Correio braziliense, n. 19372, 09/06/2016. Economia, p. 8

Com inflação elevada, BC mantém Selic em 14,25%

Copom tem a última reunião sob o comando de Alexandre Tombini. Para analistas, novo presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, que toma posse hoje, só conseguirá levar o custo de vida para a meta de 4,5% se o governo fizer ajuste fiscal

Por: Antônio Temóteo

 

Na última reunião presidida por Alexandre Tombini, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. A decisão, unânime, era esperada pelo mercado, que agora volta as atenções para o economista Ilan Goldfajn. Ele  tomará posse hoje da presidência do BC, em cerimônia restrita, no Palácio do Planalto. O consenso entre os analistas é de que ele só cumprirá o objetivo de levar a inflação para a meta de 4,5%, se o governo reequilibrar as contas públicas.
O comunicado divulgado ao fim da reunião do Copom foi idêntico ao do último encontro, realizado em abril. A autoridade monetária informou que o nível elevado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e das expectativas do mercado não favorecem a flexibilização dos juros. Nos últimos 12 meses até maio, o indicador calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cravou alta de 9,32%. Já a mediana das projeções dos analistas para 2016 está em 7,12%.
Além da inflação resiliente, Ilan Goldfajn assumirá o BC no momento em que o governo admite que registrará um rombo fiscal de até R$ 170,5 bilhões, o equivalente a 2,75% do Produto Interno Bruto (PIB). Ao ser sabatinado no Senado Federal, ele observou que o custo de desinflação é menor quando as contas públicas estão equilibradas e sinalizou que o corte de juros só ocorrerá quando as condições permitirem. Na opinião do economista-chefe da gestora de recursos Quantitas, Ivo Chermont, o principal desafio será conter a ansiedade de políticos e empresários que defendem a queda da Selic.
Chermont comentou que será necessário um esforço de comunicação para explicar que, enquanto a expectativas de inflação não estiveram perto de 4,5%, não será possível flexibilizar a política monetária. “É necessário convencer a sociedade e o setor privado de que reduzir a Selic sem um ajuste fiscal é um voo de galinha. O governo deve aprovar as medidas para equilibrar as contas públicas, as projeções precisam cair, e aí sim os juros poderão diminuir”, afirmou.

Credibilidade
O economista ressaltou que o mais provável é que o Copom reduza os juros na reunião de outubro. Segundo Chermont, esse período de 18 semanas será necessário para que Goldfajn ganhe credibilidade perante o mercado — e para que fique claro se o Congresso Nacional aprovará o limite para crescimento dos gastos públicos e a reforma da Previdência. “Até lá, ele terá presidido pelo menos duas reuniões do colegiado e publicado um Relatório de Inflação”, estimou.
Na avaliação do economista Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper, as medidas a serem tomadas por Goldfajn serão ineficientes se os problemas fiscais não forem enfrentados. Para ele, o futuro presidente do BC terá um canal de interlocução direto com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o que facilitará o seu trabalho. Entretanto, Lisboa reforçou que a parceria só dará frutos se o reequilíbrio fiscal sair do papel. “Teremos uma política monetária mais organizada, que trará menos sustos e custos para o país. Mas as dificuldades são enormes”, disse.
O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, destacou que o único desafio de Goldfajn é fazer com que a inflação convirja para 4,5% ao ano em 2017. “Seria um desperdício se o Brasil encerrasse o ciclo recessivo sem que as projeções do BC e do mercado convirjam para a meta. Talvez seja necessário postergar o início do ciclo de redução de juros para que isso ocorra. O novo presidente do BC e sua equipe terão os elementos para fazer isso”, comentou.
Os desafios do futuro presidente do BC não serão triviais, ponderou o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo. Conforme ele, levar a inflação para a meta será difícil mesmo com o aumento do desemprego e com a recessão econômica. O economista desatacou que os choques de oferta, que têm mantido os preços de alimentos em alta, e os custos dos serviços continuarão a pressionar o IPCA. “A desocupação passou de 5% para 11% e a inflação só recuou de 10,6% para 9,32%. O problema é enorme”, frisou.
Camargo também relembrou que Goldfajn terá desafios na política cambial, sobretudo quando o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, elevar os juros — movimento que tende a encarecer o dólar, com impactos sobre a inflação. “Atualmente, a cotação da divisa é favorável, mas isso pode mudar rapidamente. Resta saber se ele manterá o cambio flutuante ou fará intervenções.”
A economista Alessandra Ribeiro, diretora da Tendências Consultoria, alertou que os choques de oferta podem manter a inflação acima de 7% em 2016, e essa dinâmica tem potencial para influenciar as decisões do Copom presidido por Goldfajn. Ela ressaltou que a queda Selic pode ser adiado pelo BC caso a carestia não dê trégua. Ela estima que a os juros terminarão o 2016 em 12,75% ao ano, com o início do corte a partir de agosto.

 

Tombini vai para o FMI
O diretor executivo do Fundo Monetário Internacional, Otaviano Canuto, afirmou ontem que deve ser substituído pelo atual presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Ele explicou que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pediu que retornasse ao Banco Mundial. Com essa dança das cadeiras, Antônio Henrique Silveira, que atualmente está no Banco Mundial, iria para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Canuto afirmou ainda que as mudanças devem ocorrer até 1º de agosto.