconteceu em sala fechada, sem acesso à imprensa

Por: Andrea Jubé e Bruno Peres

 

Na solenidade de posse do novo ministro da Cultura, Roberto Freire, o presidente Michel Temer evitou citar o nome do ministro demissionário Marcelo Calero. Em meio à polêmica provocada pelas acusações de Calero de ingerência política do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, a cerimônia ocorreu em uma sala fechada no 3º andar, à qual a imprensa não teve acesso. Temer afirmou que, com a chegada de Freire, o governo "vai ganhar céu azul, vai ganhar velocidade de cruzeiro e vai salvar o Brasil". Freire afastou-se da presidência do PPS para assumir o ministério.

À tarde, Temer prestigiou - ao lado do ex-presidente José Sarney (PMDB), - a inauguração da nova escola de formação e qualificação de quadros do Tribunal de Contas da União (TCU), quando voltou a afirmar que o Brasil está em recessão. Temer e o presidente do TCU, Aroldo Cedraz, referiram-se à obra - orçada em mais de R$ 100 milhões - como uma construção "franciscana".

O evento reuniu boa parte dos políticos que participaram do almoço na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), há duas semanas: além de Temer e Sarney, o presidente do TCU, Aroldo Cedraz, e os ministros do TCU Vital do Rêgo Filho e Bruno Dantas.

"Estamos numa recessão, precisamos sair dela para alcançar o crescimento, e no crescimento gerar emprego, porque as coisas não se fazem num passe de mágica", disse o presidente. "É preciso uma conjugação de fatores para o combate à recessão, em seguida o combate ao desemprego", completou.

Fora da cena política - embora atuante nos bastidores, - o ex-presidente José Sarney reapareceu ontem no evento para elogiar Temer. Ele cumprimentou o correligionário pelo "trabalho que está fazendo, num momento difícil, arcando com as responsabilidades e suportando as dificuldades que um momento como esse exige".

A posse de Roberto Freire fugiu da tradição, que são as solenidades abertas à imprensa. Foi a segunda cerimônia fechada: a anterior foi a do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. Temer evitou citar o nome do antecessor no cargo, que saiu atirando contra um de seus braços-direitos, o ministro Geddel Vieira Lima.

Durante o discurso, Temer relembrou que Roberto Freire havia sido inicialmente convidado para a pasta, que depois acabou extinta pela reforma ministerial. Contudo, depois dos apelos do setor cultural, Temer relatou que revisou o ato, mas já tinha um titular na então Secretaria da Cultura, que seria alçada ao status de ministério.

Nesse momento, Temer evitou citar o nome de Calero. "E foi imediatamente o que eu fiz mediante revisão desse ato [a extinção do Ministério da Cultura]", lembrou. "Mas a esta altura não possível levá-lo porque havia outro companheiro já ocupando a Secretaria da Cultura e as coisas assim se passaram", completou, sem citar o nome do antecessor de Freire.

Em sua manifestação, o novo titular da Cultura declarou apoio à Operação Lava-Jato. Segundo Freire, o momento requer "temperança, ousadia e apoio à Lava-Jato", para que seja possível superar essa etapa. Ele defendeu a necessidade do "diálogo" e a construção de consensos para superar as diferenças no ambiente político e econômico, "sem revanchismo".

Freire começou o seu discurso com um ato falho. Ao cumprimentar o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, confundiu-se e referiu-se a ele como "ministro Eliseu Resende". Morto em 2011, Eliseu Resende foi ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, ministro dos Transportes no governo João Figueiredo, presidente de Furnas e senador pelo DEM de Minas Gerais.

Temer correu para minimizar o deslize. "Interessante, quando o Roberto se equivocou no nome do Padilha, falando "Eliseu Resende", ele quis significar, na verdade, o longo período de atuação política que teve em todos esses anos", contemporizou.

Temer ressaltou que Freire traz para o governo a "simbologia de quem tem um passado de lutas em favor do Brasil". Ambos atuaram juntos na Assembleia Constituinte.