Valor econômico, v. 17, n. 4.010, 23/05/2016. Empresas, p. B4

Conselho da Petrobras vai referendar Pedro Parente

Por: André Ramalho, Alessandra Saraiva, Rodrigo Polito e Camila Maia

 

O conselho de administração da Petrobras reúne-se hoje para apreciar a indicação de Pedro Parente para a presidência da companhia. Se receber o aval dos conselheiros, o ex-ministro da Casa Civil e do Planejamento no governo Fernando Henrique Cardoso assume o comando da petroleira com uma série de desafios pela frente e com a missão de intensificar a reestruturação da empresa, na avaliação de analistas consultados pelo Valor.

Novo presidente da petroleira, na avaliação de analistas, assume o comando da companhia com uma série de desafios pela frente, como a equação da dívida

O BTG Pactual destacou que o principal desafio de Parente será acelerar algumas das medidas de reestruturação já implementadas pela atual gestão da estatal. A visão do banco é de que Aldemir Bendine tem feito o "trabalho necessário", "mas em um ritmo insuficiente frente à recuperação maciça que é necessária".

"De qualquer maneira, acreditamos que o barco da Petrobras está no caminho correto e apenas esperamos que o novo presidente possa acelerar o processo", citou, em relatório divulgado a clientes.

Ainda de acordo com o BTG, o novo comandante da estatal terá pela frente o desafio de implementar mudanças internas e lidar com as resistências enfrentadas dentro da própria empresa. Para isso, Parente terá que modernizar a companhia e mudar a mentalidade de todos, focando na criação de valor aos acionistas, além de encontrar uma equipe que o apoie na tarefa.

Para o Credit Suisse, o mercado aprova a permanência do atual diretor financeiro, Ivan Monteiro. "A maioria dos mais difíceis desafios que a Petrobras tem enfrentado são essencialmente financeiros e o atual diretor Ivan Monteiro teve um papel fundamental nas conquistas recentes", citou o Credit, em relatório.

O banco suíço avaliou como positiva a indicação de Parente, mas destacou que a valorização da companhia no longo prazo dependerá principalmente das melhores condições macroeconômicas, como a recuperação dos preços do barril do petróleo.

Segundo o Credit, a gestão Bendine deixa algumas conquistas importantes, como a redução significativa das despesas, o corte de mais de 40% dos cargos gerenciais, a venda de ativos com valuations atrativos e a sustentação de um prêmio nos preços domésticos de combustíveis. Apesar desses avanços, o banco acredita que o novo comando da petroleira terá pela frente uma sériede desafios para reestruturar a companhia.

Um dos principais, segundo o Credit, será acelerar o programa de desinvestimentos, de US$ 14 bilhões para 2016, e negociar as contingências no passivo da companhia. Além disso, Parente precisará que, entre outros pontos, ajustar a estrutura de capital sem diluir os acionistas; manter um nível de investimentos compatível com geração de caixa; melhorar a eficiência dos investimentos; e implementar transparência na politica de preço doméstico dos combustíveis.

Diante de todos esses desafios, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, destacou que Parente teve uma "coragem enorme" ao aceitar o cargo. Como primeiras medidas, Pires defendeu que Parente anuncie, rapidamente, um novo planejamento estratégico para a empresa e qual será a composição completa de sua equipe na estatal. Na prática, isso ajudaria a recuperar de forma mais ágil a credibilidade da companhia no mercado.

"Com a Petrobras tão bagunçada e horrorosa, qualquer medida que ele [Parente] tome vai aparecer logo [os efeitos sobre a credibilidade]. No entanto, corrigir os problemas da empresa, de maneira profunda, demora", ressalvou Pires.

A indicação de Parente foi bem recebida também pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), que considerou positiva a escolha e destacou a "ampla experiência" do executivo no setor energético.