MIT premia dez projetos brasileiros

Jacilio Saraiva 

18/12/2015

Um sistema que gerencia o fluxo de materiais recicláveis para cooperativas de coleta e um aplicativo de tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). As duas ideias estão entre os dez projetos vencedores da edição brasileira do prêmio Inovadores com Menos de 35 Anos, da revista MIT Technology Review, anunciados no mês passado. A publicação pertence ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e o reconhecimento é considerado uma referência mundial na descoberta de talentos que usam a tecnologia para resolver problemas sociais. As premiações na América Latina são apoiadas por instituições como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Finep Inovação e Pesquisa.

A ideia do empreendedor Ronaldo Tenório, CEO da alagoana Hand Talk, é oferecer uma solução digital gratuita que traduz áudios e textos do português para a Libras. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem quase dez milhões de pessoas com algum tipo de problema auditivo. "O aplicativo tem mais de 600 mil downloads e há 2,4 mil sites que ficaram acessíveis com a tecnologia", diz Tenório, que conquistou clientes como a operadora TIM e o Comitê Olímpico do Brasil. Por meio de parceria com o Ministério da Educação (MEC) também está presente na rede pública de ensino, para facilitar a comunicação entre professores e alunos surdos. O sistema usa um intérprete virtual, que ganhou a forma de um boneco em 3D, batizado de Hugo.

Para faturar, a empresa cobra uma assinatura mensal de R$ 49 sobre serviços, como a "tradução" de sites. Já recebeu apoio de R$ 400 mil da Finep e investimentos da associação Anjos do Brasil. Em 2013, o software foi eleito, entre mais de 15 mil aplicativos de 100 países, o melhor app social do mundo no World Summit Award Mobile, concurso da Organização das Nações Unidas (ONU). "No primeiro semestre de 2016, vamos internacionalizar o negócio e atuar nos Estados Unidos."

Na NewHope Ecotech, o carro-chefe é um sistema de gestão do fluxo de materiais recicláveis para ferros-velhos, cooperativas e operadoras de coleta. "Estamos desenvolvendo um aplicativo para conectar os geradores de resíduos com os coletores", diz Mateus Mendonça, co-fundador da empresa, que também criou uma plataforma de controle de indicadores para grupos de catadores.

A empresa foi criada em 2014, a partir de um curso de inovação na Kellogg School of Management, nos Estados Unidos. No Brasil, já conquistou a Ambev, do ramo de bebidas, como cliente. "Temos cerca de dez contratos em negociação", diz Mendonça.

O plano do empresário é faturar com a cobrança de mensalidades de plataformas que gerenciam materiais recicláveis e a partir de taxas sobre as transações de recursos feitas pelas empresas da cadeia de logística reversa. "Estamos procurando investidores preocupados com impactos sociais e ambientais", afirma.

Receber aportes externos também está no radar de Anielle Guedes, fundadora da Urban3D, de tecnologias de automação e impressão 3D para a construção civil. "A empresa está na primeira rodada de investimentos, necessários para a operação nos próximos 18 meses, e para bancar a primeira versão dos produtos", diz ela, sem revelar valores.

A Urban3D começou como um projeto de estudo na Singularity University, centro de pesquisa da Nasa, nos Estados Unidos. "A ideia é ajudar a resolver a demanda por habitação, com moradias e infraestrutura de baixo custo e alta qualidade", explica Anielle, que tem dois clientes que preferem permanecer em sigilo. Ela garante que a solução permite uma economia de custos de mais de 50% nas obras, com um prazo de construção cinco vezes mais rápido do que os métodos tradicionais. "O sistema produz peças de concreto em tamanhos pequenos, como itens para fachadas, e também unidades estruturais, como lajes e paredes."

Na Guten, fundada no ano passado, o objetivo é entregar produtos educacionais para o ensino fundamental. A empresa tem duas soluções no portfólio, segundo a fundadora Danielle Brants. Um aplicativo direcionado para crianças de oito a 12 anos fornece notícias e jogos de leitura que avaliam habilidades envolvidas na compreensão de textos. "Por meio de games, motivamos os alunos a lerem artigos, ampliando o repertório cultural", diz. Há, ainda, uma ferramenta que fornece relatórios aos professores, para que possam intervir, de forma personalizada, com as turmas.

A companhia tem uma base de clientes com 30 escolas, com cerca de 4,5 mil alunos ativos. A receita vem de contratos anuais com as instituições e deve ganhar escala. Danielle afirma que os educadores estão à procura de novas soluções de aprendizagem. Segundo a empresária, menos de 50% dos jovens brasileiros atingem o nível de proficiência básica em testes globais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que reúne 70 países. Na última edição da prova com resultados divulgados (2012), o Brasil ficou em 55º lugar em leitura.

Em julho, a Guten recebeu investimento do fundo americano Omidyar Network e da aceleradora brasileira Artemísia. Um mês depois, foi selecionada pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) para receber apoio financeiro. No próximo ano, a meta é expandir a atuação para outros Estados, além de São Paulo.

Os outros vencedores do prêmio são autores de projetos como um implante para tratar doenças da córnea, uma tecnologia que promete eliminar as filas nas lojas e um aplicativo que facilita o aprendizado da música. Há softwares que fiscalizam eleições e fazem diagnósticos de problemas cardíacos.

Valor econômico, v. 16 , n. 3907, 18/12/2015. Especial, p. G15