Correio braziliense, n. 19.231, 20/01/2016. Economia, p. 8

FMI: Brasil só cresce em 2018

CONJUNTURA/ » Instituição piora previsões sobre a economia brasileira, prevê recessão de 3,5% neste ano e estagnação em 2017. Crise política e escândalo na Petrobras determinam quebra das expectativas. Entre os principais mercados, o país é o que mais perde terreno

Por: Rosana Hessel

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou as projeções do relatório Panorama Econômico Global e passou a prever uma retração de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano — uma queda bem maior do que o recuo de 1% previsto em outubro. No ano passado, a estimativa dos economistas do Fundo é de que a economia brasileira tenha sofrido um tombo de 3,8%, ou seja, em dois anos, a produção de mercadorias e serviços no país deverá encolher quase 7,5%.

As más notícias, porém, não param por aí. O órgão multilateral, que costuma ser mais otimista que o mercado financeiro, desta vez vê um cenário bem pior do que o vislumbrado pelos analistas de grandes bancos e corretoras. A instituição só espera que o país volte a crescer em 2018. Para 2017, a projeção é de estagnação, pois a variação estimada do PIB caiu de alta de 2,3% para zero. Os economistas ouvidos pelo Boletim Focus, do Banco Central, ainda acreditam que a economia brasileira terá expansão de 1% no ano que vem.

O corte das estimativas para o Brasil foi o maior entre as principais economias que passaram pela revisão trimestral do FMI. Se as previsões do Fundo se confirmarem, o país terá neste ano o pior desempenho entre esse grupo de nações. De acordo com a instituição, as expectativas pioraram porque “as incertezas políticas e as investigações de corrupção na Petrobras continuaram contribuindo para a recessão econômica”, que deve ser mais prolongada e profunda que a esperada anteriormente.

“Os dados do FMI mostram que a recessão no país será bem forte este ano. O cenário político está ruim e o econômico, também. Essa queda de 3,5% pode ser o piso das próximas projeções”, avaliou o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho. “Está implícito que o Fundo trabalha com um aperto na política monetária, e isso deverá ter impacto na oferta de crédito. A recessão vai se prolongar e teremos quatro anos seguidos de desempenho ruim para a economia, o que deverá deteriorar ainda mais a taxa da dívida pública em relação ao PIB. Com isso, o país deve sofrer sofrer novos rebaixamentos das agências de classificação de risco”, acrescentou.

Pior que a Rússia
As novas projeções para a economia brasileira ficaram piores que as dos demais países do Brics, o grupo dos emergentes de crescimento acelerado. Os dados do Brasil estão piores até que os da Rússia, que sofre sanções econômicas da comunidade internacional devido ao conflito político-militar com a Ucrânia. Conforme a estimativa do Fundo, o PIB russo encolheu 3,7% em 2015, cairá mais 1% neste ano, mas voltará a crescer em 2017.

O relatório estima que a China, que funcionou como um verdadeiro motor da economia mundial nas últimas décadas, dá sinais progressivos de enfraquecimento. O PIB chinês subirá 6,3% em 2016, e não mais os 6,8% previstos anteriormente. No ano que vem, a alta será de 6,2%, em vez de 6,3%. Já os cálculos de expansão para a Índia foram mantidos em 7,5% para este e o próximo anos. A África do Sul também terá desempenho econômico melhor que o do Brasil: depois de crescer 1,3%, em 2015, avançará 0,7% em 2016 e 1,8% em 2017.

Diante da desaceleração da China e, principalmente, da continuidade de queda dos preços das commodities, o FMI também reduziu a previsão de expansão da economia mundial— de 3,6% para 3,4% neste ano, e de 3,8% para 3,6%, no ano que vem. Os Estados Unidos também terão avanço menor: de 2,1%, e não mais de 2,2% nesses dois anos. A Zona do Euro teve corte de 0,2 ponto percentual nas estimativas de 2016 e 2017, para 2,6% no mesmo período.

Latinos 
O desempenho ruim do Brasil afetou as estimativas para a América Latina, pois o país representa praticamente a metade do PIB regional, que encolherá 0,3%, neste ano. Em outubro, o FMI ainda previa alta de 0,8% para o conjunto de países latino-americanos. No ano que vem, a região voltará ao crescimento, mas o avanço de 1,6% ainda será menor que alta de 2,3% estimada no relatório anterior.

Custo maior
No último relatório Focus, os economistas projetam que a inflação só voltará para o centro da meta, de 4,5%, em 2018. Com isso, a expectativa é de que o BC tenha de elevar os juros para conter as expectativas. “O mercado já espera uma nova redução da nota do Brasil pela Standard & Poor’s (que retirou o selo de bom pagador do país em outubro). Isso aumentará ainda mais o custo de captação do governo e das empresas no exterior, o que é ruim para os investimentos”, destacou Eduardo Velho.