O Estado de São Paulo, n. 44810, 24/06/2016. Política, p. A5

Ação atinge ex-ministro próximo de Dilma

OPERAÇÃO NO PLANEJAMENTO - Titular da Previdência em 2015, Carlos Gabas ficou calado enquanto alvo de condução judicial

Por: Mateus Coutinho / Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fausto Macedo

 

Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência e de Aviação Civil dos governos petistas, foi um dos alvos ontem da Operação Custo Brasil. Por ordem da 6.ª Vara Federal de São Paulo, a Polícia Federal cumpriu mandado de condução judicial na residência de Gabas, o que lhe permitiu permanecer calado e não ser conduzido. O ex-ministro, que era um dos auxiliares mais próximos de Dilma, se dispôs a depor futuramente na presença de sua defesa.

“O juiz responsável pelo caso entendeu que deveria ser garantido à pessoa alvo desses mandados a possibilidade de exercer o direito ao silêncio.

Se ele dissesse ‘eu quero exercer o meu direito ao silêncio’, ele não seria levado para prestar esclarecimento.

Aqueles que não foram levados foi porque exercitaram o direito de ficar em silêncio”, afirmou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça.

Gabas foi citado pelo ex-vereador petista preso na Lava Jato e delator Alexandre Romano, conhecido como Chambinho e um dos responsáveis pelo esquema de propinas no Planejamento.

Segundo ele, Gabas teria recebido propina acertada com o PT da Consist, empresa contratada pelo ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo para administrar empréstimos consignados a milhares de servidores públicos, em 2010.

Chambinho declarou que o ex-ministro recebia uma cota de repasse dividida com o secretário executivo adjunto do Planejamento, Valter Correia.

Uma das empresas utilizadas para fazer o pagamento da propina, a JD2, “iria receber 50% do valor de 1/3 que era dedicado ao Ministro do Planejamento Paulo Bernardo”. O delator diz ter ouvido do sócio da JD2 que o valor era de R$ 300 mil.

 

Amizade. Apaixonado por motos e dono de uma Harley-Davidson, que foi apreendida ontem pela Polícia Federal, Gabas passeava por Brasília com a presidente afastada Dilma Rousseff na garupa. Em um domingo de agosto de 2013, levou a petista para passear pelas ruas da capital, “de carona”.

Desde que deixou o governo há um mês e meio, Gabas tem ido visitá-la no Palácio da Alvorada.

Oficialmente, ele não presta nenhum tipo de serviço à presidente por cumprir quarentena, período em que fica proibido de trabalhar por ter ocupado cargo estratégico no governo.

Gabas é considerado um técnico competente e, mesmo sendo agente administrativo concursado no INSS, cargo de nível médio, ocupou por anos a Secretaria Executiva da Previdência, tendo sido ministro da pasta por duas vezes –no governo Lula, em 2010, e no governo Dilma, em 2015. No final do mandato de Dilma, assumiu a SAC.

Em 2014, frequentava muito o comitê de campanha e atuou em diversas frentes para ajudar na reeleição de Dilma. Também se dedicou na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, no processo de reeleição de Lula, Gabas coordenou o grupo de trabalho responsável pela área de Previdência Social do programa de governo do PT.

Natural da cidade de Araçatuba (SP), Gabas enfrentou um processo criminal por falso testemunho em sua terra natal.

Em 2015, como consequência da ação, ele foi proibido de deixar o Distrito federal sem autorização por prazo superior de 30 dias e também foi obrigado a manter seu endereço atualizado no STF. / COLABOROU TÂNIA MONTEIRO

 

Titular. Gabas foi ministro da Previdência de governos do PT

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Gabas diz não ‘ter nada a ver com isso’ e que vai depor

 

O ex-ministro declarou ontem que o Ministério da Previdência, do qual foi titular, não teve nenhum relacionamento com a Consist. A empresa teria pago propinas após vencer uma licitação do Planejamento. “Não tenho absolutamente nada a ver e quero esclarecer isso”, disse Gabas. O ex-ministro afirmou que as declarações do delator são baseadas apenas no que disse ter ouvido de outra pessoa. “Eu quero que esclareça, eu quero ir lá prestar depoimento”, declarou.

O secretário Valter Correia da Silva pediu exoneração do cargo.