O Estado de São Paulo, n. 44582, 09/11/2015. Metrópole, p. A12

Diminui chance de haver sobreviventes em Mariana; MP quer mudar lei de barragens

BRUNO RIBEIRO - O ESTADO DE S.PAULO

08 Novembro 2015 | 22h 00 - Atualizado: 08 Novembro 2015 | 22h 00

Estado recuou de balanço e só registrará mortos após identificação formal; há 1 morte confirmada, 2 sob investigação e 26 pessoas na lista de desaparecidos, incluindo 5 crianças. Ainda não se avançou em causas, mas promotor quer retirar fiscalização das empresas

MARIANA - Mais de 72 horas após o rompimento de duas barragens da empresa Samarco em Mariana (MG), no início da noite deste domingo, 8, ainda era impossível precisar o número de vítimas. O governo do Estado admitia, porém, ser muito difícil encontrar vivo algum dos 26 oficialmente desaparecidos – duas pessoas tidas como sumidas foram encontradas hoje. O Ministério Público só aguarda o fim das buscas para exigir do governo mudanças na fiscalização de reservatórios como os de Fundão e Santarém.

 

 

Ruínas do subdistrito de Bento Rodrigues, que foi destruído após desmoronamento de barragens

Ruínas do subdistrito de Bento Rodrigues, que foi destruído após desmoronamento de barragens

O comandante-geral dos bombeiros de Minas, coronel Luiz Henrique Gualberto, afirmou neste domingo que um terceiro corpo foi localizado próximo da Barragem de Candonga, no município de Rio Doce, a 100 km de Mariana. Ainda não é possível saber, no entanto, se é uma vítima do acidente – o resgate ainda não pôde ser feito. Do mesmo modo, o coronel disse que não se pode afirmar que o corpo encontrado no sábado na mesma localidade tenha relação com a tragédia.

Assim, o Estado recuou da informação divulgada anteriormente. “Desconsiderem o que colocamos no twitter”, disse Gualberto. O comandante explicou que só após a identificação dos mortos será possível chegar a uma conclusão.

Conforme o delegado regional da Polícia Civil de Ouro Preto, Rodrigo Bustamante, já foram recolhidos material genético e impressões digitais para identificação em Mariana. “Os resultados serão comparados com material genético dos familiares dos 26 desaparecidos, que ainda será colhido. Por enquanto, a única vítima confirmada da tragédia é Claudio Fiuza, de 40 anos, funcionário da Samarco. Entre os desaparecidos há cinco crianças.

Buscas. O trabalho de buscas prossegue com 7 helicópteros e 13 equipes de salvamento, que atuam por terra. O foco é o distrito de Bento Rodrigues, o mais atingido, onde 500 famílias estão desalojadas.

Na manhã de hoje, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), sobrevoou a região e afirmou que a prioridade é o trabalho de resgate, mas reconheceu ser muito difícil encontrar sobreviventes, especialmente os 13 funcionários da Samarco que trabalhavam perto do local onde ocorreu o rompimento. “A esperança diminui na medida em que o tempo vai passando”, disse o governador.

Segundo ele, ainda não houve pedido de verbas ao Estado para ajudar na recuperação de Mariana. Com relação a recursos federais, também não foram anunciados novos valores: a ministra dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, visitou desabrigados e informou que o atendimento atual é “correto”.

Causas e MP. Pimentel afirmou também que as causas do rompimento das barragens continuam desconhecidas, mas considerou que fez falta um alarme sonoro para avisar os moradores do risco que corriam. “Essa é uma medida que pode ser estudada.”

O Ministério Público Estadual de Minas só aguarda o término das buscas por desaparecidos para pressionar o Estado a alterar o sistema de concessão de licenças ambientais. A informação é do coordenador de Meio Ambiente do MPE, promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto. Uma das mudanças a serem cobradas é que o monitoramento das barragens não seja mais feito pelas empresas. “É fundamental também que medidas como as que preveem planos de evacuação sejam mais bem definidas e cobradas”, disse.

O Ministério Público ainda deve questionar o fato de barragens como as da Samarco serem construídas nas proximidades de comunidades. Mas, para que a legislação ambiental seja alterada, será preciso agir via Assembleia Legislativa. Conforme afirma o ambientalista Apolo Heringer, esse é o principal entrave na mudança.

De acordo com ele, os conselhos ambientais atualmente são dominados pelo poder público (Estado e prefeituras) e empresas. “Os mais democráticos, que são os comitês de bacia, têm 30% de integrantes da sociedade”, diz. Segundo Apolo, normalmente, a pauta das reuniões é enviada aos conselhos com uma semana de antecedência. “Não dá nem para saber se o que está ali é do jeito que realmente é. Esse modelo está esgotado.” / COLABOROU LEONARDO AUGUSTO, ESPECIAL PARA O ESTADO

 

BOMBEIROS BUSCAM DESAPARECIDOS EM MARIANA - MG

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MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO

Bombeiros em Bento Rodrigues - MG>

Bombeiros retomaram na manhã deste domingo, dia 8, as buscas pelos desaparecidos de Mariana (MG), que teve seis distritos atingidos pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco na tarde de quinta-feira