Valor econômico, v. 16, n. 3966, 18/03/2016. Política, p. A12

Federações pedem processo de afastamento ou renúncia

Flavia Lima

Taianara Machado

Adriana Mattos

Alessandra Saraiva

 

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, anunciou ontem após reunião com associações, sindicatos e federações, que a entidade apoia o impeachment da presidente Dilma Rousseff e deve se concentrar daqui pra frente em "conscientizar" parlamentares sobre a necessidade do impedimento.

"A presidente mostra que não tem condições de presidir o Brasil "[sic], afirmou. Skaf disse ainda que quem assumir o cargo deve saber que a sociedade quer ajuste fiscal via corte de despesas e não por aumento de impostos.

As declarações marcam a mudança na posição da entidade que no início da semana pedia a renúncia da presidente. A mudança de posição, segundo Skaf, se deve ao momento "muito mais pragmático".

Skaf, afastou a possibilidade de suspensão de recolhimento de impostos por parte das empresas como forma de reação ao governo. Segundo ele, a ideia é atuar dentro da legalidade. Ele não descartou a hipótese de convocar uma greve geral. "Se houver uma circunstância que uma greve geral ajude o impeachment a ter sucesso, deve-se fazê-la", disse.

Ele ponderou que o momento agora é de convencimento da Câmara e do Senado em relação à necessidade de aprovar o impeachment.

A Associação Comercial de São Paulo e a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) pediram, por meio de nota, a renúncia da presidente. "Somente um gesto de grandeza por parte da presidente Dilma poderá propiciar a busca de um entendimento que permita começar a mudar o quadro dramático que o País atravessa: a renúncia", afirma o presidente da Facesp e da ACSP, Alencar Burti.

Segundo Burti, a renúncia não significaria que Dilma se considere "culpada pela crise e pela falta de governabilidade", mas representaria "a busca de uma solução".

Já a Federação do Comércio do Estado de São Paulo publicou nota em que critica a postura do atual governo que "ignora a voz das ruas, de suas entidades empresariais, de suas instituições, e ainda trata o bem público como coisa privada". A federação critica "interesses mesquinhos e individuais" e pede união para sair desse "atoleiro" em que o país está.

"Grupos se engalfinham na luta pelo poder e olham para o Estado com o único objetivo de satisfazer seus próprios interesses", diz o texto. "As possibilidades de se encontrar uma saída para superar a recessão, a quebra de empresas, o desemprego massivo e a inflação que ameaçam as conquistas econômicas e sociais de milhões de pessoas encontram-se hoje bloqueadas pelo caos político."

A nota pede a renúncia da presidente como ato de "desprendimento e consideração pelo povo brasileiro", porque evitaria o processo de impeachment que irá prolongar dificuldades. "A hora agora é de buscar soluções que possam ser implementadas com a rapidez necessária para impedir que não apenas a economia e o quadro social continuem a se deteriorar, como para evitar que as instituições sejam comprometidas".

Nota divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as federações das indústrias dos Estados diz que a política nacional se transformou em um "espetáculo deprimente", que os empresários estão "perplexos" e que é preciso "restabelecer a governabilidade".

Para a entidade, as instituições, principalmente o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), precisam encontrar "com urgência", soluções para tirar o país da crise política e econômica.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, declarou-se a favor do processo de impeachment. Vieira defendeu e elogiou as manifestações de domingo, contra o governo, e as classificou como "pacíficas e democráticas".

Para o presidente da Firjan, o país não pode continuar no mesmo ambiente de turbulência política. Gouvêa Vieira comentou que, na prática, a rápida sucessão de notícias ruins agravando a crise política tem prejudicado cada vez mais a economia. "Os empresários estão horrorizados com o que está acontecendo", afirmou.

 

A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também apoio o impeachment por meio de nota divulgada no início da noite. Segundo a entidade, essa é a única saída para a retomada do crescimento. A entidade disse que a decisão ocorre "diante dos últimos acontecimentos, aos quais definimos como uma afronta à população brasileira".