Valor econômico, v. 16, n. 3961, 11/03/2016. Política, p. A3

Barbosa diz que não é hora de 'extremismos' na política econômica

Leandra Peres

Ribamar Oliveira

Fábio Pupo 

Estevão Taiar

Numa resposta direta e sem meias palavras, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, começou o dia ontem com uma defesa enfática de sua política econômica, que vem sendo duramente criticada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. À tarde, com o dia já ganhando contornos mais críticos para Lula, o ministro voltou ao tema em seminário para uma plateia petista, organizado pelo Instituto Lula, em São Paulo. Mas dessa vez buscou enfatizar os pontos de convergência.

Após o evento que contou com a presença do ex-presidente Lula e do presidente do partido, Rui Falcão, Barbosa afirmou que o governo precisa promover "reformas de longo prazo que abram espaço fiscal no curto prazo, para que tenha condições de apoiar a geração de renda e emprego". Segundo Barbosa, o "debate sobre a Previdência é um processo de diálogo" e houve um acordo de que "a Previdência é um tema importante". Ele não confirmou a aceitação por parte do PT de suas propostas, mas disse que "todo mundo concordou que o principal hoje é recuperar emprego e renda" e acrescentou que, para isso, é preciso ter "espaço fiscal". Falcão elogiou o ministro da Fazenda, que tem se mostrado "muito aberto ao diálogo", mas evitou se comprometer com apoio às reformas.

Antes disso, no entanto, logo pela manhã, em Brasília, em cerimônia de comemoração dos 30 anos da Secretaria do Tesouro Nacional, Barbosa foi mais enfático. afirmou que estímulos extras para a economia não garantirão a saída da atual crise econômica. E disse que se a reforma da Previdência não for feita agora, serão necessárias medidas mais drásticas e avisou que ogoverno tem que agir rápido. "[A atual estratégia econômica] é uma proposta que procura um consenso, procura um meio termo para resolver todos os nossos problemas. Não é hora de extremismos na política econômica e, sim, de volta à normalidade", afirmou o ministro.

Na fala mais política de sua gestão, o ministro defendeu que o crescimento duradouro só será garantido com uma combinação de reformas de curto e longo prazos. "Adotar somente medidas de estímulo no curto prazo não resolve os problemas atuais. [Se não vierem acompanhadas de ações de médio e longo prazos] correm o risco de ter efeito curto ou de que esse efeito nem mesmo ocorra", disse.

Em referência direta ao PT e PMDB, o ministro explicou que sua estratégia é combinar estímulos à estabilização da economia no curto prazo, como defendido pelos petistas, mas também reformas como a desvinculação de receitas, propõe PMDB. O ministro também reafirmou que enviará as reformas fiscais e da Previdência ao Congresso.

Sem citar diretamente a reforma da Previdência, que ele prometeu para o fim de abril, mas que o PT não quer enviar ao Congresso antes de outubro, Barbosa afirmou que é preciso rapidez nas soluções de longo prazo e foi adiante: "O adiamento do enfrentamento desses problemas vai tornar inevitável soluções mais drásticas num futuro que não é distante".

O discurso de Barbosa ressaltou que o país hoje tem que estabilizar a economia no curto prazo, mas que um crescimento sustentável dependerá de reformas de longo prazo que controlem o crescimento do gasto obrigatório.

"O foco das nossas ações neste momento tem que ser no controle do gasto obrigatório, pois é isso o que vai garantir um crescimento duradouro da economia", disse.

A fala do ministro fugiu a seu tom habitual. Mesmo quando estava à frente do Planejamento, Barbosa sempre buscou pronunciamentos técnicos e não respondia ao fogo amigo do PT. Assessores mais próximos sempre disseram que o ministro entende a necessidade de o partido "falar para as suas bases" e que o PT sempre chega a um consenso, o que permite avançar a pauta econômica.

 

Mas agora, a alta temperatura das críticas fez com que o ministro, que não é filiado, mas é considerado economista do PT, reagisse mais diretamente. De acordo com fontes do governo, Barbosa não vê recuo da presidente Dilma Rousseff nas discussões sobre a Previdência Social, mas quis responder claramente ao que considera um erro estratégico do partido e de setores doPalácio do Planalto. Barbosa tem dito a interlocutores que. para recuperar alguma credibilidade, o governo tem que "pelo menos cumprir os prazos que promete".