Deputados, sobretudo tucanos e democratas, que deixaram de frequentar os corredores do palácio presidencial há 14 anos, acotovelavam-se para fazer selfies e aparecer perto de Temer.
O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, chegou um tanto sem graça e parecendo fora de seu ambiente natural. Mas foi só Temer chegar ao salão que o tucano, rápido, apareceu ao seu lado como se fosse companheiro de chapa presidencial. Os dois apertaram as mãos e sorriram para câmeras e convidados.
Sem nenhuma liturgia, uma das palavras preferidas de Temer, deputados circulavam durante os dois momentos solenes da tarde: o ato de posse e o primeiro pronunciamento à nação. Durante o ato de posse, o cerimonialista repetiu as chamadas de vários ministros, entre eles, Henrique Meirelles, Raul Jungmann, e Maurício Quintella Lessa.
— Nunca tinha visto isso em toda a minha vida neste Planalto — comentou um funcionário que trabalha no Palácio desde o governo de José Sarney; o ex-presidente foi um dos personagens que não apareceram, como opresidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os presidentes afastado e interino da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Waldir Maranhão (PP-MA).
Sem a companhia da mulher, Marcela, e dos filhos, Temer ainda começava a discursar quando começou uma gritaria ao fundo do salão. Era uma tentativa de invasão pela rampa do Planalto. Todos se assustaram com o barulho. Mas o presidente interino não parou de falar. Temer só se calou quando começou a ficar rouco. Sem graça, tomou um gole de água. Não adiantou. Riu dizendo que precisava de uma pastilha. Um convidado entregou uma bala a Temer. Foi motivo para um coro surgir: “Michel, Michel, Michel”.
O peemedebista cunhou a expressão que deverá usar em suas falas públicas. Sai o “companheiros e companheiras” da era petista, para o “meus amigos” da gestão Temer. Assim como na carta em que enviou a Dilma ano passado usando a expressão em latim “Verba volant, scripta manent” (as palavras voam, os escritos permanecem), Temer apoiouse novamente na língua que deu origem ao português. Fez uma menção inesperada à religiosidade, e explicou: “Vocês sabem que religião vem do latim religio, religare, portanto, você, quando é religioso, você está fazendo uma religação”.
Após o discurso, autoridades de várias religiões o esperavam para ato ecumênico no seu gabinete, no 3º andar do Planalto. Foi uma bênção coletiva ao presidente interino.
— Peço a Deus que abençoe a todos nós: a mim, à minha equipe, aos congressistas, aos membros do Judiciário e ao povo brasileiro — pediu Temer.
O peemedebista cunhou a expressão que deverá usar em suas falas públicas. Sai o “companheiros e companheiras” da era petista, e entra o “meus amigos” da gestão Temer