Valor econômico, v. 16, n. 3921, 13/01/2016. Brasil, p. A2

Acidente em Mariana afeta setor extrativo e produção mostra forte recuo em MG e ES

Robson Sales

O rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana (MG), derrubou o resultado da indústria extrativa em novembro, que teve queda de 10,9% ante outubro, e puxou para baixo a produção industrial no Espírito Santo (-11,1%) e em Minas Gerais (-4%). Os dois Estados ficaram entre os três piores resultados no mês, segundo a Pesquisa Industrial Regional (PIM Regional) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Ceará, a produção recuou 4,5%.

A atividade extrativa representa cerca de 80% do parque industrial do Espírito Santo e, devido à dependência desse segmento, o Estado sentiu a queda da produção de minério, avalia Rodrigo Lobo, economista do IBGE. Em Minas Gerais, a indústria extrativa responde por 23% do setor. O IBGE admite que o acidente ambiental continuará a provocar reflexos na produção extrativa nos próximos meses.

Mesmo antes do acidente ambiental, Minas Gerais já vinha sofrendo com recuo na atividade - entre setembro e novembro, a retração foi de 6,7%. No Espírito Santo, houve queda de 6,4% em outubro. "O resultado mostra um certo desgaste, mas ainda é a única atividade com resultado positivo", destacou o pesquisador do IBGE.

"Em novembro, em particular, há uma acentuação da desaceleração", afirma Lobo. No acumulado entre janeiro e novembro, o setor extrativo teve alta de 4,7%. É a única atividade no azul entre todas as pesquisadas pelo IBGE. Entre outubro e novembro, a produção industrial em todo o país recuou 2,4%. Ao todo, 09 dos 14 locais pesquisados apresentaram queda no período - 5 deles acima da média nacional.

A queda de 2,6% na atividade em São Paulo foi provocada, principalmente, por três motivos, segundo Lobo: a greve dos petroleiros, que afetou a atividade de refino; a produção de alimentos, que sofreu com o recuo do açúcar e do álcool; além da fraca atividade no setor de veículos, que apresenta resultados negativos desde março de 2014.

A produção industrial em São Paulo recuou 13,3% em novembro de 2015, no confronto com igual mês de 2014. A queda generalizada derrubou 15 das 18 atividades pesquisadas e reforçou o tombo da indústria automotiva. O recuo de 32,3% do setor exerceu a principal influência negativa sobre o setor no Estado - já são 21 resultados negativos seguidos nesse tipo de comparação. A indústria paulista soma queda de 10,9% nos primeiro 11 meses do ano. Segundo o IBGE, 13 dos 15 locais pesquisados diminuíram a produção em novembro, ante igual mês de 2014.

Os dados da PIM Regional mostram uma desaceleração contínua da indústria nos Estados pesquisados. Em termos regionais, 12 dos 15 locais pesquisados mostraram taxas negativas em novembro de 2015 e também 12 apontaram menor dinamismo frente ao índice de outubro.

Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os setores mais afetados no são os de bens de consumo duráveis e de bens capital, mas "o problema não se encontra apenas em regiões relativamente especializadas em setores com forte contração", segundo relatório do instituto.

"Os dados mostram que o tombo da indústria no ano passado não poupou quase ninguém. Sofreram praticamente todos os setores em todas as regiões", afirma o Iedi.