Calor ajuda cervejarias e produção volta a crescer

Cibelle Bouças e Tatiane Bortolozi 

02/10/2015

O calor acima do normal no inverno e no início da primavera deste ano ajudaram as cervejarias, após um primeiro semestre de vendas difíceis para o setor. De acordo com dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) da Receita Federal, a produção de cerveja no país no terceiro trimestre totalizou 3,28 bilhões de litros, volume 4% superior ao registrado no mesmo período de 2014.

A produção de refrigerantes, teve queda de 6,7% no terceiro trimestre, para 3,48 bilhões de litros. No mês de setembro, a produção de cerveja subiu 13,6%, para 1,2 bilhão de litros, e a de refrigerantes caiu 2,8%, para 1,2 bilhão de litros.

As indústrias haviam reduzido o ritmo de produção desde o terceiro trimestre do ano passado, seguindo uma tendência de retração do consumo no mercado brasileiro. A partir de agosto, as cervejarias voltaram a ampliar o volume de produção, para formar estoques que vão atender o varejo, bares e restaurantes no período de verão. A melhora no resultado do terceiro trimestre, no entanto, não significa uma recuperação completa do segmento. Para o ano, as previsões de analistas ainda são de uma queda da ordem de 2%. No acumulado de janeiro a setembro, a produção de cerveja apresenta recuo de 3,74%. A produção de refrigerantes recua 5,9% no ano.

Outro ponto de atenção é a dificuldade que as cervejarias encontram para repassar o aumento nos custos produtivos para os preços do varejo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) apontou uma deflação na cerveja de 0,65% em setembro, ante uma inflação geral de 0,39%. No acumulado do ano, a inflação da cerveja é de 0,67%, ante um índice geral de 7,78%.

A Ambev, que na primeira metade do ano manteve sua participação de mercado de 68,5%, tende a refletir o desempenho do mercado em seus resultados do terceiro trimestre, que serão divulgados no dia 30 de outubro. No segundo trimestre, a companhia registrou queda de 7,9% no volume de vendas no Brasil - em linha com a média do mercado, e ganho de 3,9% na receita, para R$ 5,46 bilhões. O lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda ajustado) avançou 8,8%, para R$ 2,55 bilhões.

A empresa já havia informado que esperava um desempenho mais forte a partir do terceiro trimestre, graças a um aumento no volume de vendas e melhora na gestão do seu portfólio de marcas, principalmente as de maior valor agregado.

As vendas no Brasil responderam por 55,1% da receita da Ambev no segundo trimestre, ante 64,3% em igual intervalo do ano passado. A queda na fatia brasileira foi compensada por um desempenho mais forte da companhia em outros países da América Latina. A recuperação do mercado brasileiro pode contribuir para um resultado mais positivo da empresa no intervalo de julho a setembro.

A Ambev também pode ser favorecida indiretamente pelo fechamento do capital da Souza Cruz, com a migração de investidores. Também está no radar dos aplicadores a decisão da companhia de bebidas, anunciada no fim de agosto, de recomprar ações no limite de até 60 milhões de papéis (ou 1,4% do total em circulação no mercado).

Em outra esfera, a negociação entre a Anheuser-Busch InBev (AB InBev) e a SABMiller, anunciada em meados de setembro, ainda gera dúvidas entre os especialistas. A expectativa é que os ativos da SABMiller na América Latina sejam absorvidos pela Ambev, se a operação for levada a cabo. A união, com inclusão da Ambev no negócio, poderia dar à companhia brasileira o domínio em mercados nos quais não tem forte participação, como Colômbia e Peru. Por outro lado, a junção dos negócios pode reduzir a rentabilidade da empresa, considerando que as margens de lucro da SABMiller são menores.

Os rumores sobre o futuro da empresa ajudaram a elevar as cotações da Ambev na BM&FBovespa, que vinham sofrendo recentemente, como outras companhias, os efeitos da crise econômica e política brasileira e do rebaixamento da nota de risco do Brasil pela Standard & Poor's (S&P). Em setembro, os papéis da Ambev acumularam alta de 2,51%, após terem registrado desvalorização de 1,9% em agosto. No acumulado do ano, os ativos têm alta de 24,24%. Ontem, Ambev fechou em alta de 1,44%, cotada a R$ 19,70.

Valor econômico, v. 16 , n. 3854, 02/10/2015. Brasil, p. B7