Ex-deputado foi cassado porque 'plantou vento e colheu tempestade', diz Renan

Fabio Murakawa e Vandson Lima

14/09/2016

 

 

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), protagonizaram ontem uma troca de farpas horas após o fim da sessão que sacramentara a cassação do mandato do ex- deputado fluminense, no início da madrugada de terça-feira.

Em entrevista coletiva, Renan usou duas frases de efeito para se referir à cassação, ambas rebatidas horas depois em uma nota assinada por Cunha.

"Eu não quero de forma nenhuma falar sobre isso. Mas quem planta vento colhe tempestade. É a lei da natureza", disse Renan, tido como um desafeto do companheiro de partido.

Em seguida, os jornalistas citaram o trecho do discurso de defesa de Cunha no plenário da Câmara, em que o ex-deputado chegou a dizer que os processos contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) corriam com velocidade maior do que aqueles que tinha como alvo o senador alagoano.

Questionado pelos jornalistas sobre isso, Renan limitou-se a afirmar: "Afasta esse cálice de mim".No meio da tarde, Cunha emitiu um comunicado em que disse esperar que os "ventos" das denúncias contra Renan que tramitam no Supremo "não se transformem em tempestade". E citou o nome de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que em delação premiada afirmou haver repassado R$ 32 milhões em propinas a Renan.

"Espero que os ventos que nele [Renan] chegam através de mais de uma dezena de delatores e inquéritos no STF, incluindo Sérgio Machado, não se transformem em tempestade. E que ele consiga manter o cálice afastado dele", disse Cunha no comunicado.

Na entrevista, Renan disse que a cassação de Cunha permitiria destravar a agenda do Congresso Nacional. "Do ponto de vista da agenda, as coisas vão melhorar", disse o senador. "Nós estamos em pleno processo de eleição municipal, mas o nosso propósito é na retomada, logo após as eleições, nós construirmos uma agenda que possa expressamente ser votada na Câmara e no Senado."

Cunha também rebateu, afirmando que não houve durante seu mandato "matérias de caráter relevante oriundas do Senado que deixássemos de apreciar em plenário". "Ao contrário do Senado, que deixou de apreciar vários temas importantes aprovados na Câmara", afirmou o ex-deputado.

Para Renan, a reforma política deve ser a prioridade do Congresso, após as eleições municipais. "Essa é a minha expectativa. A política é a primeira das reformas, porque o nosso sistema político representativo está bastante avariado. E nada melhor do que uma reforma para que a gente possa reorientá-lo", afirmou.

Renan também elogiou o sucessor de Cunha, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dizendo que com ele na presidência "nós vamos ter condições, sim, de encaminhar uma proposta para que a reforma possa igualmente ser aprovada na Câmara".

Em uma coletiva após a sua cassação na Câmara, Cunha prometeu lançar um livro em que relatará "todos os diálogos" que manteve com colegas político ao longo da tramitação do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, que ele comandou. Questionado pelo Valor sobre se compraria um exemplar, Renan respondeu: "Vou, sim. Ele vai lançar mesmo?"