Valor econômico, v. 16, n. 3986, 18/04/2016. Política, p. A8

Dilma prepara-se para eventual afastamento

Por: Por Andrea Jubé e Lucas Marchesini

Por Andrea Jubé e Lucas Marchesini | De Brasília

 

Com o início da discussão do processo de impeachment no Senado, a presidente Dilma Rousseff tem consciência de que deve ser afastada no primeiro momento, mas reforçará sua defesa para o julgamento final, que ocorrerá em até seis meses. Ela ainda cogita, mesmo se sair vitoriosa, propor a convocação de novas eleições presidenciais, se for essa a solução para a crise política. Dilma elabora um contra-ataque em trêsfrentes: a defesa diretamente no Senado, a ação junto ao Supremo Tribunal Federal e a luta política que fará nas ruas, mesmo afastada do cargo.

Dilma: presidente pretende, mesmo que seja afastada do cargo, manter a exposição, por meio de entrevistas

Essa tese está sendo discutida com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Dilma voltou a se reunir ontem à noite, no Palácio da Alvorada, no primeiro reencontro de ambos desde a votação do impeachment na Câmara dos Deputados.

Não existe consenso, entretanto, no entorno da presidente sobre a tese das novas eleições, porque há resistência ao assunto na base social de Dilma, formada principalmente pelos movimentos sociais, e por uma parcela da sociedade civil que encampou a tese da defesa da "democracia".

A avaliação de auxiliares e de aliados é de que a ideia de Dilma liderar um processo por novas eleições confronta o seu discurso de que pretende lutar por seu mandato até o fim, porque o gesto pareceria uma "renúncia branca". E desde o início da crise política, Dilma reafirma, como um mantra, que jamais renunciará.

Há uma semana, a Frente Brasil Popular - movimento que integra partidos como o PT e o PCdoB, além do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, a Central Única dos Trabalhadores e a União Nacional dos Estudantes -, decidiu se opor à tese de se convocar novas eleições presidenciais, que é defendida, por exemplo, pelo Rede Sustentabilidade, partido da ex-senadora Marina Silva.

Por isso, essa possibilidade é tratada como um plano B, mesmo na hipótese da presidente superar o impedimento no Senado. Em primeiro lugar, porque o foco principal neste momento é intensificar a defesa junto aos senadores de que não existe crime de responsabilidade.

O Palácio do Planalto sabe que a ação no Senado será uma tarefa hercúlea, mas a articulação política de Dilma fará o que for possível para convencer os senadores de que o crime de responsabilidade não se configura. O principal argumento dos senadores favoráveis ao impedimento é de que é difícil manter no cargo uma presidente que não possui sequer um terço dos votos na Câmara dos Deputados. "Como ela vai governar?", questionou ao Valor um senador do PMDB que votará pelo afastamento de Dilma.

Se no dia 12 de maio, a maioria do Senado determinar o afastamento de Dilma do cargo por seis meses, ela vai continuar defendendo o seu mandato. Segundo auxiliares, haverá várias frentes de resistência. No Senado, Dilma vai reforçar o argumento de que não existe "justa causa" para o processo, ou seja, de que as "pedaladas fiscais" não configuram crime. Paralelamente, este argumento será levado ao Supremo. Além disso, Dilma pretende manter a exposição por meio de entrevistas ou atividades públicas com sua militância. Nessas ocasiões, ela continuará reiterando o discurso de que é vítima de um "golpe" e apontando a "ilegitimidade" de um governo Temer.