Governo vai ressuscitar câmaras setoriais para recuperar empregos

 

16/09/2016
Carla Araújo
Isadora Peron

 

O presidente Michel Temer anunciou ontem que vai retomar a ideia das câmaras setoriais – grupos que foram criados no início dos anos 90, com a finalidade de combater os efeitos da crise econômica por meio de compromissos assumidos entre empresários, trabalhadores e governo.

Em nota, a Secretaria de Comunicação Social afirmou que os grupos temáticos vão reunir “empregadores e trabalhadores com o objetivo de gerar empregos”.Segundo o comunicado, “as áreas específicas da produção nacional serão chamadas para discutir matérias relacionadas ao crescimento econômico de cada setor”.

A iniciativa foi confirmada pelo Palácio do Planalto após deputados afirmarem que Temer faria um anúncio importante para a economia. O presidente almoçou com líderes do chamado “Centrão”, uma espécie de fiel da balança nas votações da Câmara, formado por partidos como PP, PSD e PTB.

Segundo relatos dos deputados, a medida é uma demanda que já existia no Congresso. A estratégia seria alinhar esses trabalhos setoriais com os projetos de ajuste fiscal, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui um teto para o gasto público, para atrair investimentos.

De acordo com a Secretaria de Comunicação, caberá aos próprios parlamentares a definição de quais setores integrarão as câmaras setoriais. Os trabalhos devem ser coordenados pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.

Entre os defensores da proposta está o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), e o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), que comanda a Força Sindical.

Para Paulinho da Força, entre os setores que devem ser favorecidos estão o automobilístico e o da construção civil, inclusive a construção pesada. Pela proposta de Rosso, ao menos 17 setores deverão ser contemplados, entre eles, agronegócio, comércio e serviços, eletroeletrônica, automotivo, têxtil, mineração e turismo. Ele comemorou ontem a decisão de Temer de encampar a proposta.“O recado que o governo quer passar é que está com um olho no ajuste fiscal e um olho no setor produtivo”, disse. Ainda não há data para que as câmaras comecem a se reunir.

Para o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, a retomada das câmaras setoriais é um ponto potencialmente positivo para a aprovação da agenda de reformas.“Mas, dada a necessidade de consenso, que em geral acaba resultando em algo mais conservador, há um risco de decepcionar os agentes econômicos.”

O ex-ministro e hoje consultor Miguel Jorge, que nos anos 90 participou da Câmara Setorial da Indústria Automobilística, diz torcer para que a iniciativa dê certo. Ressalta, contudo, ter dúvidas de que seja possível negociações como ocorreram naquele período. “Na época, havia apenas quatro fabricantes de automóveis e hoje quase todas as marcas estão no Brasil.”

 

O Estado de São Paulo, n. 44894, 16/09/2016. Economia, p. B1