FMI recomenda mais impostos

 
22/07/2016
Rosana Hessel

 

O Brasil deveria aumentar impostos para complementar o ajuste fiscal, recomendou o Fundo Monetário Internacional (FMI), em documento divulgado ontem em Washington. A instituição vê espaço limitado para o Banco Central cortar juros agora e recomenda que o governo do presidente em exercício, Michel Temer, avance com o ajuste fiscal, incluindo “medidas tributárias”, forma usada pelo organismo multilateral para sugerir elevação de impostos, além de propor uma reforma da Previdência.

O documento foi preparado para apoiar a participação da presidente do fundo, Christine Lagarde, na reunião do G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, que começa amanhã, na China. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, representará o Brasil. O relatório faz recomendações aos governos dos integrantes do grupo. No caso brasileiro, destaca, ainda, que o país terá que conviver com juros altos por algum tempo.

“No Brasil, o espaço para políticas de estímulo monetário é limitado por pressões inflacionárias subjacentes, e a consolidação fiscal deve continuar para reduzir os grandes deficits (nas contas públicas). O novo governo deve complementar o limite proposto para os gastos federais correntes com medidas tributárias e enfrentar a rigidez de gastos e mandatos insustentáveis, inclusive no sistema de previdência”, afirma o texto. Outra recomendação é avançar com o programa de concessões na área de infraestrutura.

Os dados do FMI mostram que, assim como o Brasil, a maioria dos países emergentes possui, em maior ou menor grau, saldo negativo nas contas públicas. Até mesmo o Chile, apontado como a nação latino-americana com maior estabilidade na região, deve manter um deficit fiscal médio de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2019. “A receita vem caindo na maioria das economias do mundo. Acho que houve um sentimento exagerado em relação ao equilíbrio fiscal, pois a média dos deficits dos países emergentes é de 1,4% do PIB”, observou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

O Brasil, porém, está numa situação mais difícil. Além de possuir um deficit que pode chegar a 2,7% do PIB neste ano, possui uma dívida pública muito elevada e taxas de juros mais altas. “Comparar situações fiscais de países é uma tarefa ingrata. No Brasil, a conta de juros é muito alta e o país precisa de um resultado fiscal melhor que os demais para conter o crescimento da dívida”, explicou Bruno Lavieri, sócio da 4E Consultoria.

 

Projeções

A dívida pública bruta do Brasil é uma das maiores do planeta e, pelas projeções do FMI, chegará a 80% do PIB em 2017 e a 91,7% em 2019. Neste ano, o Brasil deverá ultrapassar a Índia. Nesta semana, a instituição melhorou as perspectivas de crescimento do PIB brasileiro, reduzindo de 3,8% para 3,3% a expectativa de queda neste ano e projetando crescimento de 0,5% em 2017. Mesmo assim, o organismo avalia que as contas públicas do país só voltarão ao terreno positivo em 2020.

Para a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, além de aprovar a proposta de emenda à Constituição que limita o crescimento das despesas públicas, o governo precisará fazer um esforço anual de R$ 50 bilhões nos próximos anos. Ainda assim, nas contas dela, a dívida bruta só começará a cair a partir de 2023.

 

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Emergentes estão vulneráveis

 

22/07/2016

 

Nova York — Depois de uma década acumulando dívidas, as economias dos países emergentes estão ficando cada vez mais vulneráveis a choques externos, alertou a agência de classificação de risco Moody’s, em relatório divulgado ontem. Na América Latina, o endividamento aumentou mais rapidamente no Brasil e no México.

Segundo o documento, a dívida externa total dos mercados emergentes quase triplicou em 10 anos, passando de US$ 3 trilhões, em 2005, para US$ 8,2 trilhões no fim do ano passado. Em muitos países, o total de débitos está crescendo mais rápido do que o Produto Interno Bruto (PIB) e as reservas internacionais.

A Moody’s analisou dados de 83 economias emergentes. Na Brasil, a relação entre a dívida externa e o PIB subiu para 38% em 2015, partindo de 22% em 2005. Embora se trate de um nível ainda relativamente baixo num contexto global, a  proporção continuará crescendo se a economia brasileira continuar em retração.

Ao contrário do que ocorria no passado, o aumento da dívida dos emergentes vem sendo impulsionado pelo setor privado, em vez do público. Desde 2005, a dívida externa de bancos e empresas cresceu a um ritmo anual de 14,3%, comparado à taxa de 5,9% para o setor público, incluindo companhias estatais. A Moody’s prevê crescimento lento da economia global e baixos preços das commodities por vários anos. Isso prejudicará as receitas cambiais e a acumulação de reservas dos países exportadores de commodities, agravando a situação dos mais endividados. Caso as taxas de juros nos Estados Unidos continuem subindo, o fluxo internacional de capitais para os emergentes tenderá a diminuir. “Embora as coisas evoluam de forma diferente de país para país, essas tendências mostram que os mercados emergentes são agora mais suscetíveis a crises econômicas amplas do que alguns anos atrás”, afirmou Elena Duggar, diretora da Moody’s.

 

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US$ 1,5 bi em títulos

 

22/072016

 

O Tesouro Nacional fez uma emissão de US$ 1,5 bilhão em títulos públicos no mercado dos Estados Unidos com prazos de 30 anos. O papel com vencimento em 21 de fevereiro de 2047, o Global 2047, foi vendido com taxa de juros de 5,875% ao ano e cupom semestral de 5,625% anuais. O spread cobrado pelos investidores foi de 357,20 pontos-base sobre os títulos do Tesouro norte-americano. Esse é o prêmio de risco mais alto pago para esse tipo de papel desde novembro de 2005.

A última venda de títulos de 30 anos nos EUA foi realizada em 2014, com o Global 2045. Foram emitidos US$ 3,550 bilhões, com remuneração de 5,131% ao ano e cupom semestral de 5% anuais. O spread da operação foi de 187,5 pontos, ou seja, praticamente a metade do fechado ontem.

 

Confiança

“O spread, apesar de mais alto do que a última emissão do mesmo tipo de papel, mostra uma queda do prêmio de risco desde o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Além disso, a demanda maior que a oferta indica uma tendência de que esse custo tende a cair nas próximas emissões. Um spread cada vez menor é sinal de confiança nos fundamentos econômicos do país”, avaliou o economista-chefe da INVX Global Partenrs, Eduardo Velho.

Ele lembrou que, em março, ainda no governo Dilma, o Tesouro emitiu US$ 1,5 bilhão em bônus de 10 anos, o Global 2045, pagando juros de 6,125% ao ano e cupom de 6% anuais. O spread cobrado  foi de 419,6 pontos. (RH)

 

Correio braziliense, n. 19415, 22/07/2016. Economia, p. 8