Valor econômico, v. 17, n. 3996, 03/05/2016. Política, p. A6

Janot pede abertura de inquérito contra Aécio

Por: Carolina Oms, Bruno Peres e Lucas Marchesini

 

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquéritos contra o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ministro doTribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo. A PGR também pediu para investigar o deputado Marco Maia (PT-RS) e o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.

Os pedidos foram feitos com base na delação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e, no caso de Aécio, do doleiro Alberto Youssef. Se o ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato na Corte, aceitar os pedidos, os políticos serão oficialmente investigados.

Em sua delação, Delcídio relatou um diálogo entre ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual mencionam Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas. Toledo seria o responsável por gerenciar uma espécie de "fundo" de recursos disponibilizados a políticos para financiamento de campanhas.

O ex-diretor era administrador dos contratos de terceirização de Furnas, dos quais 80% eram do Grupo Bauruense, que, entre 2000 e 2006, recebeu R$ 826 milhões da empresa em contratos de prestação de serviços.

No ano passado, Youssef afirmou em sua delação que o PSDB possuía influência em uma diretoria de Furnas, juntamente com o PP, por meio de José Janene, deputado falecido em 2010. O doleiro disse que Janene contou que o senador teria recebido valores mensais, por intermédio de sua irmã, da empresa Bauruense. A PGR pediu o arquivamento da investigação em março. Mas, diante das informações trazidas por Delcídio, Janot solicitou o desarquivamento.

O procurador-geral também pede que, em 90 dias, Aécio Neves e o ex-diretor de Engenharia da estatal Dimas Toledo sejam ouvidos.

Em sua delação, Delcídio afirmou ainda que Cunha exercia influência em Furnas e usou requerimentos para pressionar empresas como a Schahin a pagar propina. Segundo Janot, os fatos a serem apurados contra Cunha são conexos a outros inquéritos já abertos no STF, como o que investiga a existência de uma organização criminosa na Petrobras, que investiga mais de 30 políticos.

"Sabemos que a organização criminosa é complexa e que, tudo indica, operou muitos anos e por meio de variados esquemas estabelecidos dentro da Petrobras e da própria Câmara dos Deputados, entre outros órgãos públicos", diz o pedido.

O procurador lembra o pedido de afastamento de Cunha, feito em dezembro. Segundo Janot, Cunha vem utilizando o cargo para fins ilícitos.

Delcídio afirmou que Dilma mudou a diretoria há quatro anos e que os quadros de agora são técnicos. Esta mudança foi, inclusive, o início da briga entre Dilma e Cunha, pois ela retirou os aliados do deputado da estatal, segundo Delcídio.

Sobre Edinho, Delcídio afirmou que o ex-tesoureiro do PT o orientou a usar a empresa farmacêutica EMS para pagar dívidas de sua campanha para o governo do Mato Grosso do Sul, em 2014.

A PGR tambem quer investigar Vital do Rêgo e o deputado Marco Maia pela participação na CPI Mista da Petrobras realizada em 2014. Em sua delação, Delcídio afirmou que eles participaram de um esquema para chantagear empresas em troca de recursos para a campanha. Janot afirma que ambos o relato de Delcidio sobre Vital e Maia foi corroborado por outro delator, Julio Camargo.

Em nota, Aécio disse que as investigações "irão demonstrar, como já ocorreu outras vezes, a correção da sua conduta" e que o próprio Delcidio teria declarado recentemente que fez citações ao tucano "por ouvir dizer, não existindo nenhuma prova". "Trata-se de temas antigos, que já foram objetos de investigações anteriores, quando foram arquivados, ou de temas que não guardam nenhuma relação com o senador", completou.

Edinho negou que tenha cometido irregularidades ao gerir as contas de campanha da presidente Dilma em 2014. "As afirmações do senador Delcídio do Amaral são mentiras escandalosas", diz a nota.

Em nota, Cunha afirmou que o PGR é "despudoradamente seletivo" porque ainda não abriu inquérito para investigar a presidente Dilma, "citada pelo senador por práticas de obstrução à justiça", disse.

A assessoria de Marco Maia ainda não se pronunciou sobre os pedidos de Janot. Em nota, Vital do Rego se disse à disposição das instituições para esclarecimentos e afirmou que as menções a seu nome são "desprovidas de qualquer verossimilhança".

O ministro Teori enviou ao juiz Sergio Moro, que conduz a Lava-Jato na primeira instância da Justiça, as citações feitas por Delcídio sobre o pagamento de propina por um projeto da Petrobras que teria ocorrido no governo Fernando Henrique Cardoso, referente à compra de máquinas da Alstom. O senador levantou a suspeita de que a compra de máquinas da empresa Alstom envolveu possível pagamento de propina na Petrobras, entre os anos de 1999 e 2001. (Colaboraram Bruno Peres e Lucas Marchesini)

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