O globo, n. 30.167, 11/03/2016. Economia, p. 25

Funcef pode ir à Justiça contra a Sete Brasil

ENTREVISTA - Carlos Caser

Por: GERALDA DOCA

Além de tentar reaver perdas com investimentos da OAS, o presidente do fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal diz que não desistiu de recuperar o R$ 1,3 bi aplicado na Sete Brasil. Segundo ele, a Lava- Jato ‘ foi uma catástrofe’

 

 

Por que a Funcef foi o único fundo a investir na OAS Empreendimentos? Não era arriscado?

Em 2014, não havia cenário de turbulência. Isto começou quando veio a eleição e o pós- eleição. Nós levamos um ano e meio discutindo. As pessoas podem dizer que alguém mandou a Funcef investir na OAS, mas foram feitas auditorias, avaliações e negociações para definir preços. Achamos que era um ótimo negócio. Na sequência, veio a Lava- Jato e as primeiras pessoas atingidas foram os executivos da OAS.

 

O que vocês vão fazer para reverter as perdas?

Estamos tentando recuperar o investimento na OAS Empreendimentos. Não desistimos da Sete Brasil Participações e podemos partir para uma disputa judicial. Isso não está descartado e temos nossos contratos assinados. Estamos evitando uma disputa judicial, mas, se precisar, teremos que fazer. Se o caso não evoluir favoravelmente, vamos judicializar.

 

Quais as chances de a Funcef evitar o segundo aporte e recuperar os R$ 200 milhões investidos na OAS?

Na arbitragem pode acontecer tudo, mas estamos confiantes, porque a situação mudou com a Lava- Jato, que veio um mês após o primeiro aporte. Temos elementos que dão base, condições para a gente não aportar. Minha expectativa é que a gente consiga isso sem problema.

 

E de reaver os recursos?

Acho que vamos ter mais dificuldades. Vai depender da empresa, da recuperação, de uma série de questões.

 

Diante disso, a Funcef vai reconhecer como perdas?

Já fizemos isso no balanço de 2015, que será divulgado.

 

E o investimento de R$ 1,3 bilhão na Sete Brasil Participações ( criada para fornecer sondas à Petrobras)?

Também vamos reconhecer, por uma questão de prudência. É um ativo que não tenho certeza se vou realizar ou não.

 

Houve má gestão?

Não houve má gestão. O que houve foi uma catástrofe chamada Lava- Jato. A Petrobras entrou nesse turbilhão, o BNDES saiu fora, descobriu- se que os executivos estavam roubando. E as pessoas perguntam se a gente sabia disso. Não. Ninguém chega para você e diz: “olha, eu estou aqui roubando”.

 

Quais empreendimentos recentes a Funcef já reconheceu como perda?

OAS e Sete Brasil foram os mais relevantes no ano de 2015. O nosso valor de Vale também baixou, mas devido à queda no valor de mercado da companhia.

 

O que mais pode ser feito para minimizar perdas?

Demos um break na renda variável, pisamos no freio. Esse é um elemento importante. Também fizemos operação de proteção na bolsa. Estamos muito cautelosos e evitando grandes investimentos na Bolsa. Estamos comprando basicamente títulos públicos. Também não há grande procura, os investidores são antenados com o momento, sabem que tem uma CPI, que os fundos estão sendo investigados. Todo mundo está esperando que a tempestade passe. Ninguém está vindo apresentar propostas de investimento.

 

Os fundos de pensão podem comprar a parte da OAS na Invepar?

É uma possibilidade que de fato existe, a lei nos permite, mas isso ainda não está decidido. Em princípio, todo mundo ficaria com parte iguais. Mas vamos imaginar que a Previ esteja com um apetite maior, tenha disponibilidade maior de caixa e queira ficar com 10%, por exemplo. A Petros ficaria com outros 10% e a Funcef, com 5%. Ou o oposto disso. Os fundos podem ser levados a comprar a parte da OAS, porque a Invepar tem ativos importantes, como Guarulhos, o metrô do Rio, a Linha Amarela e a concessão da rodovia 040.

 

A economia caiu 3,8% em 2015, e, neste ano, a situação não deve ser diferente. Os fundos vão ter déficits de novo?

Se nada mudar, vão ter. O cenário de curto prazo não ajuda. Há uma conjunção de fatores muito negativa.

 

E os participantes têm direito de reclamar dos resultados negativos?

Têm direito, e eu respeito. O participante quer um resultado positivo e cobra isso. Ele sabe que tem uma crise, que o minério foi lá para baixo, que a Vale teve prejuízo, que a Petrobras teve prejuízo, mas ele acha que vai ficar sem benefício amanhã, e isso não vai acontecer. Temos um patrimônio, temos liquidez. Eu entendo as razões do nosso participante. Mas ele exige de nós uma infalibilidade que é impossível de ser alcançada, porque a gente está no mercado. Não adianta achar que 100% dos investimentos vão dar certo, porque não existe essa possibilidade. Não quero me eximir de nada, mas quero que a pessoa olhe se houve roubo, imprudência, má gestão ou gestão temerária. O caso da Sete Brasil é emblemático.

 

A conta dos participantes para cobrir o déficit da Funcef vai subir com o balanço de 2015?

Vai subir. Mas é preciso fazer os cálculos para saber quanto. A inflação alta no ano passado responde por grande parte do nosso déficit de 2015, estimado em R$ 8 bilhões. Do lado do ativo, o investimento não rende o suficiente, porque a economia está em depressão, e, na outra ponta, a inflação alta eleva o passivo.

 

A crise política piora a situação?

A economia está umbilicalmente ligada à situação da política. É óbvio que esse tumulto, que parece não ter fim, prejudica os negócios.

 

Conhece João Vaccari ( ex- tesoureiro do PT, envolvido na Operação Lava Jato)? Ele pediu dinheiro à Funcef?

Conheço o João há muito tempo, desde o movimento dos bancários. Eu sou bancário da Caixa. O Sindicato dos Bancários de SP é um dos mais importantes do país e todos os dirigentes de lá sempre foram muito conhecidos, naturalmente. Existe muito folclore nisso. Aqui em Brasília, a gente tem que receber todo mundo. Receber não tira pedaço.