O globo, n. 30070, 05/12/2015. Economia, p. 23

‘Estamos em processo de desinvestimento’

 

BRUNO ROSA

Em reestruturação, o BTG vai encolher para enfrentar a maior crise de sua história. Sob o comando de Persio Arida, o banco já iniciou a venda de participações em uma série de empresas. Segundo ele, os compradores estão ‘batendo à porta’

“De um lado, esse processo não acaba do dia para a noite; de outro lado, o banco tem uma agilidade muito grande nos seus negócios, o que faz com que o término desse processo seja muito mais rápido do que as pessoas esperam”

O BTG Pactual vai se desfazer da maior parte dos negócios não financeiros do grupo, diz o novo presidente, Persio Arida, em entrevista a BRUNO ROSA. A crise que assola o BTG Pactual desde a prisão de seu então controlador, André Esteves, há duas semanas, exigiu de seu novo presidente, Persio Arida, um dos idealizadores do Plano Real e expresidente do Banco Central (BC), uma mudança de estratégia. A instituição, que a partir do governo Lula registrou crescimento expressivo em participações em empresas, busca se desfazer de ativos considerados não essenciais para voltar a se concentrar apenas em atividades “próprias de uma instituição financeira”. Além disso, o banco passará por investigação independente para apurar se ocorreram irregularidades.

Qual é o plano do BTG para enfrentar o atual momento?

Estamos em processo de desinvestimento de vários de nossos ativos que não são essenciais à atividade bancária ou que, de certa forma, podem ser apartados sem nenhum efeito maior sobre a atividade bancária aqui no Brasil. Esses processos estão em curso. A Rede D’Or foi só a primeira (venda). Vários outros anúncios serão feitos. Há muitos interessados nos ativos porque a qualidade é boa. Os compradores estão naturalmente batendo à porta. Não precisei procurar. Os compradores já apareceram. Mas o que são atividades essenciais? Se disser isso, você sabe o que está à venda. O que posso dizer é o conceito que estamos usando na nossa estratégia. Diria que atividades essenciais do banco... O banco é instituição financeira. São atividades próprias de uma instituição financeira. Como está a reestruturação? Primeiro foi a aprovação pelo Banco Central da mudança do controle da instituição, que passa a ser exercida pelos sete maiores sócios da companhia holding .A segunda informação é referente à linha do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Resolvemos tomar a linha por razão puramente prudencial. Estamos administrando a liquidez e o caixa do banco da forma mais prudente possível. Nossa obrigação é ter um colchão de liquidez que nos deixe muito confortáveis. A linha pode ser sacada a qualquer momento. O terceiro ponto é a investigação independente conduzida por membros independentes do board (conselho) sobre quaisquer alegações que tenham sido feitas ou supostamente feitas a respeito do BTG. Esse grupo vai contratar um escritório de advocacia internacional. A venda do banco suíço BSI procede? Não quero falar sobre nada. Como o boato está muito difundido, se eu desmentir tem efeito; se eu confirmar tem efeito.

Preocupa o rebaixamento das agências de classificação de risco?

Se você perguntar se elas tiveram razões substantivas para fazer esse movimento, provavelmente não. Mas, quando a agência de rating percebe mudança no acionista controlador e a insegurança em vários investidores que sacam os fundos, naturalmente a qualidade de risco, percebida pela agência e pelo mercado, mudou. O BTG corre o risco de quebrar? O banco é sólido. A pergunta que cabe não é essa. É outra: qual será o desenho do banco quando a situação se normalizar? É cedo para dizer. Evidentemente será um banco com o mesmo patrimônio, mas com quantidade de negócios substancialmente reduzida porque estamos vendendo várias partes do negócio. Um banco de natureza diferente, mas não do ponto de vista patrimonial, mas, do ponto de vista do tamanho do banco, como inserção no mundo de negócios, será menor, inclusive porque várias vendas estão sendo feitas a preços muito atrativos. Quem são os compradores? Se você observar, independentemente do BTG, foram feitas várias transações de aquisição no Brasil. E claramente tem uma predominância dos investidores estrangeiros. O câmbio depreciou e para esse investidor ficou muito mais barato. E o fato de os preços terem caído muito, como no setor imobiliário, torna os preços em dólares muito atrativos.

Esse período de instabilidade no BTG vai durar quanto tempo?

É impossível falar do futuro. A minha experiência aqui é a seguinte: de um lado, esse processo não acaba do dia para a noite; de outro lado, o banco tem uma agilidade muito grande nos seus negócios, o que faz com que o término desse processo seja muito mais rápido do que as pessoas esperam.

O cenário atual pode afetar o futuro da Sete Brasil (O BTG é acionista)?

Os infortúnios da Sete são de conhecimento público. Nós já fizemos, como outras entidades financeiras, marcações no balanço, declarando perda. Parte preponderante já está marcada como prejuízo. Enfim, é o que se pode imaginar de um projeto que até agora se afigura como mal-sucedido. Mas o projeto vai sair? Vou pedir desculpas a você, mas meu tempo infelizmente acabou.