Correio braziliense, n. 19319, 17/04/2016. Política, p. 4

Lula volta a atacar Temer

Rodolfo Costa

Em encontro com participantes de movimentos contrários ao impedimento da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar ontem o vice-presidente, Michel Temer, sugerindo que o peemedebista aguarde as próximas eleições para tentar o posto de chefe do Executivo. “Se o Temer quer ser candidato, não tente por meio de golpe. Espere chegar (as eleições) em 2018. O PMDB é um partido grande. Ele se candidata e vamos para as urnas. E aí vamos convencer o povo quem é que pode ser melhor”, afirmou.

Com uma voz mais rouca que nos últimos dias, Lula defendeu Dilma, alegando que não há qualquer irregularidade contra o mandato da presidente que justifique o processo de impeachment. “Por que tentar encurtar o mandato da Dilma se ela não cometeu nenhum crime de responsabilidade?”, questionou.

Sem citar nomes, Lula disse que ainda tinha reuniões com três governadores para afinar apoio dentro da Câmara dos Deputados, ressaltando estar em diálogo com aliados “24 horas por dia” para impedir a queda da sucessora. “Nós precisamos de metade desses 513 votos para não deixá-los conquistar 342. É uma guerra de sobe e desce, parece a Bolsa de Valores. São necessários diálogos o dia todo”, disse.

 

Movimentos

Participaram do encontro com Lula militantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da União dos Estudantes (UNE), do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), entre outros grupos sociais. Os manifestantes estão concentrados no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, de onde partirão hoje para a Esplanada dos Ministérios.

A presidente Dilma participaria do ato de ontem, mas ela acabou cancelando a ida para se reunir com líderes partidários. Ela permaneceu pela manhã com parlamentares para reforçar o apoio contra o impeachment, segundo carta lida pela secretária de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.

Aos militantes, Dilma agradeceu o apoio, ressaltando que, juntos, derrotarão o impeachment “sem base legal, o verdadeiro golpe contra a democracia”. “Não cometi crime nenhum de responsabilidade. Não há contra mim qualquer denúncia de corrupção ou desvio de dinheiro público. Meu nome não aparece em nenhuma lista de recebimento de propina. Tampouco sou suspeita de qualquer delito contra o bem comum. Portanto, não é justo, nem legítimo, tentarem abreviar meu mandato, que pretendo exercer, defender e honrar até o último dia, conforme dispõe a Constituição brasileira”, diz a carta.

 

Caso o impeachment seja aprovado na Câmara, os movimentos sociais prometem paralisar o país, segundo anunciou João Pedro Stedile, integrante da direção nacional do MST, que pretende organizar uma greve geral. “Se nós perdermos, ainda haverá outras batalhas em Brasília no Senado”, declarou ele, ressaltando que, nesse caso, só haverá uma maneira de “dar o recado”, por meio de paralisação nacional. “Isso exige paciência e debate. Vamos discutir nos nossos estados e construir nos próximos 10, 15 dias uma grande paralisação da produção, dos transportes, das escolas, do serviço público, e dizer que a burguesia não vai ter sossego”, afirmou.