Título: Alunos de educação física protestam
Autor: Krause, Sofia; Silva, Bruno
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2011, Cidades, p. 21

Cerca de 200 alunos do curso de educação física da Universidade de Brasília (UnB) fizeram ontem um protesto no prédio da reitoria. Os manifestantes cobram uma solução para o impasse gerado pela defasagem do atual currículo do curso, que impede os estudantes de trabalhar em academias de ginástica ou como personal trainers ¿ dois dos principais segmentos desse mercado. Isso porque, em 2005, o Ministério da Educação determinou a divisão do curso de educação física em duas modalidades: licenciatura e bacharelado. Como a UnB ainda não se adequou à regra, oferece apenas a primeira opção, o que restringe o campo de atuação dos formandos.

Cumprindo a decisão do MEC, o Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região ¿ Distrito Federal (Cref 7) autoriza que os profissionais diplomados pela UnB atuem apenas no ensino regular. Ontem, os alunos fizeram uma solicitação formal ao reitor José Geraldo de Sousa Júnior ¿ que estava ausente durante o protesto ¿ para que a instituição analise a reforma curricular o mais brevemente possível. Além disso, eles solicitaram apoio da universidade para questionar a determinação do conselho da categoria. De acordo com o presidente do centro acadêmico do curso, Diogo Diógenes Cintra, a intenção do protesto é garantir o direito de trabalhar. "A UnB só nos enrolou até agora. Vários colegas precisaram entrar na Justiça e gastar dinheiro com advogados para poder exercer a profissão", reclama.

O termo foi assinado pelo chefe de gabinete da reitoria, Davi Monteiro Diniz; o diretor da Faculdade de Educação Física, Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende, por um representante do Centro Acadêmico de Educação Física e outro do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Recém-formada, Cristiane Ramires conta que teve de contratar um advogado para conseguir a licença. "Gastei R$ 5 mil e fiquei dois meses fora do mercado", lembra. "Eu já estagiava há três anos com a permissão do Conselho Regional de Educação Física. Mas, quando fui tirar o meu registro profissional, acabei barrada. É abuso de poder", desabafa.

Caito Nohara vive o mesmo drama. Ele se formou no primeiro semestre de 2011, mas teve de apelar à Justiça para poder trabalhar. "Felizmente, as academias são esclarecidas em relação ao assunto e sempre me apoiaram. Disseram para eu tomar as medidas legais e garantiram que as portas estavam abertas para mim", lembra.

Registros diferentes O diretor administrativo do conselho regional, Arlindo Pimental, confirma a existência do impasse. Ele diz que o conselho cumpre as normas estabelecidas pelo Ministério da Educação. "Das faculdades do Distrito Federal, apenas a UnB não se adaptou à exigência. Em janeiro, nos reunimos com o diretor do curso, antecipando o problema, mas nada foi feito", ressalta. No entanto, ele concorda com a posição dos alunos, destacando que "é interesse dos consumidores que os profissionais possam trabalhar".

O presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef), Joge Steinhilber, defende as sanções do conselho. "O conselho apenas habilita em função da formação profissional. Se a faculdade está formando um aluno em licenciatura, nós o habilitaremos como professor de educação básica. Do mesmo modo, o bacharel não pode atuar em escolas, pois não tem o conhecimento para trabalhar com crianças", explica.

Segundo Steinhilber, a distinção de registros para licenciatura e bacharelado é fundamental. "Para que se possa trabalhar com competência em uma academia, por exemplo, é preciso ter um conhecimento diferente do que se aprende na licenciatura. Não posso colocar na mão de um licenciado, que aprendeu a trabalhar com crianças, um idoso ou uma gestante, que precisam de cuidados específicos. São conhecimentos diferentes." Ontem, foi comemorado o Dia do Profissional de Educação Física.