Valor econômico, v. 16, n. 3964, 16/03/2016. Política, p. A8

Aécio é acusado de interferir em CPI

Por: Vandson Lima / Carolina Oms / Letícia Casado

Por Vandson Lima, Carolina Oms e Letícia Casado | De Brasília

 

Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) foi apontado pelo senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) como participante em possíveis ilegalidades em três diferentes episódios: atuação para evitar a quebra de sigilo do Banco Rural na CPMI dos Correios, com o agravante de ter supostamente trabalhado para apagar dados bancários que o comprometeriam; de ter recebido propina de Furnas, empresa de economia mista subsidiária da Eletrobras; e de ser beneficiário de uma fundação sediada em Liechtenstein, um paraíso fiscal,que estaria em nome de sua mãe. As citações constam no depoimento de delação de Delcídio no âmbito da Operação Lava-Jato

Questionado, Aécio considerou "absurdas e requentadas as citações" e apresentou explicações. O fato, no entanto, não altera a disposição do senador de aditar trechos desta mesma delação, relativos à presidente Dilma Rousseff, no processo que pode cassar o mandato da presidente. O tucano alegou que "tudo deve ser apurado em profundidade" para que se separe "o que é verdadeiro e o que é falso".

Na delação, Delcídio disse que o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB) e o então governador de Minas Aécio Neves atuaram para evitar a quebra de sigilo do Banco Rural na CPMI dos Correios entre 2005 e 2006. Ainterferência foi feita, segundo o senador, enquanto Paes ocupava o cargo de secretário-geral do PSDB.

Delcídio, que foi presidente da CPMI, disse que Aécio ficou incomodado com quebra de sigilo do Banco Rural. O tucano teria trabalhado então, sempre de acordo com Delcídio, para maquiar os números do banco: "A maquiagem consistiria em apagar dados bancários comprometedores que envolviam Aécio Neves, Clésio Andrade, [então vice-governador de Minas] a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcos Valério", disse Delcídio.

Aécio enviou "emissários" pedindo prorrogação de prazo para a quebra de sigilo do Rural, a fim de dar tempo de maquiar os dados da instituição, disse o ex-petista. O relatório final da CPMI dos Correios foi feito com base nestes dados maquiados e todos - Delcídio, Aécio e Paes - sabiam que os dados estavam maquiados antes da aprovação do relatório final, disse Delcídio. Essa informação lhe foi passada logo após ele ter concordado com a prorrogação do prazo.

Aécio garantiu que jamais tratou com Delcídio de nenhum assunto referente à CPMI dos Correios e não tinha qualquer relação com o Banco Rural. "Nunca tive conta corrente na instituição, nem solicitei empréstimos".

O tucano disse que "é fácil demonstrar que Delcídio não está falando a verdade. Ele diz que foi a Minas tratar do assunto. É mentira. O relatório final da CPMI é de abril de 2006 e a viagem de Delcídio a Minas ocorreu doismeses depois, em junho, quando a comissão já se encerrara".

Sobre as outras duas acusações, o tucano sustentou que se tratam de questões já esclarecidas e disseminadas pelo PT na internet há anos e nunca provadas.

"Sobre a lista de Furnas, talvez seja a maior fraude da política brasileira nos últimos anos. A lista já teve seu autor condenado. Na verdade não é uma, são inúmeras listas de Furnas, para todos os gostos, constituída para chantagear determinados agentes políticos, inclusive do PT", apontou Aécio.

Sobre a fundação, o senador disse que sua mãe planejou criá-la no exterior, mas que isso não foi levado em frente. O assunto foi analisado e arquivado em 2010, após a Justiça Federal e o Ministério Publico Federal do Rio de Janeiro constatarem a inexistência de irregularidade. O tucano disse não saber que motivações levaram Delcídio a querer atingir sua imagem, mas que vai reagir.

"Não consigo compreender a razão. Sou o maior interessado que tudo isso seja esclarecido. Será um atestado de idoneidade que receberei. Não é a primeira vez que tentam colocar meu nome e de outros da oposição nesse mar de lama da Lava-Jato", disse.

Neste momento, contou o senador, a oposição trabalha para acrescer as denúncias de Delcídio que tocam o Palácio do Planalto ao processo contra Dilma.