Após elogios ao discurso na ONU, opositores voltam a criticar Dilma

23/04/2016

Os elogios de líderes da oposição e do governo feitos ao tom ameno da presidente Dilma Rousseff, por ter evitado o uso da palavra “golpe” no pronunciamento na ONU, na assinatura do acordo climático, foram substituídos por críticas no final do dia — em entrevista a jornalistas estrangeiros e brasileiros, ela repetiu de forma contundente a denúncia de que o impeachment não tem base legal, mas, sim, características de golpe. O recuo na ONU, segundo aliados de Dilma, foi porque a menção a “golpe” no plenário poderia causar estranheza por fugir do tema da plenária. Já a oposição disse que o “puxão de orelhas” de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pesou.

Auxiliares da presidente Dilma Rousseff dizem que ela começou a maturar a ideia de falar sobre a situação política do Brasil na ONU na terça-feira, após entrevista a correspondentes no Palácio do Planalto, que teriam sugerido aproveitar o discurso para falar do “golpe”. Ministros reforçaram a ideia. Entretanto, às vésperas do discurso, a avaliação de conselheiros, como o ministro da Advocacia Geral da União, José Eduardo Cardozo, foi que seria melhor para Dilma “guardar munição” para as entrevistas: com mais tempo, espaço e público adequado, em vez de dar ênfase ao impeachment em cinco minutos de pronunciamento no ambiente do acordo climático.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que a presidente teve “bom senso” e que sabia não haver sustentação nesse discurso. O primeiro vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), por sua vez, afirmou que a presidente se portou como “grande estadista”. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, chegou a elogiar o discurso discreto na ONU. Ao saber da fala da presidente na coletiva, disse que a declaração é “extremamente delirante”.

— É uma narrativa completamente desastrada para o país. Mesmo com depoimentos dos ministros do STF atestando a constitucionalidade, vem fazer uma proposta dessas na entrevista a jornalistas estrangeiros? Passando informações mentirosas e sem fundamento — lamentou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, referindo-se à intenção de Dilma pedir ao Mercosul a retirada do Brasil do bloco, se sofrer impeachment. — Ela deveria ter mais responsabilidade. Está achando pouco o que já fez de mal ao Brasil? Agora quer que o Brasil seja prejudicado no Mercosul? Que horror!

“RARO MOMENTO” DE DILMA

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-SP) também elogiou a falta da palavra “golpe” no discurso da ONU, afirmando que “a presidente Dilma teve um raro momento de bom senso”. Mas, quando soube do conteúdo da entrevista coletiva, o parlamentar voltou atrás:

— Não disse que foi um raro momento? Voltou ao normal.

 

O globo, n. 30210, 23/04/2016. País, p. 6