O Estado de São Paulo, n. 44761, 06/05/2016. Política, p. A9

'Antes tarde do que nunca', diz Dilma

André Borges

Carlos Mendes

A presidente Dilma Rousseff lamentou ontem a demora do Supremo Tribunal Federal em decidir pelo afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de seu mandato como parlamentar e como presidente da Câmara. Em discurso durante inauguração das operações da hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA), Dilma disse que a base de seu processo de impeachment foi uma chantagem de Cunha, que pediu ao governo votar contra seu próprio julgamento na Comissão de Ética da Casa.

“Nós não demos votos, e ele entrou com o pedido de impeachment. Aí o que acontece quando ele entra com o pedido de impeachment? Esse impeachment é um claro desvio de poder, porque ele usa seu cargo para se vingar de nós. Se vingar de nós porque nós não nos curvamos às chantagens dele”, afirmou Dilma. “Hoje (ontem), antes de eu sair de Brasília, eu soube que o Supremo Tribunal Federal tinha afastado o senhor Eduardo Cunha alegando que ele estava usando o seu cargo para fazer pressões, contrapressões, chantagens etc. A única coisa que eu lamento, mas eu falo, antes tarde do que nunca.”

Em Belo Monte, Dilma comemorou a inauguração da hidrelétrica, dizendo que o empreendimento foi “objeto de controvérsias muito mais pelo desconhecimento do que pelo fato de ela ser uma usina com problemas”. A presidente procurou ressaltar a importância da hidrelétrica para o abastecimento de energia da população e seu impacto social na região.

 

‘Usurpador’. Depois de Altamira, Dilma seguiu para Santarém, onde participou de uma cerimônia para entrega das chaves de 3.081 moradias do programa Minha Casa Minha Vida. Na ocasião, usou o ato para defender seu mandato. Em discurso de pouco mais de 30 minutos acompanhado por uma multidão de mais de 5 mil pessoas, Dilma fez ataques ao vice-presidente Michel Temer e a Cunha.

Sem citar o nome de Temer, Dilma referiu-se ao vice como “usurpador de mandato”, e insistiu na argumentação de que há um “golpe contra a democracia” em andamento no País. “O que estão fazendo é uma eleição indireta, não é o povo que está votando. É um absurdo, eu fui eleita com 54 milhões de votos”, disse a presidente, que reiterou que prosseguirá na defesa de seu mandato.

“Eu acho que estou sendo vítima de uma injustiça. Mas não vou ficar parada esperando o ônibus passar. Eu vou lutar pelo meu mandato. Eu tenho responsabilidade em relação à democracia do meu País”, disse Dilma. “Não adianta querer encurtar o caminho para o poder. Para chegar à Presidência da República, tem que ter voto.”

Sobre Cunha, afirmou que, “desde o início do ano, não deixa o Congresso funcionar.”

 

Decretos. A presidente lembrou que os créditos suplementares autorizados por ela - e que fundamentam o pedido de impeachment no Congresso Nacional - foram usados em ações sociais, em operações já comuns a outros governos, como os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

 

“Aquilo não era crime? Não, nunca foi, mas agora querem me falar que é crime. Não, não é não. Por isso, é muito frágil aquilo do que acusam. É um golpe contra a democracia no Brasil.”