Energia eólica no NE deve ter investimento de R$ 54 bi até 2019

Marina Falcão 

03/12/2015

Com investimento mínimo estimado em R$ 54 bilhões, a região Nordeste deve ter seu mapa eólico alterado até 2019. A Bahia, que tem a segunda maior capacidade instalada de produção de energia partir do ventos, deve assumir a dianteira do setor ultrapassando o atual líder Rio Grande do Norte. Os investimentos já contratados no Estado para os próximos quatro anos somam R$ 13,7 bilhões.

No mais recente leilão de energia de reserva realizado pelo governo federal, a Bahia ficou com R$ 2,2 bilhões em empreendimentos de energia eólica (além de mais R$ 687 milhões em solar). O Estado, sozinho, levou 90% da potência comercializada ficando com 24 dos 53 empreendimentos vencedores do leilão. Entre as empresas, estão a EDP Renováveis, a Rio Energy, o consórcio VBD e espanhola Gestamp.

A Bahia tem atualmente 42 usinas em operação. A energia eólica produzida no Estado representa 11,72% da sua matriz elétrica, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, e evitou adoção de racionamento de energia durante a crise hídrica que deixou o nível do reservatório de Sobradinho abaixo do volume morto.

A partir de 2019, com os 230 projetos contratados em operação, a capacidade eólica alcançará 61% da matriz elétrica da Bahia. Em quatro anos, o Estado contará com 32% da capacidade total instalada nos dez Estados que produzem energia eólica atualmente.

Além de possuir vocação natural para a produção de energia eólica, o Estado da Bahia adotou políticas públicas para atrair e consolidar o setor nos últimos anos. Entre elas, a criação da Comissão Técnica de Garantia Ambiental para acelerar os processos ambientais e reduzir os entraves para liberação das licenças de operação dos parques.

Ao mesmo tempo, o Estado oferece uma gama de incentivos fiscais que incidem sobre a cadeia eólica, como suspensão de PIS/Cofins para operações específicas - vinculadas a projetos aprovados e habilitados - e isenção do ICMS nas operações com equipamentos e componentes para o aproveitamento das energias solar e eólica.

O dinamismo do setor é grande desde que começaram os leilões de eólicas em 2009, principalmente no Nordeste, afirma Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Nos últimos três anos, o Ceará perdeu o posto de líder para o Rio Grande do Norte, segundo a entidade. "Com os próximos leilões, e novos parques sendo inaugurados, o ranking atual pode mudar", diz.

Para Elbia, o modelo brasileiro precisa contratar pelos menos 5 GW por ano de energia, independentemente do crescimento da economia. "Há uma tendência de crescimento da participação de eólicas nos leilões, porque há ainda um potencial inexplorado grande na região Nordeste", afirma.

Em média, de acordo com a Abeeólica, a energia eólica representa 30% da carga total do Nordeste, mas como Sobradinho está com capacidade no mínimo, ela tem batido sucessivos recordes. Em 2 de novembro, chegou a 45% da carga total no Nordeste e 10% da carga total nacional.

O Brasil tem 5,8% da matriz elétrica composta por eólica e 61,1% por energia hidrelétrica. O restante se divide entre biomassa, PCH, gás natural, óleo, carvão e nuclear. Os primeiros projetos de eólica instalados no litoral do Nordeste beneficiaram principalmente os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.

As mais recentes medições indicam potencial nos interior dos Estados, em áreas mais altas, o que insere Piauí e Pernambuco no mapa eólico do país, respectivamente em quinto e sexto lugares no ranking de capacidade instalada, segundo a Abeeólica.

Para dar um salto no setor, Pernambuco vai lançar um atlas para investidores em energia eólica, indicando as áreas de maior potencial. "As informações cruzam com as áreas de restrição ambiental para facilitar a vida do investidor", explica Tiago Norões, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado.

O governo do Piauí também está investindo na elaboração de um mapa eólico e solar do Estado em parceria com as universidades locais. Segundo Luís Coelho, secretário de Mineração e Energias Renováveis do Estado, a construção de várias subestações e linhas de transmissão nos últimos anos tem tornado o Estado bastante competitivo para os investidores. "A energia eólica produzida no Piauí permite o menor uso das termelétricas no período de estiagem, evitando tarifas mais altas", diz.

Segundo dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), a geração de energia eólica no Nordeste de janeiro a outubro cresceu 125% em relação ao mesmo período do ano passado. Na mesma comparação, a geração de energia hidrelétrica na região caiu 10,2% e a energia térmica convencional recuou 7,23%.

Valor econômico, v. 16 , n. 3896, 03/12/2015. Brasil, p. A3