O Estado de São Paulo, n. 44743, 18/04/2016. Política, p. A16

Paulista vive ‘noite de Copa’, com bandeiras e Hino

Pela cidade houve fogos de artifício e panelaços, enquanto muitos tiravam selfies e o telão da Fiesp dizia que ‘O Brasil Venceu’
Por: Edison Veiga / Rafael Italiani / Thiago Lasco

 

Edison Veiga

Rafael Italiani

Thiago Lasco

 

Parecia final de Copa do Mundo - com o Brasil campeão. Às 23h08 de ontem, veio o voto “sim” de número 342. O prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, ganhou a projeção de uma bandeira do País. A multidão comemorou e, então, começou a cantar o Hino Nacional. Pela cidade, houve fogos de artifícios e panelaços.

Enrolada a uma bandeira do País, a estudante Estelen Lourenço Silva, de 17 anos, pulava ao som de Que País É Este, da Legião Urbana, que vinha do trio elétrico. “Eu ainda nunca votei e já tenho a chance de participar de um momento histórico”, disse. Naquele momento, o pedido de admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff havia sido aprovado na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A multidão cantava que “ooooo, o PT acabooooou!”. O locutor do Vem Pra Rua mandava comemorar: “o impeachment está para acontecer!” O público, já menor neste horário, chegou a 215 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, no fim da tarde. De acordo com o Datafolha, a manifestação concentrou 250 mil pessoas ao longo do dia.

Os manifestantes entoavam também o canto “olê, olê, olê, olê, eu tô na rua para derrubar o PT”. Muitos aproveitavam para tirar selfies, eternizar nas redes sociais a participação histórica.

Duas cervejas em uma mão, celular na outra, o empresário Paulo Guanes, de 35 anos, saiu de Porto Alegre só para acompanhar a votação na capital paulista.

“Tinha certeza de que iríamos ganhar. Vai ser melhor para o País”, afirmou.

De Amparo, no interior paulista, o casal de professores Carlos Cristóvão, de 60 anos, e Joseli Cristóvão, de 50, também estava certo de ter testemunhado um capítulo da História, com agá maiúsculo. “Valeu muito a pena ter vindo”, disse Joseli.

O psicólogo Ricardo Moratto, da Vila Mascote, na zona sul da capital, além do pedido de impeachment, aproveitava para defender o fim da corrupção e enaltecer a Operação Lava Jato. “A maioria dos deputados não entende nada dos crimes que Dilma cometeu. Teve muito dinheiro rolando para eles votarem sem base na Constituição. Espero que o (juiz Sergio) Moro continue a trabalhar, porque ele é nosso verdadeiro herói”, afirmou.

 

Tchau, querida. Enquanto terminava a votação, o telão da Fiesp exibia a frase “O Brasil Venceu”. Duas amigas acabavam de chegar, calmas, porque ainda dava tempo para fazer uma selfie com um cartaz. “Tchau, querida”, estava escrito. Aliás, Tchau, Tchau, Querida, paródia de Bye, Bye, Tristeza, virou hit entre os manifestantes.

A versão faz uma referência ao diálogo, divulgado com autorização pelo juiz Sergio Moro, entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele desliga o telefone com “tchau, querida”.

As jovens se revezam nas fotografias. A veterinária Mariana Inocente, de 24 anos, mora na Vila Leopoldina, zona oeste da capital. Vivian Khouri, estilista, também de 24 anos, no Itaim-Bibi, zona sul. Chegaram atrasadas porque foram passar o fim de semana na terra natal, Londrina, região norte do Paraná. Chegaram correndo. “Precisávamos fazer parte disso”, disse Vivian. “A primeira batalha foi vencida”, afirmou Mariana.

 

Dispersão. A dispersão foi rápida. O cenário ficou mais parecendo fim de carnaval. As pessoas começaram a rarear. “Só não vou emendar um bar hoje porque vou trabalhar amanhã.

Se fosse feriado, certamente comemoraria”, disse o funcionário público Rui do Valle, de Campinas, interior paulista. Ele está esperançoso: “Eu acho que com o governo (Michel) Temer vai haver uma retomada dos investimentos e empregos”.

Rogério Chequer, líder do movimento Vem Pra Rua, segue a opinião de Valle e defende um governo de coalizão de Michel Temer (PMDB). “Não podemos ter impeachment atrás de impeachment. Mas as ruas vão continuar pressionando”, disse.

“O brasileiro descobriu o Congresso Nacional. Mais do que acompanhar o processo de impeachment, hoje as pessoas da Paulista são vigilantes da atividade Legislativa”, afirmou.

 

Espera

“O processo do impedimento deve ser respeitado, o novo governo vai ter uma participação popular maior e em 2018 votamos novamente.”

Rogério Chequer

LÍDER DO VEM PRA RUA