Correio braziliense, n. 19388, 25/06/2016. Política, p. 6

Associação amarga prejuízo

Entidade de auditores da Receita quer reaver dinheiro de empresa de empréstimo envolvida em fraudes. Paulo Bernardo participa de audiência em São Paulo

 

EDUARDO MILITÃO

 

A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) promete ir à Justiça para reaver R$ 500 mil que julga ter sofrido em prejuízos pela cobrança a maior que a Consist fazia de seus servidores associados que pagavam a mensalidade com desconto em contracheque. De acordo com a Polícia Federal, a empresa, contratada pelo Ministério do Planejamento, administrava os empréstimos consignados tomados em banco e com desconto em folha com uma taxa superfaturada e usava o excedente para pagar propinas para o PT e o ex-ministro Paulo Bernardo — preso anteontem na Operação Custo Brasil.

Mas, segundo o presidente da Unafisco, Kléber Cabral, os bancos eram apenas uma ponta dessa história. Todas as organizações que cobravam pagamentos de servidores com desconto em folha eram obrigadas a contratar a Consist por imposição do ministério, de acordo com ele: planos de saúde, cooperativas de crédito, associações e bancos. Só os sindicatos estavam imunes, revelou ao Correio. Cabral disse que uma cooperativa e outra associação tinham a mesma avaliação.

Em agosto do ano passado, com a 18ª fase da Lava-Jato, “mãe” da Custo Brasil, o ministério suspendeu o acordo com Associação dos Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades de Previdência (Sinapp), que mantinham relação com a Consist. Nessa mudança, relata Cabral, a Unafisco deixou de pagar R$ 10 mil por mês à Consist e a conta baixou para R$ 1 mil para o Serpro. A ordem vinha do Ministério do Planejamento, narrou.

“Criou essa obrigatoriedade, que acabou sendo a Consist a única opção, essa intermediária, com o argumento de proteger o servidor e o aposentado de fraudes e golpes”, disse Cabral ao Correio. “Não era nada disso: organizaram uma maneira de lesar em larga escala.”

A Consist se limitou a dizer ao jornal que colabora com a Justiça, para quem já afirmou que não pagou propinas apenas pelo serviço de lobby e representação comercial do ex-vereador do PT de Americana (SP) Alexandre Romano. O Ministério do Planejamento suspendeu o acordo com a ABBC e o Sinapp em agosto do ano passado e abriu uma sindicância. Mas, passados 10 meses, não chegou a nenhuma conclusão. O Sinapp não foi localizado pela reportagem.

A assessoria da ABBC disse que a Consist foi indicada pelos próprios bancos que a formam. “A empresa foi apresentada pelos bancos que operam na modalidade de credito consignado com servidores públicos federais, como empresa que reunia as melhores condições relativas a porte, qualidade e expertise técnica no segmento de consignações em folha de pagamento”, afirmou em nota. O Correio procurou os seis maiores bancos do mercado de crédito consignado, mas nenhum disse ter indicado a Consist, como apontou a associação. 

Custódia
Ontem, o juiz da 6ª Vara Federal, Paulo Azevedo, ouviu o ex-ministro Paulo Bernardo, o ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, que estava foragido, e outros oito presos no caso em audiência de custódia, apenas para verificar a legalidade do cumprimento das detenções. “Paulo Bernardo não teve qualquer participação nos fatos”, disse o advogado Rodrigo Mudrovitsh. Foragido, o advogado Guilherme Gonçalves deve se entregar na segunda-feira.


Marco Aurélio
pede informações

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello pediu informações aos procuradores responsáveis pela operação de busca e apreensão no apartamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). O Senado pediu que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abra investigação para apurar a atuação do juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Federal de São Paulo, responsável pela Operação Custo Brasil. Para o Senado, só o STF tem competência para autorizar esse tipo de procedimento, já que a senadora tem foro privilegiado junto à Corte. A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) manifestou apoio ao magistrado.