O globo, n. 30238, 21/05/2016. Economia, p. 23

Meirelles quer barrar indicação política para bancos públicos

Presidências de BB e Caixa ficam em aberto, gerando efeito cascata
Por: Gabriela Valente
 
GABRIELA VALENTE
valente@bsb.oglobo.com.br
 
-BRASÍLIA- O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, barrou as nomeações políticas nos bancos públicos e causou uma paralisia em efeito cascata. A indefinição não afeta apenas o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal nesses primeiros dias de governo interino. De acordo com diversas fontes ouvidas pelo GLOBO, isso impacta até órgãos que nada têm a ver com o sistema financeiro, como, por exemplo, a Infraero. Tudo está parado à espera de uma decisão ministerial.

A interferência de Meirelles inviabilizou o anúncio dos novos presidentes dos bancos, que deveria ter sido feito na última terça-feira. A disputa pelos cargos ficou ainda mais acirrada nos bastidores, e a decisão deve ser tomada pelo próprio presidente interino Michel Temer.

No BB, a nomeação de Gustavo do Vale (atual presidente da Infraero) não é mais dada como certa. Segundo quase uma dezena de fontes, ele teria sido barrado pelo próprio Meirelles, após ter sido sondado diretamente pelo ministro.

 

INDICAÇÃO DO PP PARA A CAIXA

De acordo com interlocutores, Gustavo do Vale está em compasso de espera. Cancelou a ida ao Seminário de Metas de Inflação do Banco Central (BC), realizado ontem no Rio. Tinha prometido aos colegas do BC — onde foi diretor durante a presidência de Meirelles — que participaria do evento tendo uma resposta positiva ou negativa do antigo chefe.

Há quem diga que o apoio político que Vale tem do PMDB, partido de Temer, foi prejudicial. No entanto, há a dúvida de que o apoio da vice-presidência do BB tenha interferido. O atual presidente, Alexandre Abreu, reuniu-se com Meirelles na terça-feira, um dia após O GLOBO publicar que Vale comandaria o banco. Por causa dessa incerteza, a nomeação de Antônio Claret para a presidência da Infraero também está congelada.

Na Caixa, Meirelles não quer Gilberto Occhi, ex-ministro das Cidades e indicado pelo PP. O partido tem um acordo com o presidente Temer e pressiona pela indicação de Occhi ao espalhar nos bastidores que não há plano B.

O ex-ministro foi aconselhado a sair de cena para evitar um desgaste maior com Meirelles. Deixou se reunir com funcionários da Caixa — o que fazia mesmo antes de ser cotado para o cargo, porque é de carreira do banco e manteve vários contatos — e não atende nem mesmo os assessores mais próximos.

— O PP não tem plano B. A decisão deve ir para o Temer, que fez um acordo com o PP na Caixa — contou uma fonte a par das negociações.