Correio braziliense, n. 19.238, 27/01/2016. Economia, p. 9

RECESSÃO E DÓLAR CARO REDUZEM ROMBO EXTERNO

CONJUNTURA » Saldo negativo das transações do país com o exterior recua 43,4% em 2015. Retração da atividade econômica e real desvalorizado derrubam as importações

Por: Rosana Hessel

 

» ROSANA HESSEL

A forte desaceleração da economia em 2015 e o dólar nas alturas ajudaram a melhorar o saldo do balanço de pagamentos do Brasil com o resto do mundo. O rombo na conta de transações correntes do país despencou 43,4%, de US$ 104,2 bilhões, em 2014, para US$ 58,9 bilhões, no ano passado. Foi a primeira queda e o menor resultado negativo desde 2010, início da série histórica atualizada mantida pelo Banco Central (BC).

O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, observou que o ajuste foi expressivo, uma vez que o deficit recuou de 4,3% para 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). “O saldo ficou menor que a nossa última estimativa, de US$ 62 bilhões, e também abaixo das previsões do mercado”, frisou o economista. Ele destacou que a valorização do dólar foi essencial para o resultado. “Em termos estruturais, é importantíssimo ter em conta o regime de câmbio flutuante. O câmbio é a primeira linha de defesa das contas externas, e isso efetivamente ocorreu em 2015”, destacou.
O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, ponderou que, apesar da melhora, o país ainda está longe de voltar a ter superavit nas contas externas, como ocorria no início dos anos 2000. Além disso, a redução do deficit resultou, em grande parte, de uma piora acentuada no ritmo da atividade econômica. “O país está em uma recessão profunda, com crise de confiança, e com os investimentos em queda”, destacou.
No ano passado, o fluxo total de Investimentos Diretos no País (IDP), ou seja, recursos investidos em atividades produtivas, encolheu 22,5%, somando US$ 75,1 bilhões, ante US$ 96,8 bilhões em 2014. Maciel minimizou a retração. “O volume ainda é elevado e cobre inteiramente o deficit de conta-corrente, ou seja, a necessidade de financiamento externo do país”, explicou.
Especialistas do mercado, no entanto, mostram preocupação. Eles lembram que, devido ao elevado grau de desconfiança dos investidores no governo e à perda do grau de investimento dos títulos soberanos, no ano passado, há nítidos sinais de declínio do interesse do capital estrangeiro pelo país. Conforme os dados do BC, os investimentos de estrangeiros em carteira encolheram 55%, de US$ 41,5 bilhões, em 2014, para US$ 18,5 bilhões, em 2015. Nesse volume, estão incluídas as aplicações em papéis de renda fixa, que despencaram 71,7%, passando de US$ 29,7 bilhões para US$ 8,4 bilhões.

Ajuste fiscal
“Esses números mostram que o investidor em títulos já começou a deixar o país. O Brasil paga os maiores juros do mundo, mas isso não compensa a desvalorização cambial, que foi de quase 50% em 2015 e dá sinais de que continuará, em torno de 22%, neste ano”, explicou o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores. Para ele, a queda dos investimentos diretos (IDP) só não foi maior porque houve entrada de recursos em áreas específicas, como indústria automotiva e papel e celulose. No entender do economista o governo precisa fazer um ajuste nas contas públicas para aumentar a poupança interna e atrair investimentos.

Tombo
Com a queda da produção interna, as importações despencaram 25% no ano passado, e as exportações recuaram 15%. Com isso, a balança comercial passou de deficit de US$ 6 bilhões, em 2014, para superavit de US$ 17,7 bilhões em 2015. O fraco desempenho das multinacionais instaladas no país também ajudou a reduzir o rombo nas contas externas. As remessas de lucros e dividendos para o exterior caíram 33,3% no ano passado, para US$ 20,8 bilhões.