Correio braziliense, n. 19288, 17/03/2016. Política, p. 6

Em coro, oposição clama por renúncia

O plenário da Casa foi palco de disputa acirrada entre governistas e oposicionistas. A confusão começou logo após divulgação de diálogos entre Lula e a presidente Dilma
Por: JULIA CHAIB

JULIA CHAIB

 

 

A divulgação do telefonema entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a sugestão de que a mandatária agiu para evitar a prisão do petista acirrou os ânimos no Congresso Nacional na noite de ontem. No plenário da Câmara, de um lado, em coro, deputados da oposição pediram a renúncia da petista. Do outro, governistas gritavam “golpistas”. O bate-boca generalizado levou ao encerramento da sessão. No Senado, o conflito entre parlamentares também levou ao fim dos trabalhos. Antes, a oposição já havia criticado durante o dia a nomeação de Lula como ministro e líderes entraram com ações populares para tentar impedir a posse do ex-sindicalista.

O coro de “renúncia, renúncia” começou minutos após ser divulgada a gravação. “Depois de um diálogo como esse, antirrepublicano, é impensável um governo permanecer no poder”, disse o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). Já o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) disse existir várias versões sobre o áudio e solicitou à Mesa da Câmara que pedisse o conteúdo na íntegra das interceptações.

Acompanhando o grito da oposição na Câmara, senadores oposicionistas também pediram a renúncia de Dilma. “É a falência definitiva de um governo que ultrapassou todos os limites éticos e morais para defender os seus aliados. A presidente Dilma não tem mais condições de governar o Brasil”, afirmou à noite o senador Aécio Neves (PSDB-MG), citado em delação premiada como receptor de propina. “Essa prova mostra que o mínimo que a presidente deve fazer é renunciar. Se ela não quiser um estado de comoção social, ela sai”, disse o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado.

Já petistas criticaram o vazamento da gravação e questionaram a quebra de sigilo de uma ligação com a presidente da República, além de dispararem críticas ao juiz Sérgio Moro. “Este país não pode ser vítima da vontade de alguns em detrimento das leis. Estão querendo pegar um atalho para chegar à Presidência da República”, afirmou o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), ainda dentro do plenário. “São vazamentos seletivos feitos para aprofundar a crise política do nosso país”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

 

Lula ministro

Na manhã de ontem, tão logo confirmada a informação de que Lula seria ministro da Casa Civil, a oposição tratou de dizer que Dilma havia entregue o poder ao petista e que a nomeação ocorreria somente para evitar a prisão do ex-presidente.

Aécio também criticou a nomeação, as possíveis mudanças econômicas que podem ser promovidas com a troca e a volta do “populismo”. “Ela (Dilma) abdica deste mandato em favor do presidente Lula”, disse. O tucano afirmou que o objetivo agora é focar os esforços no processo do impeachment, para acelerá-lo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também criticou a mudança. “É escandaloso Lula ser ministro no momento em que é investigado”, ressaltou o tucano.Governistas disseram que Lula integra o governo para ajudar o país a sair da crise. “Ele vem para dialogar, inclusive com a oposição, ao lado da presidenta Dilma.”